NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS - JOHN FORD. VOLTEI A VER FILMES...

Hoje é o dia, após 14 meses, volto a ver filmes. Várias circunstâncias me fizeram parar. Meu aparelho de DVD quebrou. E cinema me recuso a ir. Serviços de filmes na TV não me interessam assinar. E estive ocupado com amores, livros, música e muito trabalho. Wellll.... tenho, pela última vez que contei, mais de 2.500 dvds, qual seria o primeiro a rever? Entenda que eu adoro rever meus filmes. Vi tanto filme na vida que 90% deles é como ver pela primeira vez, e claro, há aqueles que sempre retorno, são como ouvir um LP que voce adora, não canso de rever. Penso então em começar pelo melhor, Hitchcock. Mas não seria melhor um dos Irmãos Marx? Pego um John Ford. Recomeçar pelo começo, pelo Homero do cinema, pelo criador da linguagem do cinema. Qual filme? Nenhum dos meus favoritos, NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS não está entre os que me emocionam e será um bom teste para ver se ainda amo o cinema como amei sempre. -------------------- Começa e estranho. Ficção visual. Fique mais de um ano sem ver nada, nem série, nem novelas, nem filmes, nada e sinta o choque. Durante uns 5 minutos eu fiquei meio a deriva. Estranho. Mas aos poucos fui pegando o ritmo. Audio visual é isso, um ritmo. Voce precisa entrar na dança das imagens. Começo a dar os passos certos. Entro no filme. ----------------- Um grupo de pessoas, que não se conhecem, tomam uma diligência para viajar. Mas os índios estão em guerra e a viagem é um risco. O filme, muito famoso, muito bem feito, tem as marcas típicas de Ford, imagens lindas e personagens imensos. Ford amava pessoas e as filmava com respeito. Quando vemos Ford temos que lembrar que se trata de um homem do século XIX. Em seu mundo não há a descrença na humanidade. Ele ainda tem raizes. Ele ainda crê em várias coisas, família, nação, virilidade, feminilidade, dever, progresso, civilização. -------------- John Wayne se tornou um astro aqui, ele é Ringo, um bandido. O close que Ford dá, assim que Ringo surge, é um presente dado a um amigo. Já se disse que a diligência é um símbolo da nação americana. Os USA em miniatura. Tem um irlandês bêbado que é médico e boa gente. Um banqueiro ladrão. Uma mãe correta. Um missionário que vende bebida alcoolica. Um cavalheiro sulista que é jogador. E no centro de tudo, um bandido que é heroi e uma prostituta expulsa da cidade. Para Ford, os herois da América são eles, os dois marginalizados de bom caráter. O mito do rebelde. ( Do jazz ao rocknroll, da pintura abstrata ao político outsider, tudo nos USA tem como foco essa imagem do cara fora do círculo que brilha como referência. ----------------- Eu havia esquecido que o filme termina com um duelo na cidade e que o fim lembra aquele de Casablanca. E eu esquecera também o prazer de ver um filme bem feito. Não, ele não é monumental como os grandes Ford. Mas é um ótimo filme. Voltei!