MINHA QUERIDA SPUTNIK - HARUKI MURAKAMI

1. A língua. Leio muitos livros da literatura japonesa atual. E, apesar de Murakami ser o mais famoso, este é apenas o primeiro livro dele que leio. Me surpreendo com a linguagem. Ele também tem o estilo dos outros que já li. Como posso o definir? Leve? Conciso? Nada verborrágico? Simples ao extremo? Não há descrições violentas. Não há febre. As frases parecem educadas. Estranho...então penso que isso é a língua. Que, mesmo em tradução, toda literatura francesa tende ao verborrágico, porque essa é uma característica da língua francesa. Assim como livros americanos parecem sempre rápidos e agressivos e a literatura alemã é discritiva. A língua é a característica de uma cultura, são duas coisas que se fazem uma. 2. Enredo. Nessa linguagem simples, concisa, Murakami conta a história de três pessoas. Uma menina de 22 anos que se veste mal, quer ser escritora e tem um amigo. O amigo é um professor que na verdade é apaixonado por ela. Mas nada diz. Ela liga pra ele sempre, de um telefone público, de madrugada. Então ela se apaixona por uma mulher que negocia vinhos. E vai trabalhar com essa mulher. Ela muda. Se veste bem agora. A mulher, a negociante de vinhos, é fria, elegante, bela, não é lésbica. 3. Então a coisa acontece. Todos terminam na Grécia. E Murakami, magicamente, transforma aquilo que era uma bela história japonesa sobre o amor, em uma aterrorizante e simbólica história de transfromação. Um dos três desaparece sem deixar vestígios. Um outro sofre uma divisão em dois. E um terceiro personagem cai dentro do espelho. 4. Murakami cita muitos ícones da cultura POP, Marc Bolan do T.Rex por exemplo. Se fala muito de música clássica. E o sumiço na ilha grega remete ao filme A Aventura, de Antonioni ( alguém notou isso? ). 5. Há um espelho e nele há um outro voce. Esse outro é voce mas não é voce. E sim, voce pode se perder lá dentro. 6. A cena no parque de diversões grego é uma das coisas mais fantásticas que li na vida. 7. O final do livro, em aberto, cortou meu coração. 8. Murakami é um grande escritor. 9. Eu amo a menina do livro. Sem número. Nos anos 80 eu estive um dia, uma semana, um mês?, perdido de mim mesmo. Como se eu fosse outro. Eu queria voltar a ser eu e não conseguia. Eu não queria ser esse outro. O livro fala disso. 10. Para quem o ler: acho que ela nunca voltou.