BLIND FAITH, A BANDA
Quando em 1968 um bando de caipiras do Canadá lançou um disco chamado Music From The Big Pink muita gente ficou atônita. Hoje, tanto tempo depois, nós não entendemos mais o que havia de tão diferente em um disco pop. É preciso entender. Imagine que voce tem 22 anos em 1967 e que tudo que voce escuta são coisas como The Doors, Hendrix, Cream, Traffic, Grateful Dead, Love e o soul music da costa leste. A moda era coisas groovy, ou seja, bem louco. Solos de guitarra, efeitos de estúdio, sons orientais, o mellotron, cítaras, flautas, viagens de LSD. Então no auge de tudo isso, tempo em que até Bee Gees e Neil Diamond soavam sob drogas, surge esse disco sem drogas, sem viagens astrais, sem sons esquisitos, sem solos longos, sem nada que lembrasse hippies. Eram canções que falavam de voltar pra casa, ter amigos, formar um lar. Era a sanidade em meio ao caos. Todo mundo, inclusive Beatles, absorveu The Band, e Eric Clapton mudou sua vida para sempre. Desde então toda sua carreira, de 1969 até hoje é uma homenagem à The Band. Sua mudança foi radical e começa aqui, com o grupo Blind Faith. --------------------- Clapton sai do Cream, cheio das ego trip, dos fâs que mal ouviam o som, dos solos de 15 minutos. Cansado, ele começa a fazer jams com Stevie Winwood, o cantor tecladista do Traffic. Ginger Baker aparece e pronto, surge um super grupo. Gravam um disco e fazem alguns shows e como esperado, não dá certo. Ginger continuava na trip hippie de solos longos e Winwood não abria mão das influências groovy. Eric logo pulou fora, se unindo a Delaney e Bonnie, um duo americano raiz. Este disco, caótico, chuta pra todo lado e erra alvos. Nem um produtor fera como Jimmy Miller conseguiu salvar a produção. O som é ruim, flácido, preguiçoso. Eles erram, acham que o som de The Band é light, soft, esquecem que ele é viril, musculoso. Blind Faith passa desleixo onde devia haver feeling. ----------------- A primeira faixa já entrega tudo, o riff, ótimo, precisava de mais ensaio. O vocal, de Winwood, está todo errado. E a batera de Ginger tenta dar beat a um som sem alma. Cant find my way home é puro Winwood. Bela, delicada, quase perfeita. Im all right é uma cover de Buddy Holly e é bem ok. Presence of the Lord é o grande momento de Eric na banda. O solo é sublime. As duas últimas faixas são psicodélicas. Tem até um solo de Ginger. --------------------- Acabei elogiando as faixas, mas todas juntas não funcionam. E a preguiça mata tudo. Um detalhe: a capa do LP é hoje totalmente censurada. Parece que a liberalidade de nosso tempo é de araque.