MORRISSEY

   Como aconteceu com Bob Dylan no rock dos anos 60, Morrissey é um belo talento nefasto. Se Dylan sem querer instituiu a praga do "rock relevante", Morrissey inaugurou o lixo do "rock em meu quartinho". Ele feminilizou o rock inglês e o transformou nessa coisinha fofa e sensível que suportamos até hoje. Mocinhos que amam seus ursinhos de pelúcia, com maço de rosas nas mãos e pensamentos "belos" na cabeça...Morrissey matou a virilidade do rock inglês.
   Mas assim como Dylan é infinitamente melhor que seus seguidores, Morrissey transcende a caricatura anódina que fazem seus seguidores. Ele é original, ele tem bom gosto, e ele tem um verniz de humor que seus fãs raramente percebem. Morrissey segue a linha de Oscar Wilde e de Evelyn Waugh, seus fãs são apenas seguidores do lado mais óbvio de suas letras. Chatos.
   Os Smiths eram ok. Mas eles dominaram a ilha de Thatcher. E criaram toda uma linhagem de meninos sensíveis. Chorosos e assexuados. Fico pensando que foram eles quem mataram a linha Clash-Jam-Specials, uma linha viril, anárquica, esperta, que foi engolida pela onda melancólica. Mas Morrissey não tem culpa nenhuma. Ele apenas fazia boas músicas. E era fã de Mott the Hoople e T.Rex. Pegou a Inglaterra num momento Culture Club e Duran Duran. Foi fácil dominar. Depois de Johnny Marr, nenhum guitarrista inglês ousou fazer pose de macho. Todos passaram a balançar a cabeça e a franja como Johnny Marr sempre fez. Nunca mais Mick Jones.
   Leio que João Gilberto, apesar de sua genialidade, trouxe uma maldição à MPB. Todos os cantores após ele se afeminaram. Passaram a cantar delicado, suave, feminino.
   Quem diria? Morrissey é o João Gilberto da Inglaterra.