Tenho este dvd desde 2006, mas só agora o assisti. São 3 discos, versões de cinema 1977, de cinema 1981 e do diretor. Não há prova maior do fetiche que se tem por esse diretor.
Eu não o assistia desde que o vira no cinema, em 1978, com meu irmão. Cine Festival, na rua Lacerda Franco em Pinheiros. Quem não frequentou cinema de bairro em dia de semana não sabe o prazer que isso dava. Era como ver um filme na sala de casa. Era familiar. Era muito barato. Era como um clube. As pessoas da rua na sala. Sair da sessão, que foi mágica, nós ficamos hipnotizados pelo filme, e cair na rua, luz do sol e carros. Era um choque. Não era como sair da sala de cinema e dar de cara com luzes artificiais e vitrines de lojas. Não. Era sair da sala e ver o céu aberto, as vozes da rua, buzinas e fachadas de casas. Uma realidade penetrando outra realidade. Bem...chega, vamos à minha experiência de ontem.
42 anos depois eu ainda lembrava de várias cenas. Provavelmente por terem se tornado ícones do cinema. Os brinquedos se movendo no quarto do menino, as luzes no carro de Richard Dreyfuss, toda a sequência final. Me surpreendo em como os primeiros minutos são fracos, uma sequência de aviões e barcos que surgem em locais estranhos. Me surpreendo também em como o filme é ótimo entre os 30 e os 70 minutos. Quase sem diálogos, é um primor de narrativa e de encanto. Esse ótimo filme dentro do filme acompanha todo o encontro na estrada até o começo da construção da "montanha" dentro de casa. O filme desaba outra vez e me lembro então como todo filme de Spielberg é sempre irregular. É um cinema feito de grandes cenas, mas nunca de filmes perfeitos.
Eu havia esquecido a imensa quantidade de crianças no filme. É um filme infantil. Os ETs são crianças e o adulto que eles levam é fã de Pinochio. Nada há no roteiro de filosófico, não perca seu tempo procurando uma mensagem. O filme é o que vemos: um cientista criança, Truffaut, não podia ser outro, um pai criança e viajantes do espaço crianças. A mensagem é : Paz e Amor. Mais nada.
Nos extras causa decepção ver o Spielberg de anos depois dizer que mudaria o filme se feito agora. Penso então que ele o deixaria mais complexo. Mas não. O que ele diz é que hoje não deixaria o pai ir com os ETs e largar seus filhos na Terra. Ele era um pai irresponsável. Well....
Mesmo hoje, em filmes ditos adultos, como Schindler ou Lincoln, Spielberg não muda. Abusa da música para nos seduzir. Luta para criar grandes cenas que nos impressionem. Se esforça por agradar. E acaba fazendo filmes rasos. Um diretor com um talento imenso, com um senso de imagem tão perfeito, acabará sua carreira sem uma só obra prima. Mais frustrante ainda, ele, como Tarantino, nada tem a dizer. Ambos têm como único pensamento o amor ao cinema e uma grande cultura cinematográfica. Ambos passam a impressão de que tudo o que sabem sobre paternidade ou violência, guerra ou heroísmo, foi aprendido e vivido diante de telas de cinema. Todos os seus filmes, como de tantos outros diretores deste momento histórico, são filmes sobre filmes, histórias imaginadas enquanto se via um filme, relatos sobre experiências sentidas em filmes. Contatos Imediatos é 2001 em desenho Disney. É O Dia em que a Terra Parou como superprodução. A nave é a baleia de Pinochio.
Muito já se falou sobre o mal que Spielberg causou ao cinema dos últimos 45 anos. A infantilização. Foi ele quem notou primeiro que o cinema seria salvo pelas crianças e não pelo público adulto. Essa foi uma guinada da qual jamais nos recuperamos. Todo grande filme, toda grande produção, graças à ele e Lucas, passou a ser dirigida à um público de 10-12 anos de idade. Mesmo que esse público tenha 40. Lucas e Spielberg não tiveram culpa nenhuma. Fizeram sempre os filmes que amaram ver. O problema foram os outros. A geração Coppola e Scorsese, com seus filmes excessivamente amargos que alienaram o público do cinema. Após Tubarão, e com Star Wars, o cinema se dividiu de vez entre filmes grandes e filmes pequenos, filmes de sucesso e filmes de festivais, filmes para todos e filmes para a elite. O Poderoso Chefão, em 1972, foi o último big big hit adulto. Feito para todos e com pretensões de elite. Nunca mais. Titanic é para meninas de 13 anos. Adultos de 35 choram. Voce entendeu....
A sequência final deste filme foi estranha de rever. Em 1978 eu e meu irmão a assistimos como se aquilo fosse um tipo de cerimônia religiosa. Eu lembrava dela como algo longo, imenso, misterioso, incrível. Lembro que saímos do cinema nas nuvens. Foi uma experiência inesquecível. Mas visto hoje me pareceu muito curto, simples, bonito porém simplório. Gostei, mas não fui tocado.
Bem...eis o porque: em 1978 eu era uma criança. Hoje não mais. Simplesmente isso.
Sempre vou agradecer Spielberg por aquela tarde. Mas se quero magia e encanto...não são em seus filmes que vou procurar.
No sir!
Eu não o assistia desde que o vira no cinema, em 1978, com meu irmão. Cine Festival, na rua Lacerda Franco em Pinheiros. Quem não frequentou cinema de bairro em dia de semana não sabe o prazer que isso dava. Era como ver um filme na sala de casa. Era familiar. Era muito barato. Era como um clube. As pessoas da rua na sala. Sair da sessão, que foi mágica, nós ficamos hipnotizados pelo filme, e cair na rua, luz do sol e carros. Era um choque. Não era como sair da sala de cinema e dar de cara com luzes artificiais e vitrines de lojas. Não. Era sair da sala e ver o céu aberto, as vozes da rua, buzinas e fachadas de casas. Uma realidade penetrando outra realidade. Bem...chega, vamos à minha experiência de ontem.
42 anos depois eu ainda lembrava de várias cenas. Provavelmente por terem se tornado ícones do cinema. Os brinquedos se movendo no quarto do menino, as luzes no carro de Richard Dreyfuss, toda a sequência final. Me surpreendo em como os primeiros minutos são fracos, uma sequência de aviões e barcos que surgem em locais estranhos. Me surpreendo também em como o filme é ótimo entre os 30 e os 70 minutos. Quase sem diálogos, é um primor de narrativa e de encanto. Esse ótimo filme dentro do filme acompanha todo o encontro na estrada até o começo da construção da "montanha" dentro de casa. O filme desaba outra vez e me lembro então como todo filme de Spielberg é sempre irregular. É um cinema feito de grandes cenas, mas nunca de filmes perfeitos.
Eu havia esquecido a imensa quantidade de crianças no filme. É um filme infantil. Os ETs são crianças e o adulto que eles levam é fã de Pinochio. Nada há no roteiro de filosófico, não perca seu tempo procurando uma mensagem. O filme é o que vemos: um cientista criança, Truffaut, não podia ser outro, um pai criança e viajantes do espaço crianças. A mensagem é : Paz e Amor. Mais nada.
Nos extras causa decepção ver o Spielberg de anos depois dizer que mudaria o filme se feito agora. Penso então que ele o deixaria mais complexo. Mas não. O que ele diz é que hoje não deixaria o pai ir com os ETs e largar seus filhos na Terra. Ele era um pai irresponsável. Well....
Mesmo hoje, em filmes ditos adultos, como Schindler ou Lincoln, Spielberg não muda. Abusa da música para nos seduzir. Luta para criar grandes cenas que nos impressionem. Se esforça por agradar. E acaba fazendo filmes rasos. Um diretor com um talento imenso, com um senso de imagem tão perfeito, acabará sua carreira sem uma só obra prima. Mais frustrante ainda, ele, como Tarantino, nada tem a dizer. Ambos têm como único pensamento o amor ao cinema e uma grande cultura cinematográfica. Ambos passam a impressão de que tudo o que sabem sobre paternidade ou violência, guerra ou heroísmo, foi aprendido e vivido diante de telas de cinema. Todos os seus filmes, como de tantos outros diretores deste momento histórico, são filmes sobre filmes, histórias imaginadas enquanto se via um filme, relatos sobre experiências sentidas em filmes. Contatos Imediatos é 2001 em desenho Disney. É O Dia em que a Terra Parou como superprodução. A nave é a baleia de Pinochio.
Muito já se falou sobre o mal que Spielberg causou ao cinema dos últimos 45 anos. A infantilização. Foi ele quem notou primeiro que o cinema seria salvo pelas crianças e não pelo público adulto. Essa foi uma guinada da qual jamais nos recuperamos. Todo grande filme, toda grande produção, graças à ele e Lucas, passou a ser dirigida à um público de 10-12 anos de idade. Mesmo que esse público tenha 40. Lucas e Spielberg não tiveram culpa nenhuma. Fizeram sempre os filmes que amaram ver. O problema foram os outros. A geração Coppola e Scorsese, com seus filmes excessivamente amargos que alienaram o público do cinema. Após Tubarão, e com Star Wars, o cinema se dividiu de vez entre filmes grandes e filmes pequenos, filmes de sucesso e filmes de festivais, filmes para todos e filmes para a elite. O Poderoso Chefão, em 1972, foi o último big big hit adulto. Feito para todos e com pretensões de elite. Nunca mais. Titanic é para meninas de 13 anos. Adultos de 35 choram. Voce entendeu....
A sequência final deste filme foi estranha de rever. Em 1978 eu e meu irmão a assistimos como se aquilo fosse um tipo de cerimônia religiosa. Eu lembrava dela como algo longo, imenso, misterioso, incrível. Lembro que saímos do cinema nas nuvens. Foi uma experiência inesquecível. Mas visto hoje me pareceu muito curto, simples, bonito porém simplório. Gostei, mas não fui tocado.
Bem...eis o porque: em 1978 eu era uma criança. Hoje não mais. Simplesmente isso.
Sempre vou agradecer Spielberg por aquela tarde. Mas se quero magia e encanto...não são em seus filmes que vou procurar.
No sir!