UM FILME RUIM ( KISS ME STUPID! DE BILLY WILDER )

Kiss me Stupid!, filme de Billy Wilder de 1964, é um péssimo filme. desagradável, antipático, feio, infeliz. Tudo dá errado nessa comédia que está muito mais próxima de um filme de horror. É um pesadelo de feiúra e um compêndio de mal gosto. E de gosto mau. ----------------- Dos grandes diretores, Wilder é um dos que mais tenho problemas. Eu adoro alguns de seus filmes, mas ao mesmo tempo ele tem vários que me parecem desagradáveis, deselegantes, quando não, tolos. Sim, eu ouso dizer ser ele tolo. Propositalmente tolo. --------------- Wilder cresceu e começou a ser adulto na Viena dos anos 1920 e lá ele trabalhou em bordeis e boates. Há em seus filmes muito desse ambiente. Putas de bom coração, decoração de exagero, notas de melancolia, humor grosso, travestismo, sexo às toneladas, melodrama, piadas de banheiro, sarcasmo. Esses ingredientes dão certo às vezes, mas quando não, a coisa se torna uma mistura de melado e de vodka, de repolho com café que faz enjoar. ---------------- Este filme deu errado já na pré produção. Peter Sellers, vindo dos dois primeiros filmes do inspetor Clouseau, deveria ser o ator principal. Fico imaginando como seria o filme com ele. Sellers, um gênio, como ele o demonstrou em Dr. Fantástico, no papel de Orville, um pobre professor de piano perdido numa cidadezinha do oeste americano. Orville tem uma linda esposa, feita pela estonteante Felicia Farr, e ele é ciumento, doentiamente ciumento ( algo lembra a obra prima de Sturges, Perdoa-me por me Traíres, mas é só por um minuto ). então surge na cidade um cantor famoso, bêbado e mulherengo, e esse astro quer transar com a esposa de Orville. -------------------- Peter Sellers teve um ataque cardíaco às vésperas da filmagem e a produção chamou Ray Walston para o substituir. Quem? Walston, que fazia na TV, Meu Marciano Favorito. Ou seja, substituíram um ator genial por um comediante vulgar, desagradável, chato. Não havia como dar certo. 80% do filme tem Walston na tela. O que seria um prazer, fosse Sellers, se torna uma coisa esquisita, com Walston. Mas há ainda mais erros: o cantor famoso é feito por Dean Martin, um cara sempre simpático e que Wilder parece odiar. Ele o faz ser completamente odiável. Sentimos repulsa por aquele homem que transa com a esposa do painista na cara dele. O humilha. Mas há ainda a esposa. --------------- O amigo de Orville, um outro chato, tem uma ideia, se livrar da esposa por uma noite, contratar uma prostituta e deixar o cantor transar com a falsa esposa. O objetivo é fazer com que o cantor aceite gravar canções da dupla de compositores Orville e o amigo. Ou seja, eles vendem a esposa. -------------------- Kim Novak faz a prostituta que finge ser a esposa de Orville. E isso afunda ainda mais o filme. Metida numa roupa justa, quase feia ( um milagre fazer Kim parecer feia, mas Wilder fez Monroe parecer gorda em outro filme ), o papel da prostituta é tão triste que sentimos pena dela. O cantor a perta, apalpa, puxa, empurra, humilha. O que Wilder quis com isso? Não era para ser engraçado? É patético! ------------------ Por fim, o cantor acaba por transar com a esposa real, que bêbada passou a noite no bordel da cidade, e Orville se apaixona pela prostituta. Cômico? Não, agressivo. Tudo isso num cenário feio, tosco e numa embalagem de exagero cinzento que jamais faz rir e nem sequer chega a parecer leve. É pesado. Muito pesado. ---------------- Talvez Peter Sellers salvasse essa bagunça ácida, mas acho improvável. De qualquer modo ele daria duas ou três boas tirada de humor. Isso é certo. E ouvir sua voz é sempre uma delícia. Do jeito que está, e dizem que Wilder odiou Ray Walston e judiou dele, o que ficou é um péssimo filme. Veja para crer.