SEM CONTRA-BAIXO NÃO DÁ!
Leio uma matéria onde se diz que a música feita hoje não tem contra-baixo. Na mixagem atual o som do baixo é eliminado. Agudos em volume ao máximo e sons graves mal definidos, é esse o timbre dos anos 2020. Waaaaaaallllll ( esse Waaaaalllll eu roubei do Paulo Francis ), eu ouvia hoje uma faixa maravilhosa do Wheater Report pré Pastorius, era Miroslav Vituous no baixo. A coisa é um frenesi erótico. E nessa hora percebi algo bem óbvio ( o óbvio demora para ser percebido ): toda música boa tem um som de baixo sublime. E provo: Beatles. Sim, Beatles. Repare. Tudo é guiado e embelezado por Paul. Abbey Road pode ser chamado de uma obra prima do contra baixo. Rolling Stones. Note o som do baixo em Jumpin Jack Flash, Gimmie Shelter, Under My Thumb, todos os clássicos. Não vou falar da música negra, eles sabem do valor do baixo. Eles sabem que o som do baixo não entra pelo ouvido, ele entra pelo umbigo, vem do chão e sobe para dentro do seu corpo. Mas veja Led Zeppelin. Deep Purple. As linhas de baixo do Iron Maiden. O modo como Bowie usou o baixo nas suas mais modernas canções. Os grandes baixistas do progressivo. Cream. E mesmo um grupo sem um baixista, como os Doors, tinham um som grave que era o que levava tudo adiante. No começo da década de 80 os baixos pulsavam influenciados pela disco music e pelo reggae. Mesmo que esse baixo fosse um teclado. E nos anos 90 Flea dos Chilli Peppers deu a dica: o baixo era o rei. Nas raves o que levantava o povo era o momento em que o som grave ficava em looping infinito. Uma festa para umbigos e outras partes íntimas. ---------------------------- Mas de repente, mais ou menos em 2010, isso mudou. O som baixado em phones não comportava o grave e se apostou nos agudos e nos sons de lata. A música virou uma sopa de sons compactados em alto volume. O estéreo morreu. A alta definição, cada timbre limpo em seu canto não fazia mais sentido: para que ficar dias mixando uma faixa se ninguém vai prestar atenção? E súbito desabou. A música se tornou uma voz e uma massa de som. E só isso. ------------------ Stanley Clarke toca agora em meu quarto e eu me balanço sem saber. É o contra baixo que me toma pela barriga. E eu deixo ir.