LEONARD COHEN LIVE IN LONDON 2008.
Primeiro deixemos claro: Leonard Cohen não tem nada a ver com rock. Quem leu a bio dele sabe disso. Nada em sua vida tem o espírito que guia TODO rocker, seja Iggy ou seja Dylan. Cohen queria ser escritor, queria cantar suas letras, nada nele vem do amor aos blues, ao country ou à estrada. Ouvindo suas canções, principalmente na melhor fase de sua carreira, a fase final, percebo que Cohen fazia o mesmo tipo de música que Paolo Conte, Joe Dassin, Harry Nilsson, a canção pop não rock, não funk, não soul, não country, a canção que é música, música bem feita. Seus músicos não são músicos de rock, sua presença de palco, cheia de humor, não é a do rock star. Leonard Cohen apresenta suas letras, como fazia Brassens, como fazia Gainsbourg. Penso que o final da vida de Cohen foi ideal. É o fim que Iggy Pop amaria ter ( e até flertou em alguns discos ) mas não poderá ter, e é o final que Bowie não teve tempo de criar. É preciso falar das letras de Leonard Cohen. Eu as adoro. Ao contrário de Dylan, quando Cohen fala de uma chama, a chama é uma chama mesmo, uma chama de fogo ou uma chama religiosa; já em Dylan essa chama pode ser tudo, depende do contexto ou do momento da vida de Bob Dylan. Cohen é direto, explícito, sólido. Isso porque ele se exercitava na prosa realista, no policial, no relato direto. As letras são então maravilhosamente claras, e ditas em sua voz, educada e de dicção precisa, faz de suas canções base para suas narrativas. Dylan coloca névoas em tudo, ele é profundamente simbólico. Cohen é transparente como Lou Reed. ( Os dois não se parecem em quase nada, Lou procura o choque e é ateu até os ossos, Cohen procura a elegância e é sempre religioso. Os dois sussurram e sabem brilhar no escuro ). --------------- Este CD duplo, ao vivo, é de uma beleza absoluta. Som sempre preciso, sopros e backing vocals, violões e um contra baixo sedutor. Cohen fala com a platéia, é engraçado, simpático, sedutor. É um show que toca o sublime. Confesso não gostar da inevitável Suzanne. Nem de So Long Marianne. Mas há a obra prima Tower of Song, a encantadora e encantatória The Gypsy's Wife, e muito, muito mais. Se as letras são das maiores do pop, as melodias possuem a fibra e a nuance que a voz de Cohen requer. Uma presença gigante. ---------------- Devo tecer uma diatribe aqui: é que Leonard Cohen é um dos queridinhos do tipo de ouvinte que mais me faz rir. O sujeito "inteligente e chique". Se Van Morrison virou o cantor dos filmes românticos dos anos 90 e Eric Clapton o guitarrista de sessentões ricos, Leonard Cohen é pior ainda. É o poeta dos velhos chiques que se enxergam como ainda tipos sedutores. Sedutores e perigosos. ( Fossem apenas velhos sedutores ouviriam Rod Stewart e Seal. Mas se acham perigosos, misteriosos, cultos demais. Ou seja, são um cliché ). Leonard Cohen, como os citados, não tem culpa alguma. Ele canta para adultos que já viram o inferno e que crêm na luz. Se o inferno é apenas a queda das ações ou a luz é um novo Mercedez, Cohen não tem culpa nenhuma. ------------------ Joe Cocker, uma voz milagrosa e um bêbado incurável se tornou cantor de motel. ------------------------- Entendo o porque de Leonard cantar sempre usando terno completo. Ele sabia ser do tempo de seu pai. Avisava não ser rock. E tinha a feitura correta, medida, adulta, bem feita que os bons alfaiates possuem. Dizem que os homens começaram a deixar de ser homens quando jogaram fora paletó e chapéu e passaram a se vestir como adolescentes eternos. Leonard Cohen era adulto. E HOMEM. Homem como homem é. Não um heroi. Um cowboy. Um soldado. Um homem que cresceu. Que envelheceu. Que ama as mulheres sem pudor algum. Um grande disco.