resto

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A EPIFANIA

...sol na janela e eu sou tomado pela solidão. Estou só na Terra, lendo. Como uma emoção que não nascem em mim, mas vem de fora, desce sobre. Me toma. ---------------- Um cavaleiro anda só pela mata e ele ama. Mas ela não é e não será dele, nunca. Não deve ser, não pode ser, não, sempre. Ela o olha e ele a olha mas o corpo não pode. As almas se tocam mas dizem adeus. ------------------ Então meu coração dispara e eu sinto que era eu. Um imenso sim nasce e me toma. Epifania. Eu vivo 900 anos depois o mesmo sentimento, mas não a mesma história. -------- Não, não sou uma alma que foi um cátaro. Mas sim, provável meus genes virem de árabes que entendiam a heresia. ( Todo movimento herege medieval nasceu de leituras orientais ). O centro da minha epifania foi a visão do rosto dela e a afirmação: Eis a mulher, eis o Amor. Alma com alma salvas em um Mundo feito pelo Mal e para o Mal. ------------------ Mas este é o século XXI baby e a carne manda neste planeta. Não há amor sem gozo sensual, não há vida sem biologia. Minha epifania morre em dois segundos. Se esvai. ---------------------- De onde vim?

O TESTAMENTO DO TROVADOR - JAMES COWAN ( CÁTAROS )

O livro deveria ser maravilhoso, mas não é. O tema é um dos mais fascinantes, um inglês vai à Aquitânia, França, em 1998, para tomar posse de um velho pergaminho. Esse pergaminho tem o texto final de um poeta càtaro do século XII. Andando pela região francesa, o inglês vai desvendando a vida do poeta antigo e de sua Musa. --------------- Eis os ingredientes para um romance que me seduziria completamente. O tema, o gnosticismo da época, a dualidade entre carne e alma, o amor cortesão como modo de encontrar o Divino, me encanta faz décadas. Mas o livro não alça voo. Por que? Falta um personagem mais sedutor, falta vida, falta detalhe, falta arte. ----------------- Pesquiso e descubro que James Cowan, o autor do livro, viveu na Libia, no Egito, na Espanha, entre os aborígenes da Australia e na Argentina. Morto já neste século, Cowan, australiano, fez sucesso em seu país e em nações de língua inglesa. Irriquieto, suas histórias se passam em lugares que representam encruzilhadas. Um Bruce Chatwin menos complexo. Não me emocionou. PORÉM....tive uma epifania no meio da leitura e falo dela em post acima.

COMO TRATAR AS MULHERES - WILLIAM CAMUS

William Camus tem uma bigrafia ótima. Lutou na resistência na Segunda Guerra, depois foi militar na Indichina. Se tornou piloto de stock car. Fotógrafo e afinal, escritor. Mas, sinto dizer, este livro é bobo como só um ego inchado pode ser. Tenta ser engraçado e se faz chatinho. Ele fala de como as mulheres são, usando para isso a antropologia. Sim, somos macacos, nós homens caçamos e nos sacrificamos, elas ficam em casa e nos esperam. Ficando em casa se tornaram mais inteligentes e mais exigentes. Homens querem sexo, mulheres trocam sexo por bens ou proteção. Hoje elas trabalham e não precisam mais dos bens e da proteção, mas mesmo assim, nós, homens, continuamos pedindo sexo em troca de um favor. Será? ------------------------- A coisa é bem mais complicada que isso e esse papo não cola. O mundo pode ter sido assim até o meio do século XX, mas em 2024 o papel da mulher deixou de ser esse. Ela também quer sexo. Sempre quis, mas hoje ela assume isso. E, pelo fato do homem saber que ela quwr, toda essa situação se modificou. A negociação se complicou muito. E às vezes essa troca nem é percebida. Às vezes ela é apenas sentimental e não mais material. ----------------- Claro que há mulheres que continuam usando sexo como moeda e claro que há homens que gostam de ver as coisas nesse ponto. Mas isso não é mais a única condição. O macaco e macaca ficaram um pouco mais para trás. ---------------- Camus insiste na tese de que continuamos sendo macacos. Agimos e sentimos como símios agem e sentem. Penso que não.

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ADIVINHAÇÃO E SINCRONICIDADE - MARIE-LOUISE VON FRANZ

Von Franz foi a mais querida discípula de Jung. Este é o segundo livro dela que leio, o primeiro tendo sido sobre contos de fadas. Ela escreve muito bem. Ao contrário de Jung, que tem um texto tortuoso, Von Franz tem ritmo, é clara, se lê com gosto. Neste volume, ele se constitui de cinco palestras dadas nos anos de 1950, ela fala sobre o tempo, os dois tempos, o linear e o eterno, o tempo do consciente e o tempo do inconscinete e em como, historicamente, os jogos de advinhação sempre tentaram lidar com a conjunção desse dois tempos encontrando o tempo UNO. --------------- Citando o I Ching e mais dezenas de culturas antigas, dos aborígenes da Austrália à tribos norte americanas, Von Franz, de forma enciclopédica, nos apresenta fatos, jamais caindo na crença individualista. A física, a matemática, a teoria dos números também são muito citadas, de Pauli à Eddington. Ela questiona, o que são números, para que foram criados, qual sua realidade? --------------------- Existem brechas na realidade, brechas por onde a energia do inconscinete pode fluir e nos revitalizar, mais que isso, pode fazer com que sintamos a situação temporal, o tempo como corte transversal, como matriz e não como linha. Nosso inconsciente seria o mundo onde tudo está interligado num eterno presente que abrange toda a totalidade. Nosso consciente seria apenas um modo de lidar com aquilo que nossos sentidos podem perceber. Ele é subordinado à visão, audição etc. A realidade é muito mais e ela é intuída em jogos de adivinhação e na sincronicidade. ------------------ Ela está certa? Por que não ?

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DOGMA E RITUAL DA ALTA MAGIA - ELIPHAS LEVI

Não é um livro satânico. Editado no meio do século XIX, reeditado várias vezes, é provável ser este o mais sério e enciclopédico livro já escrito sobre o tema. Ele fala de todos os temas mágicos: fantasmas, adivinhações, maldições. Sua filosofia é esta: o poder é atingido pelo absoluto controle da mente, pela fé que é foco, pela certeza total e completa. Magia é vontade. E para se ter essa vontade irresistível é necessário dominar seus pensamentos, sentimentos, atitudes. O universo, cheio de almas, de seres, é comandado por quem detém essa força. Nada mais que isso. Por 500 páginas, ele destila exemplos, lendas, histórias, fatos. A imaginação é real, essa uma de suas frases que parecem tolas mas que revelam uma verdade. O que imaginamos já é real pelo fato de ser pensado, pois pensamentos fazem o mundo, assim como palavras modificam a realidade. É um livro inspirador, pois mesmo que voce despreze tudo que ele fala, há algo de tão vasto, tão grande, tão desafiador aqui, que voce se vê entrar numa outra onda, outro ponto de vista. Prove-o.

PSICOLOGIA DO INCONSCIENTE, JUNG, E O TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE

Ela me pareceu, à primeira vista, alguém com personalidade pobre, vazia, sem nada a exibir. Depois, pouco tempo depois, comecei a perceber algo de falso nessa imagem. Ela escondia alguma coisa. Essa coisa escondida, em 5 anos de contato íntimo, não foi exibida. Existe tal mistério? --------------- Lidar com uma pessoa border é mais difícil que lidar com um esquizo. Pois do esquizo se espera incoerência, delírio, e momentos de relativa paz. Do border não há o que esperar. Ele é como uma mentira. --------------- Ontem ela surgiu com o corpo cheio de hematomas. Numa crise de ansiedade, ela se surrou. Foi ela mesma, pois não havia hematoma onde ela não podia alcançar. A mentira, em borders, é sempre a possibilidade número um. A segunda possibilidade é a chantagem emocional. ---------------- Após tamanha crise, seria de se esparar um abatimento, o rosto triste. Mas não. Poucas horas depois ela é a mesma de sempre. Inclusive sorri. O rosto controlado, bem maquiado, tudo no lugar certo. Não há sinal de emoção. Nenhum tremor. Psicopatia? Borders eram considerados psicopatas antigamente. Mas não são. Ela tem emoções. Ela é dependente. Ciumenta. Possessiva. Controladora. E de repente, não é mais nada disso. E diz: Eu nunca senti nada. Eu nunca amei. Dizendo isso com uma ponta de orgulho e vaidade. --------------------- Se acha um lixo. Mas só por dez segundos. No resto do tempo ela tem a certeza de poder seduzir todo homem do mundo. E quando voce a provoca, ela não reage. Mas quando ela te provoca, muito, ela espera que voce diga: Sim, eu errei. Mesmo que voce nem saiba do que ela fala. ------------------ Sua mente é uma guerra. Do eu contra o outro eu. Do eu contra o mundo de fora. Por isso, ela mal percebe que voce ou voces existem. Está distraída com sua dor. Que é real. O medo da rejeição. O medo da solidão. Mas tudo que ela-eles fazem é provocar rejeição. Flertar com a solidão. ------------- Sexo também é parte da guerra. O outro é um objeto a ser seduzido e dominado. Posse. Para isso ela se dá totalmente. Mas não se iluda. Ela deixa seu corpo mas nunca sua alma. Enquanto voce tem prazer naquele corpo que se doa, a alma está longe, muito longe. Onde nem ela mesma sabe. -------------- Em seu livro Jung fala do quanto é preciso entender, desvendar o inconsciente, Reconciliar consciente e inconsciente. Mas o que eu pergunto à Jung é: Como fazer a terapia de alguém que mente todo o tempo? Mentiras que têm o objetivo de proteger uma alma que não deseja se revelar. Como desreprimir alguém que faz sexo com a facilidade de alguém que chupa um sorvete? E que ama com a fúria de um bebê que chora? --------------------- Ama, porém dois dias depois volta de uma orgia com gente semi desconhecida. Diz nada sentir, só vaidade e raiva. Mas se surra com a culpa de quem deve algo a si mesma. Raiva do que? Culpa por que? ----------------- O problema do borderline é que por mais que pesquisemos, não há para eles um tratamento padrão, como há para um neurótico, mesmo o mais complicado ( faça-o falar e então assumir seus sentimentos ). Não há para o border uma droga como há para o deprimido ou o esquizo ( anti depressivos podem piorar o border ). O que fazer com ele? ----------------- Aturar sua indiferença ofensiva. Ouvir suas mentiras sem objetivo. Não fugir do peso de sua energia destrutiva. Suporta-lo. Mas haverá cura?

NORMAN LINDSAY

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NADJA - ANDRÉ BRETON

Onírico. Breton, líder surrealista, escreve este romance em 1928. Fala dos pensamentos de um homem que anda por Paris. Encontra Nadja, uma mulher perdida, e então ele se perde de Nadja. Breton coloca fotos em meio a narração. Sebald, o genial escritor alemão dos anos 80-90 também colocava fotos, mas a diferença é imensa. O alemão fazia com que as fotos dialogassem com o texto. As imagens eram personagens do que se narrava. Breton apenas ilustra as páginas. --------------- O estilo é o mesmo de Lautreamont, uma espécie de delírio. Porém, Lautreamont era delirante. Breton é um técnico do sonho. Não é um grande livro. Nem mesmo é bom. Hoje, cem anos depois, é apenas uma curiosidade. Fim.

Marcus Miller w/ Miles Davis "Back Seat Betty" Live 1982

MAN WITH A HORN - MILES DAVIS

Miles estava quieto desde 1976. Sem shows, sem discos, sumido. Em 1981 ele volta com este disco. A crítica, claro, odiou. Eu? Amei. É o disco mais balançado de Miles. Funky. Mas, ao contrário de discos como TUTU, aliás eu adoro TUTU, este disco não tem tanto teclado, a sonoridade não é tão anos 80. O destaque vai todo pro baixo, Marcus Miller, e bateria, Al Foster. O sopro de Miles está solto, esperto, renovado. Fat Man, a faixa que abre este grande disco, tem solo de guitarra de Mike Stern, arrasador. A faixa 2 tem introdução heavy metal, sim, metal, e então se transforma em jazz funk. E ainda há uma faixa cantada, uma canção de amor, veja só...---------------- Não há como não dançar com o que rola aqui e fiquei bem surpreso. Este é o melhor disco da fase final de Davis. E isso não é pouca coisa. O cara era cool, o cara era gênio. Ouça.