MINHA MOCIDADE- WINSTON SPENCER CHURCHILL

   Encontro este livro num sebo. Edição de 1941, tradução de Carlos Lacerda. Capa dura e uma lingua potuguesa que ainda chama "se" de "si". Espero que voces ainda saibam que Churchill foi o último grande politico inglês. Na primeira parte do livro o que ele mais diz é "o mundo mudou mais do que se poderia esperar". E é verdade.
   Churchill nasce no fim do ´seculo XIX e cresce no apogeu da confiança e do poder inglês. Se voce conheceu o pico do poder americano multiplique por dez e voce verá o que foi a Inglaterra de Vitória. Eles tinham a auto-confiança, o poder militar, a técnica, a vanguarda industrial que os EUA jamais tiveram de forma tão exagerada. Os EUA sempre foram inseguros, e sempre tiveram um rival a lhes cutucar. A Inglaterra não. De 1815 até 1914 foram cem anos de absoluto controle do mar, do comércio e das guerras. Tinham as melhores escolas, a mais desenvolvida democracia e colônias em todos os continentes. O mais importante: tinham a certeza de ser os representantes do bem e do futuro. Os EUA perto deles foram apenas aprendizes.
   Churchill nasce em berço importante. Seu pai foi ministro e sua familia era nobre desde os tempos de Elizabeth. Mas era uma familia "pobre" se comparada a outras de seu meio. A familia de Churchill tinha apenas 10 empregados. O jovem Winston se torna um militar. E isso por ter sido um péssimo aluno. O primeiro quarto do livro, que é o melhor, fala do jovem Winston na escola. Ele fala que a educação é anti-natural. Que crianças deveriam ser deixadas junto aos pais, trabalhando com eles, compartilhando de suas vidas. Só então, caso a criança demonstre interesse pelo estudo, curiosidade por algum fator da cultura, ela deveria ser conduzida a uma escola formal. Churchill seria primeiro- ministro duas vezes e diz que nunca saberia exatamente como implantar esse sistema. Mas o ensino como o conhecemos é absurdo.
   Churchill lançou este livro em 1930, quando estava próximo dos 50 anos. Nessa altura já lançara vários livros e futuramente seria um ganhador, justo, do Nobel de literatura. Seu livro é um bom livro de aventuras. Com um personagem central sincero e que revela para nós a mentalidade de um homem de seu tempo.
   Ele escreve uma bela homenagem aos jovens, diz que o mundo é deles, que eles devem tomá-lo, mudá-lo, roubá-lo dos mais velhos. O mundo é para eles.
   No texto abaixo falo sobre o resto do livro, sobre a guerra. Churchill escolhe ser soldado e jornalista. E lamenta a mudança que houve na guerra. Segundo ele, "antes ela era cruel e magnífica, agora ela é cruel e sórdida". Ela saiu da mão de soldados e profissionais da guerra, e foi para as mãos de burocratas, políticos e técnicos, gente que jamais esteve num campo de batalha.
   Ele vai a várias guerras, e corre entre gabinetes e quartéis pedindo para ser enviado a mais e mais batalhas. India, Sudão e principalmente África do Sul, onde ele luta contra os Boers.
   Sempre divertido, o livro não perde tempo com confidências. Ele é um homem de ação. Um filho que amava seu pai à distãncia e que tinha na mãe a melhor amiga.
   O que mais nos surpreende é imaginar que o Churchill maduro e vivido de 1930 ainda não havia se transformado na figura central do século XX. Diante dele viria a crise dos anos 30, a luta contra Hitler, a construção da ONU, a derrota nas eleições de 1946 e a vitória final no começo dos anos 50. Sim, ele tem a visão do colonizador e nem poderia ser diferente. Ele sempre foi parte da elite, da mais alta elite, mas nele havia um orgulho em ser inglês e com esse orgulho vivia um forte senso de obrigação, a obrigação de fazer do país e de seu povo uma ilha de harmonia e de paz.
   Um grande homem.