HARD RAIN - BOB DYLAN E A ROLLING THUNDER REVUE

   1976 foi o ano mais legal do século XX. O filme do Richard Linklater, Dazed and Confused diz isso. E todo mundo tipo Tarantino, Anderson e Burton concorda comigo. Well...voce pode dizer: Vocês acham isso porque em 1976 tinham 12, 15 anos...OK. Daí eu te respondo: Faz as contas e veja em que ano voce tinha 12. E me conta: Voce acha que foi o melhor ano de todos?
  1976 foi cool porque via o nascimento de disco e punk ao mesmo tempo. Não era mais hippie, mas ainda era free. Foi nascimento da moda esporte também, principalmente skate e surf. Essas duas ondas ainda eram alternativas. O cinema clássico ainda estava vivo, mas já era moda Spielberg, Lucas, Alan Parker tava dando as caras, assim como Ridley Scott, John Carpenter, James Cameron, e a comédia tipo Saturday Night Live. Os atores quentes eram Paul Newman, Al Pacino, Burt Reynolds e Clint Eastwood. Em 1976 ver TV era muito bom, apesar de só ter 6 canais. Tinha uma montanha de séries: Baretta, Kojak, Columbo, SWAT, As Panteras, Starsky e Hutch, Cannon, O Homem do Fundo do Mar, MASH, Kolchak, Bill Cosby, Mary Tyler Moore, Happy Days.
  1976 foi o bicentenário dos EUA e houve festa o ano todo por lá. Pra comemorar, BOB DYLAN excursionou o ano inteiro dentro do país. Ele tocou em New York, mas também em cafundós do Idaho ou de Iowa. A excursão recebeu o nome de The Rolling Thunder Revue e muita gente seguiu ele por todo o país. Dylan comemorou a América como cowboy, Whitman e beatnik, tudo ao mesmo tempo. Ele levava uma banda fixa de cinco músicos, mas dependendo do lugar, às vezes tinha 30 pessoas no palco. Alguns shows contaram com Neil Young. Outros com Joni Mitchell. Teve show com Van Morrison. Ou Gordon Lightfoot. Paul Simon. Robbie Robertson ou Neil Diamond. Os shows duravam 4, 5 horas. Não tinha roteiro. Podia acontecer até um desastre em meio a erros e chuva pesada.
  Gravaram um disco. Hard Rain. Eu o comprei em maio de 1977. Matando aula, tava frio pacas. Fui numa loja de discos, faz tempo, ainda existia isso, na rua Teodoro Sampaio, e peguei um Eric Clapton, No Reason to Cry, um Robin Trower, Live, e o Hard Rain. Odiei. Muita gente odiou. A mixagem do disco era horrenda! Som de lata, de radinho de pilha. Era impossível ouvir aquela bagunça onde a voz zumbia como um pernilongo rouco e a bateria havia sumido. Era um disco sujo, porco, mal feito. Recordes de devolução. Fiquei puto. Foi meu primeiro Dylan e abominei.
  1976 foi época de muito gibi. O Homem Aranha e O Demolidor estavam em fase ótima! A Abril tinha umas 15 revistas mensais e a EBAL mais de 25. Era quadrinho de monte! De Tarzan à Mandrake, eu lia tudo. E ainda colecionava as revistas de mulher pelada: Homem, Status, Ele e Ela, Fiesta e Lui. A gente ficava muito na rua.
  2020 tem uma pandemia. E eu pego num sebo o cd de Hard Rain. Meu vinyl de 1976 eu troquei faz séculos. Ouço. Mick Ronson, da banda do Bowie, toca em Maggies Farm. Quer saber? Bob nunca esteve tão bem. Aos 36 anos ele estava tinindo. Quer saber? Minha imagem da América é o país de 1976: Josey Wales nas telas e os Eagles em primeiro lugar nas paradas. Dr J nas quadras.
  1976 nunca acabou não é?