BOD DYLAN, TIME OUT OF MIND

Este disco, histórico, foi produzido por Daniel Lanois, produtor associado de Brian Eno em Achtung Baby, o melhor disco do U2. Ou seja, Lanois é da escola que valoriza timbres e climas. E este disco é uma obra prima de timbres e de climas. Dizem que Dylan não gostou muito do resultado, que ele queria outro tipo de som, mas é um disco maravilhoso. Lanois deu ao instrumental um acabamento cheio de detalhes, o som vem como de outra dimensão, parece antigo e ao mesmo tempo é moderno. Quando a bateria ataca os pratos eles soam como fossem latas enferrujadas, mas ao mesmo tempo ecoam numa amplitude refinada, cuidada, que repercute e nos faz fixar todo o som. As guitarras tecem um labirinto de blues, country e fugas ciganas, enquanto o baixo conduz aquilo que poderia ser um kaos mas nunca é. Lanois deve ter tido um trabalho imenso em montar este trabalho, mas vamos falar agora de Dylan. ----------------- Este é seu melhor disco. E isto não deve te surpreender pois muita gente acha isso. Há quem chame do mais belo disco de despedida da vida da história. Voce sabe, ele não morreu em 1996, mas o disco é eterno. A mensagem fica e ela é belíssima. Dos grandes do rock, Dylan é, fora dos países de língua inglesa, o menos querido. Isso porque 80% de seu apelo moram nas letras, na palavra. Mas aqui temos um disco que é rico TAMBÉM em som, em música. É portanto o disco de Bob Dylan para ser ouvido por quem não gosta de Dylan. Longas, mas jamais enfadonhas, são 11 canções imensas. Variam entre tempos acelerados e tempos pensativos, mas ao contrário de seus outros discos, todas são musicalmente bem realizadas. As letras não estão sobre a melodia, estão casadas com a melodia. Cada faixa é como um conto magistral sobre um momento decisivo na vida de alguém e a música é digna do que se fala. Sim meu leitor, é um disco a prova de enjoo, vacinado contra o tédio, cheio da voz cavernosa do Dylan ancião. Ele fala da velhice, do cansaço, da proximidade do fim. Mas a música, ela anuncia a inspiração. ----------------- Todo grande artista tem um surto de produção na parte final da vida. Yeats é o exemplo maior desse fenômeno em literatura. Bob Dylan no rock. Desde este disco, 1996, ele produz sem parar. Canções de Natal, músicas de Sinatra, Cole Porter e Gershwin, novas composições. Ele não parou e esse final de vida já dura 27 anos. 27 ANOS!!!!!!!!! O homem é um titã. Ouça e entenda do que falo. -------------------Tenho uma queda imensa por seu disco de 1979 Slow Train Coming, disco que tem uma sonoridade exatamente oposta a desta obra. Slow é clean, limpo, cristalino, claro como o sol. Talvez seja, para mim, o mais querido LP de Bob Dylan. Mas eu sei, Time Out of Mind é melhor.