FALEMOS DE CAETANO E DE RITA
Eu não odeio Caetano e Rita. Mas hoje eu sei que eles me odeiam. E isso mudou tudo. --------------- Jung dizia que a individuação acontece quando vemos, inclusive, que nossos ídolos são falíveis. Eles eram apenas imagens-guias, muletas para minorar a dor de uma alma fraturada. Quando nos individuamos não mais precisamos deles. O processo é longo mas aqui no Brasil ele se encerra de modo violento. ------------------ As máscaras caíram nos últimos anos e os ídolos revelaram suas almas sem pudor. A imagem que hoje eles passam possui uma mistura de vaidade ditatorial e indiferença ao diferente. Pior: aquilo que eles chamam de democracia nada mais é que orgulho por comandar. Democrata é quem me segue. Aquele que se recusa a me obedecer não é democrata. ------------------- Diz também Jung que a alma individuada perde muitos dos "amigos" mas em compensação passa a fazer parte da "massa". Nada representa melhor meu estado atual que essa afirmação. Eu tinha dezenas de amigos, mas me via sempre como um ser superior à massa, portanto, fora dela. Hoje tenho apenas 3 ou 4 amigos, mas me vejo e me entendo como parte de uma comunidade planetária, a comunidade do "homem comum". ------------------ Caetano, assim como Rita, Cazuza, Gil, ficaram para trás. Dentro de mim eles vivem em um limbo, um tempo distante, mundo que aceito como parte de meu passado, mas que jamais poderá ser revivido. Olhar para eles é ver tudo que mais odeio no mundo: a aliança com a bandidagem, o relativismo do bem, o desprezo por valores que são eternos, o deboche. --------------- Eles me odeiam e eu sei que esse ódio é a confirmação do meu acerto. --------------- Por fim, li em algum lugar que nós somos aquilo de onde nascemos. Eu sou meu pai, meu avô, meu bisavô e minha mãe. E não há como ser diferente. Pois somos feitos do material, físico e espiritual, dos que nos precederam. O tijolo que nos fez, a pedra que nos sustenta veio da olaria e da pedreira que nos precedeu. A foto postada acima, alguns homens portugueses almoçando em pausa do trabalho, exibe em rostos e em alma a minha formação. Foi um longo caminho para os encontrar e uma árdua batalha para os amar. Me vejo neles. Adeus Cazuza. Voce não deixa a menor saudade.