WYLER/ EASTWOOD/ CRONENBERG/ STURGES/ CAPRA/ SODERBERGH/ PINA/ CARY GRANT

   SUBLIME TENTAÇÃO de William Wyler com Gary Cooper, Teresa Wright e Anthony Perkins
Concorreu  a seis Oscars em 1956 e perdeu todos. Mas é um muito bom filme realizado pelo mais profissional dos diretores da América. Wyler tem uma impressionante lista de filmes, de sucessos e de prêmios. Aqui ele fala de uma familia de Quacres, que nos EUA da época da guerra civil, se recusam a lutar. O filme é lindo de se ver, cor e cenários são imagens ideais de um passado bucólico. Mas esse bucolismo é manchado pelo mundo. Perkins, muito jovem, está comovente como o filho que parte para a guerra. Ainda sem os tiques de Norman Bates, ele realmente prometia ser um novo tipo de ator, frágil, hesitante. Cooper prova mais uma vez ser um grande ator. Vemos em seus olhos a confusão de um pai que não sabe mais como agir. Cinema grande, vasto e muito satisfatório. Nota 8.
   OS ABUTRES TÊM FOME de Don Siegel com Shirley MacLaine e Clint Eastwood
No México, Clint encontra uma freira e a salva de ser violentada. Juntos, eles cruzam um deserto e lutam contra as tropas de Maximiliano. A trilha sonora é de Ennio Morricone e a foto de Gabriel Figueroa. Tem um jeitão de western italiano, um ar de não seriedade, de pastiche. Uma diversão apenas ok, feito em tempo em que tanto Clint como Shirley não eram levados a sério. Nota 6.
   UM MÉTODO PERIGOSO de David Cronenberg com Michael Fassbender, Keira Knightley e Viggo Mortensen
O elenco é bom, mas o roteiro de Hampton é banal. Caretésimo, se parece muito com aquelas séries solenes que a BBC fazia nos anos 70. No fundo, se a gente trocar os nomes dos personagens, é a velha história do filho que quer ser independente do pai. E do pai que, com sua autoridade ameaçada, passa a exigir obediência do filho. Tudo recheado por sofrido caso de amor. A criatividade passou muito longe daqui. Enfadonho. Nota 4 dada ao belo trabalho dos 3 atores.
   MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA de Peter Webber com Scarlet Johansson e Colin Firth
Revisto agora se revela uma quase ridicula recriação de um momento crucial na história da arte: a gênese da mais famosa pintura de Vermeer, o mais valorisado dos pintores. Firth, que como provou em O DISCURSO DO REI, é um dos melhores atores em atividade, nada tem a fazer aqui. O pintor é tão real quanto o é o Jung de Fassbender. Tem a profundidade de um boneco de palha. Scarlet nunca esteve tão bonita, na verdade o filme é dela. Lento, sem emoção, monótono. Nota 1.
   CONTRASTES HUMANOS de Preston Sturges com Joel McCrea e Veronica Lake
Recém lançado em DVD, mostra o talento esfuziante de Sturges.  Um diretor de filmes escapistas, resolve fazer uma obra relevante. Parte então à estrada, para conhecer e viver a vida dos pobres. Mas seus empregados seguem sua estrada e ele não consegue ser um pobre. Acaba conhecendo uma aspirante a atriz e é preso quando sem documentos é confundido com assassino. Na prisão é que ele dará valor a seu trabalho, em uma cena simples e inesquecível. Este filme foi homenageado pelos Coen em E AÍ MEU IRMÃO...Preston Sturges vive hoje um momento especial, sua obra é finalmente reavaliada. Nota 9.
   ESSE MUNDO É UM HOSPÍCIO de Frank Capra com Cary Grant
Uma dupla de adoráveis velhinhas mata seus hóspedes com veneno. Grant é o sobrinho delas que não sabe o que fazer. Relançado agora, a Veja elogiou muito, assim como o Estado. Apesar de eu ser fã de Cary Grant, eu não gosto deste filme. É exagerado, nervoso demais, passa do tom. Capra voltara da segunda guerra mudado. Se antes seus filmes eram odes otimistas ao homem comum, aqui ele se mostra confuso. Cary parece estar em filme de Hawks, sua atuação maluca não se casa com a dos outros atores. Nota 3.
   SAN FRANCISCO de WS Van Dyke com Clarck Gable, Jeannette MacDonald e Spencer Tracy
Imenso sucesso dos anos 30, é um filme quase insuportável. Uma baboseira sobre dono de bar que se apaixona por moça "certinha" que quer ser cantora. Gable faz seu papel padrão, um machão sorridente e levemente mal caráter. Jeannette canta demais. E Tracy faz um padre que a aconselha. O filme se redime em seu final, a cidade de SF é destruída pelo terremoto de 1906. Os efeitos, por incrivel que pareça, ainda impressionam. O terremoto é mostrado com cortes espertos, paredes que caem e multidões em pânico. Funciona e muito bem. Mas até chegar a esse final emocionante o filme é um nada. Nota 3.
   IRRESISTÍVEL PAIXÃO de Steven Soderbergh com George Clooney, Jennifer Lopez, Don Cheadle e Luiz Gusman
A trilha sonora de David Holmes é um show em si mesma. Uma recriação das trilhas cool dos anos 70, ela mistura Schiffrin com Hayes e funk tipo Clinton. Estupenda! O roteiro é sobre um ladrão de bancos que se envolve com policial feminina. Clooney está excelente. Ainda em sua fase galã, ele dá uma aula de estilo. Adoro esse tipo de filme que Soderbergh sabe tão bem fazer. O filme tipo "espertinho", uma recriação de Steve McQueen com Peter Yates e Norman Jewison. Foi com este filme que a carreira de Steven foi salva. Revisto agora, ele ainda diverte, Nota 7.
   PINA de Wim Wenders
Quando Wenders acerta ele faz filosofia ( ASAS DO DESEJO ), ou poemas visuais ( PARIS TEXAS ). Aqui ele faz uma filosofia poética em movimento. O cinema de agora pode ser salvo se assumir seu caráter de pesquisa visual. Os ótimos HUGO e O ARTISTA enfatizaram esse fato. O futuro está na imagem e não em dramaturgia.  Este filme nos convence do futuro possível. O deslumbre de imagens que se movem. O cinema jamais poderá se renovar ao repetir os passos de tanta gente que já esgotou a linguagem dos dramas e dos simbolos. Ele sobreviverá em seu aspecto de espetáculo plástico. Seja o movimento sem palavras ( eis a modernidade corajosa e radical de O ARTISTA ), seja em sonho de beleza ( o jogo de Scorsese em HUGO ). Wenders lança a opção do movimento puro. Poesia possível. Nota 9.