A VIRGEM E O CIGANO- D.H. LAWRENCE

   O problema de Lawrence sempre foi as paredes. Ele as odeia. O espaço livre, sem muros, sem portas e sem paredes, esse seria seu paraíso. Todo livro seu é em síntese a tentativa de se destruir uma parede. E Lawrence sabia que as piores paredes eram aquelas feitas de carne e de alma. O sexo era para ele uma tentativa de derrubar a parede do corpo. O sexo uniria duas esferas ao destruir uma inibição: a corporal. Tradição, politica, igreja, costume, educação, contra tudo que significasse "muro" Lawrence se insurgia.
  Neste livro, sufocante, há uma familia. O pai foi abandonado pela esposa que fugiu com jovem amante. Deixou as filhas para trás. O pai cria as duas meninas com tias e avós. A velha avó, cega, domina a casa. Casa onde tudo é ressentimento, máscara, convenção e inveja. Surge então uma carroça cigana, e a irmã mais jovem irá sonhar com a liberdade. O sexo espreita.
  D.H. Lawrence nasceu em meio pobre. Casou-se com alemã ebuliente e seus livros sempre provocaram escândalo. A tuberculose marcou sua vida. Ele morreria com 45 anos, em 1930. Lutando pela vida, Lawrence viajou por México, EUA, India, Marrocos. Criou uma religião pessoal, um tipo de irmandade de almas onde Deus era a união das vidas da Terra. Glorificava tudo o que era livre, primitivo, não-civilizado. Sabendo de seu pouco tempo de vida, escreveu muito, com pressa. Mais de 50 livros.
  Lawrence não teve a calma para desenvolver a arte que sua ambição pedia. Mas nos deu de presente algumas páginas vitais, exageradas, coloridas, cheirosas, arriscadas. É hoje um dos autores "fora de moda". Ele ficou no limbo dos artistas que colocavam o idealismo acima de tudo. Nosso tempo abomina todo ideal. Harold Bloom pensa que Lawrence um dia voltará a ser "da moda". Penso que não. Nosso caminho será cada vez mais fragmentado, diminuto e sofista, o mundo dos grandes arroubos de coragem e de sonhos livres será código estranho e com o tempo indecifrável.
  Lawrence, se lido aos 15,16 anos pode dar um belo impulso a vida de seu jovem leitor. E se lido mais tarde pode recordar algo de precioso que há na vida. A vontade de ser voce-mesmo. Para Lawrence, o mais certo dos bens. E o único modo de justificar uma vida.