NUVENS DE PÁSSAROS BRANCOS - YASUNARI KAWABATA

    Mais um Kawabata, este o mais curto romance que li até agora. Presente nele o estilo simples e objetivo do mestre. Um jovem vai à uma cerimônia de chá. Lá estão presentes duas das amantes de seu pai já falecido. Deverei contar o resto? Melhor não.
   Mulheres conduzem a história. Em Kawabata o ponto de vista é do homem, mas esse personagem masculino é sempre passivo. Ele vê. Ele sofre a ação. Mas são as mulheres que movem a história. E que mulheres! Kawabata é o mais sensual dos autores. Em poucas palavras vemos e gostamos de suas jovens mulheres. Há nele um certo desprazer pela idade. Algo de grotesco em toda personagem idosa. Já em relação às jovens há sempre o amor pela flor e pela estação do ano. Isso me leva a pensar que Kawabata ainda é editado por ser japonês. Entenda, eu amo Kawabata e sempre leio tudo dele que encontro, mas é o tipo de literatura fora de moda. Penso que por ser "de outra cultura" o beneficia. É bacana ler um japonês. Como é bacana ler um turco ou um finlandês.
  Me irritei muito com a passividade do personagem central. Ele não age. Se deixa levar. Quando resolve sair da letargia já é tarde demais. Kawabata, jamais um autor comprometido com o velho Japão de antes da guerra, não deixa de espelhar o mundo da gueixa. A mulher como o ser que faz, que serve, que se dá. E o homem como o senhor que espera ser servido. Senhor gentil, mas sempre um senhor. A tara do Japão pós moderno por mulheres de rosto infantil revela muito isso.
  É o menos bom dos livros desse autor. Mas isso não é pouco.