THE WHO NO ROCK IN RIO ( E GUNS )

   Após o show, Pete Townshend dá uma entrevista para o Multishow. Completamente relaxado, Pete esbanja bom humor sem parecer engraçadinho. Ele está velho e ele está feliz. Conta que Londres em 1963 era um lixo, e que o rock e a arte nascem do lixo, da dificuldade, da pobreza material. Diz ainda que é fascinado por tecnologia, mas que essa ferramenta, surpreendentemente, afasta as pessoas. E as une também. Pete ainda segue o Baba e afirma, e é verdade, que a maioria das pessoas no ocidente detesta a palavra "Deus". Roger ( Daltrey ), não fala a palavra, quando ela surge em canções ele a substitui por "One". Pete é afirmativamente religioso. E isso explica a relação complicada que eu e muita gente tem com a banda.
  Hoje eles são despojados, mas entre 65 - 70 ele eram puro glamour. E continuam sendo um enigma. A gente lembra dos Stones como o grande show de 1972, de Hendrix em Monterey 67, de tanta gente em Woodstock, mas esquece do Who. Ou lembra deles sempre como o segundo melhor. A segunda melhor banda ao vivo, o segundo melhor show de 1968, a segunda maior banda MOD, a segunda melhor banda de Londres. Mas eles sempre foram os primeiros em muita coisa. E uma delas é o fato de ser a banda mais "à parte" da história do rock. Fracos em sucesso na parada de singles, fracos em clips, são insuperáveis em emoção espiritual. No Who original havia a mistura de força bruta e pureza de espírito que nenhuma outra banda tentava. Pete era um bêbado, louco, destruidor, frustrado, violento, mas era sempre um "puro". No rock sempre existiram puros, caras como Paul MacCartney, Donovan, Tim Buckley, mas Pete era mais profundo. Sua pureza não era aquela das crianças ou dos fofos. Era a dos santos. Dor, raiva e muita coragem.
   É a banda que mais me faz chorar. Sempre foi. Mas nunca me lembro deles quando listo minhas top five.
   A banda está melhor hoje. Muito melhor. Desde a morte de Keith em 1978 são os melhores shows do Who. Starkey, filho de Ringo e afilhado de Moon, ganhou sua primeira batera dele, é o melhor baterista do mundo hoje. E preenche bem o vazio deixado pelo maior show man das baquetas. Can't Explain começa a noite. E claro, uma lágrima cai. Pete roda o braço. Roger joga o microfone. E eles se garantem com uma banda enorme. Falar do repertório da banda é comentar o DNA do rock moderno. Eles fugiram do blues e do country da época, evitaram o virtuosismo e a psicodelia e assim abriram espaço para a emoção genuína. Não seguiam um estilo, expressavam uma fé.
  O show do Rock in Rio é um sonho. Não há momento fraco e não há "o melhor momento". São dois velhos, absolutamente velhos, tocando música de velhos e fazendo um show de antológico rocknroll. Dançam, pulam, gritam e se divertem. E não fingem. O fingimento sempre esteve longe, muito longe da banda. Roger e Pete não se dão. Agora se respeitam. Roger é um homem duro e grosso. Pete é "o artista". E isso nunca foi pose. Por isso não se dão. ( Eu amo Roger. Sem ele o Who seria muito menor. E Pete sempre soube disso, por isso o engoliu ).
  Pete anuncia os GUNS e vai embora.
  E os Guns são o outro lado da moeda. Não posso falar mal deles porque eles fazem o hard rock anos 70 que adoro. Slash e Duff são ótimos. Eles pegam o som do Aerosmith e o melhoram. Mas Axl é a coisa mais patética da história dos palcos. Gary Glitter piorado. Dá medo até. E o show não é mais que ginástica. Eles andam pelo palco, correm, caminham... Aguento 10 minutos. Chega!