OSCAR 2012, O ANO DA CRISE

   Pela primeira vez Hollywood admite que houve um filme falado em lingua estrangeira melhor que os feitos nos EUA/Inglaterra. Sempre existiram obras-primas em japonês, italiano ou suéco, mas Hollywood sempre acreditou que no fim das contas, seus filmes eram melhores. Porque isso acabou ontem?
   Um filme francês, de um diretor desconhecido, vence com facilidade aos velhos queridos da América ( Spielberg, Scorsese, Woody Allen e Malick ) e a novos queridos ( Alexander Payne, Brad Pitt e Clooney ). Como? Fácil entender.
   Quem vota é quem faz filmes. E essa premiação é um pedido de socorro. Hollywood, aquela que faz os filmes, e não a que contabiliza custos, aquela que ama o cinema, se encantou por um filme que faz tudo aquilo que eles não mais podem fazer. Um filme que não é parte dois de nada, que não é HQ, que não fala de gente doente ou doida, que não explora violência, que não tem efeitos. Mais que isso, é um filme que fala de amor, bondade, tempo e de cinema. Que lhes lembrou o que significa fazer parte dessa "arte".
   E acima de tudo: Que se pode fazer um filme de coragem. Pois nada pode ser mais arriscado que fazer um filme em P/B, mudo e sem tiros e explosões. Hollywood, sabendo que está num buraco, homenageia a si-mesma num filme estrangeiro.
   Porque o cinema como eu o conheci acabou. Os poucos bons filmes ainda feitos são irrelevantes. O que ficou são 10 monstros anuais que estouram nas bilheterias e um imenso resto que nada significa. Para minha geração ( a mesma de Alexander Payne, Todd Haynes e PT Anderson ), cinema era a arte mais importante. Kurosawa, Fellini ou Bergman eram mais geniais que os melhores escritores, poetas, pintores ou filósofos. Um grande filme era como uma igreja. Assim era para milhões de pessoas. Isso acabou. Cinema é hoje uma sala de emoções simples e baratas. Os filmes se tornaram vazios, bobos, nulos. E os atores choram por isso, os diretores suspiram pela liberdade perdida. Mas a culpa foi deles mesmos. Hollywood deseducou seu público e no processo o perdeu. Cinema já era.
   O Artista nos exibe o auge de uma crise. Em lindo filme que é como um ET no mundo atual. Bravo!
   Quanto a cerimonia....Excelente ver Billy Crystal de volta. Eles perceberam que o jeitão MTV dos últimos anos desmoralizava a festa. Billy foi engraçado, elegante e com timing perfeito. Jamais deveria ter saído.
   Thomas Langmann, produtor do Artista, citou Claude Berri. Claude foi um produtor e diretor excelente, mas Michel, o diretor, dedicou o Oscar a Billy Wilder. Ele falou: -Dedico o troféu a 3 pessoas, Billy Wilder, Billy Wilder e Billy Wilder.
   É um fato. Quando Fernando Trueba ganhou seu prêmio de filme estrangeiro também dedicou o Oscar a Billy. -Se eu acreditasse em Deus dedicaria o prêmio a Ele, como não creio dedico a Billy Wilder! Reza a lenda que Billy lhe ligou no dia seguinte: -Alô...é Deus falando...
   Europeus adoram Billy.
   Achei Angelina feia. Achei Natalie pavorosa. Milla estava bonita.
   Jean Dujardim tem a cara mais simpática do mundo. Espero que saibam honrar seu talento com roteiros que tenham a ver com ele. Já sei que não vai dar certo. Não se escrevem roteiros para atores simpáticos. Os poucos que surgem são todos de Clooney e Pitt. Então que Jean fique na França.
   Meryl tinha de vencer um dia. Pena que em filme tão ruim. E é sempre um prazer ver Colin Firth. De tudo que não vi, sinto vontade de ver apenas o filme sobre Marilyn e Olivier.
   Aposentaram a orquestra.
   A melhor coisa da noite foi a cena de Intriga Internacional no telão. O rosto de Cary Grant e o avião o perseguindo. Cinema em seu apogeu.
   Hugo é bonito mas O Artista é melhor. O Oscar tá pequeno. Hollywood passou trinta anos apostando em filmes idiotas. Namorando adolescentes. Adolescentes são infiéis por natureza. Agora é tarde. Os adultos ficaram adolescentes. O cinema errou.
   O Artista não.