REDE DE INTRIGAS ( NETWORK ) - SIDNEY LUMET

Logo após uma obra-prima chamada UM DIA DE CÃO, Lumet lança em 1976 seu filme para Oscar : NETWORK. Leva os prêmios de ator ( póstumo, para Peter Finch, ator inglês que está impressionante ), atriz para Faye Dunaway e roteiro, para Paddy Chayefski. E numa das maiores zebras do prêmio, perde filme e direção para Rocky, Um Lutador e John G. Alvidsen, o diretor do filme de Stallone. Hoje eu finalmente assisto Network e sou dominado pela força irada e hilária desse propositalmente exagerado filme que bate forte na tv.
Lumet e Chayefski começaram trabalhando em tv. E como todos de sua geração, acreditavam que a tv se tornaria cada vez mais sofisticada, fazendo com que a cultura se tornasse acessível a todo o planeta. Exatamente o que se pensava da internet. Os dois piraram quando viram, principalmente a partir dos anos 70, no que ela se tornou. Os presidentes do veículo, que viviam só para sua empresa, e que ainda tinham algum idealismo, sendo substituidos por grandes conglomerados de acionistas, que nunca pisavam na empresa e queriam apenas o lucro rápido, custe o que custar, para poder vender as ações e saltar fora.
O filme conta a história de âncora veterano que é demitido. Ao se despedir no ar, ele surta, e diz que irá se matar ao vivo na terça seguinte. A direção da tv enlouquece e lhe dá bronca. Mas o diretor é seu amigo e deixa ele ir mais uma vez ao ar para se desculpar. Dessa vez ele faz um discurso irado, expressa a raiva e a impotencia dos americanos e pede para que todos corram a janela e gritem. Numa bela cena vemos as pessoas gritando nas janelas. Está construído um campeão de audiência. Vemos pelo resto do filme, esse ex-ancora e atual profeta, enlouquecer cada vez mais, até ser morto ao vivo. Peter Finch faz esse insano com humor e entrega, e nos dá uma das mais espetaculares atuações do cinema. Morreu do coração pouco antes da entrega do Oscar, já favorito, e venceu. Mas há mais.
Faye Dunaway faz a nova diretora de programação. Uma ambiciosa mulher de negócios, sem vida pessoal, que se envolve com o velho amigo do tal profeta. É hilária a atuação de Faye. Ela revira os olhos e goza quando fala em cifras, transa falando de programação e foge alucinada de tudo que seja vida real. William Holden faz o veterano de tv que se envolve com ela. Um observador da loucura dela e do profeta. Ele tem uma frase genial : - Ela é da geração que aprendeu a viver com o Pernalonga.
Robert Duvall faz o novo chefão de departamento. Consegue dar nuances à um personagem que é repulsivamente frio. A cena em que ele perde o emprego é de antologia.
Assistimos o enlouquecimento não só do profeta, mas da própria tv. Faye negocia com grupo terrorista e lança A HORA MAO-TSÉ-TUNG. E ao final vem a transmissão da morte ao vivo.
O filme exagera. Mas se minha geração foi educada por Kojak e Flintstones, a geração que hoje tem 30 foi criada por Xuxa e Jaspion e a atual cresce com filmes pornô na internet ( onde se vê gente defecando e pisando em ratos vivos ). William Holden diz que noventa por cento da população só conhece a vida via tv. Não lêem livros ou jornais. O que a tela mostra é sua única regra de comportamento, sua educação.
Em 1976 ainda se discutia isso. Hoje sabemos que o jogo foi ganho de goleada pela tv. A internet segue seus passos. Do veículo de cultura que se imaginava nos anos 90, se tornou rede de fofocas, sexo, violencia e jogos. Vivemos pautados pela tela. Nos interessa só o que passa por ela. O resto não existe.
Paddy Chayefski constroi um roteiro exemplar. Ainda não conheço filme tão bom sobre a tv e noto que o estilo visual de todos esses filmes tipo George Clooney é decalcado deste NETWORK.
Obrigatório !