WHITE, WHITE, JABOR, DR.REY, FRASIER, QUEEN E VITÓRIA

Arnaldo Jabor escreveu ontem sobre a experiência de se assistir um filme de ação hoje. Ele fala do ruído, do movimento sem parar, da aversão ao pensamento. As duas horas que satisfazem plenamente, mas que deixam um vazio após a experiência. Quando o filme acaba, nada fica com você. Faltou Jabor falar que o efeito desse cinema sobre a mente é idêntico ao efeito da droga. Euforia, adrenalina e depois o silêncio vazio. Vem então a dependência e a aversão a lentidão e ao tempo-morto. O cinema não é mais relevante. Ele é um tipo de passatempo oco, que ainda impressiona algumas pessoas que não conseguem ler, e usam o cinema "de arte" como grife de cultura. O cinema dito "de arte" é ainda mais vazio que o cinema de ação. Vende tédio como sofisticação, ideias velhas como coragem e absoluto narcisismo impotente como estilo. É também uma droga que deprime, acalma, pacifica. Blá!
Um milagre aconteceu! Jack White conseguiu alguns anos atrás criar um riff que se tornou tão popular como Smoke on The Water ou Satisfaction. O riff do White Stripes é cantado em todos os jogos da Euro. Um riff de rock se fazer hino é coisa que não ocorria desde 1980, quando Back in Black virou tema de jornal. Isso faz com que eu lembre de 1977, quando em meu curso de inglês tivemos aula sobre um single recém saído. Ele tinha de um lado We're The Champions e do lado b, We Will Rock You... Quem diria que naquele vinilzinho vivia a trilha sonora de todo o esporte das décadas seguintes?
Dirigir de manhã cedo escutando Barry White....em seu tempo ele era uma vergonha, hoje é chic. Eu sempre achei ele o máximo!
Mostra de filmes de Satiyajit Ray. Por um real. A Canção da Estrada é um dos mais originais e belos filmes já feitos. Obrigatório para quem nunca viu, Ray é um nobre fazendo cinema. Um quase deus olhando a miséria da vida. E se pondo em meio a seu povo. E tem uma trilha sonora de chorar de alegria. Filmes como esse fizeram do cinema uma arte central. O tacho que se raspa hoje é o tacho feito por Ray e muitos outros.
Um amigo elogia a série vitoriana da TV. Engraçado como as novas gerações só aceitam novidades vindas em pacote televisivo. Orgulho e Preconceito é a era vitoriana em seu aspecto mais bonito. Mas ninguém viu. Já a tal série.... Meu amigo sacou que aquela época é um calmante para nossos tempos. Sim. Etiqueta, valorização do "melhor" e segurança social aparente. Eu creio que o fascínio pela época de Vitória e de Eduardo vem das porcelanas e dos guarda-chuvas. Aqueles ambientes de janelas embaçadas, sofás de veludo e lareiras imponentes dão um sensação de conforto e de consolo irrecuperáveis. O Discurso do Rei exibe a fratura que matou e enterrou esse mundo. My Fair Lady é o melhor retrato desse tempo em filme. Eu amo os livros escritos nesse tempo. E.M.Foster, Conrad, Wharton, Henry James, Woodehouse....
O Saturday Night Live se revela absoluto fiasco. Pena.... Erro de cálculo. Botar um programa de humor em concorrência com bundas, sensacionalismos e a hipnose de Silvio Santos é missão inglória.  Domingo a noite é horário de vlae tudo pela audiência. Mundo cão x Mundo idiota.
Dr.Rey é o ponto mais baixo que podemos chegar?
Reassisto Frasier. O segredo de uma série de TV, aliás, o segredo da TV, é a amizade. Gente na sala, na tela de TV, se torna um tipo de amigo consolador. Se o cara na TV consegue criar esse vínculo, vem o sucesso. No cinema ninguém precisa criar amizade pelos tipos na tela para os aceitar. Na TV não é assim. A gente os recebe em casa. O Dr. Frasier é o amigo que eu queria ter. Penso que quem ama House ou amou Friends sentiu o mesmo. É por isso que a TV nunca poderá ser completamente arte. A ofensa e a provocação antipática são impossíveis na TV. Por mais crua e sanguinolenta, sempre haverá um cara bacana e uma mocinha bonita no meio da coisa. Um amigo pra se ver em casa.