Um dos aspectos mais enganosos de todo pensador é quando ele generaliza o que é particular. Digamos que um jovem inteligente, por um azar ou acaso da vida, tenha tido um pai extremamente severo e frio. Se pensador, o maior erro que esse homem poderia cometer seria o de formar uma tese geral baseada na frieza de todo pai. Ou digamos que um outro fosse incapaz de sentir amor. Como artista ele teria todo o direito de expressar o desamor da vida, sua má sorte amorosa, ou o pouco amor que é dado a seres como ele. Mas se ele formasse uma teoria em que a ausência de amor fosse lei geral, aí o particular se confundiria com o todo. Muitos se identificariam com a tese do pai frio e com a tese do amor ausente; mas aqueles que discordassem não estariam necessariamente errados. A teoria "chutada" por Mr.X não os teria conquistado porque sua vida nada teria de comum com sua tese. A maioria dos filósofos comete esse erro. Confunde sua visão pessoal de vida com a verdade geral. Generalisa. Faz do particular e original algo de geral e comum. Bergson, dentre várias outras coisas, se debate contra isso. Se ao falar do tempo ( duração ) e do pensamento ele é mais interessante, não deixa de ser fascinante a forma como ele demonstra o quanto há de ressentimento pessoal na filosofia, na sociologia e na psicologia. Pessoas que por serem incapazes de viver ou sentir alguma coisa da vida, passam a crer que não viver e não sentir tal aspecto seja o geral. Transformam a cegueira em falsa visão.
Toda a teoria de Bergson tem a saudável fonte da dúvida. Ele jamais diz "é assim", ou "deve ser isso". O que ele fala é "talvez seja" ou "pode ser que". Não temo dizer que é o meu filósofo. Dúvidas e ansiedades que tenho desde sempre são compartilhadas por Bergson. O que a mim importa é o que lhe importa. Autor que me surge na hora exata ( intuição? ). Me vem quando posso enfim o entender e ver o que ele viu.
O que mais se pode querer de alguém que pensa, a não ser pensar com voce sobre aquilo que é seu?