CITY HUNTER de Wong Jing com Jackie Chan
Um muito jovem Chan, num filme passado em navio. Ele luta pouco e o filme é Os Trapalhões made in Hong Kong. Tem cenas inacreditáveis! É o tipo de filme que quando resolve ser engraçado não teme a bobice. Eu me diverti. Mas está mais pra circo que pra filme. Nota 5.
SIDE STREET de Anthony Mann com Farley Granger
Noir de primeira. Um carteiro rouba grana de bandidão e se perde sem saber o que fazer depois. Devolve a grana? Gasta? Distribui? A vida do cara vira um inferno! Mann sabe tudo: o filme tem suspense, drama, ação e belas imagens. Pena Farley ser tão limitado ( mas não consegue estragar o filme ). É bom para quem ainda não descobriu o noir. Nota 8.
PASSOS NA NOITE de Otto Preminger com Dana Andrews e Gene Tierney
Cada vez mais me convenço que o paraíso do cinéfilo é o filme noir. Aqui, um policial psico mata um bandido e tenta esconder esse crime. Ao mesmo tempo se apaixona por moça simples. Há um soberbo clima de paranóia e Dana está muito bem. Seu rosto é maldoso e torturado. Preminger foi um muito bom diretor que Hollywood esnobava. Adoravam seus filmes, detestavam o homem. De todo gênero de filme, é o cinema noir o que menos envelhece. E é o mais difícil de ser refeito hoje. Um pequeno clássico. Nota 9.
PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO...de Kim-Ki Duk
Vamos lá. Existem filmes, como os de Aldrich ou Tarantino, que nada nos ensinam, nada têm de nobre. Mas que são cinema de primeira. Puro cinema. Esses são os grandes diretores. Artistas que se apoiam apenas no próprio veículo, nada pegando da literatura, do teatro ou da tv. Gente como Hitchcock, Ford ou De Palma. Mas existem aqueles que não são tão afinados com o puro cinema, que não fazem filmes tão excitantes, mas que enchem a tela de referências, de toques filosóficos, poluem o cinema de literatura ou de filosofia. São esses que fazem os filmes mais chatos do mundo, mas que às vezes nos fazem pensar. Este filme, como cinema puro, é apenas uma bela coleção de fotos. Mas ele faz pensar, faz viajar em idéias. Para o que se faz hoje, tá bom demais. Nota 7.
ADÚLTERA de Claude Autant-Lara com Gerard Philipe e Micheline Presle
Eis o tipo de filme que Godard/Truffaut/Chabrol adoravam esculachar nos Cahiers du Cinema. Dá pra se imaginar suas páginas furiosas sendo escritas, enquanto esta lenga-lenga sonolenta rola na tela. O filme é pesado, morto, escuro, feminino ( no pior sentido ), velho, insuportável. E todo metido a arte, tem a ilusão do bom-gosto, tenta ser belo, superior.......Não é a toa que eles amavam tanto o cinema noir e o western!!!!!! Nada é menos western e noir que esta coisa modorrenta!!!!! Mereceu cada chibatada que os jovens cineastas lhe deram. Nota Zero.
REBOBINE POR FAVOR de Michel Gondry com Jack Black
Mas Gondry não era um gênio? Onde? Como desculpar um filme tão "esperto" como este? Seu humor parece piada de fim de festa de casamento, suas sacadas são as sacadas das pegadinhas do Faustão. Um lixo que chega a ser constrangedor. Parece um filme ao qual não fomos convidados a assistir, uma brincadeira entre amigos. BáaaaaH!!!! Nota Zero.
SANGUE NEGRO de Paul Thomas Anderson com Daniel Day-Lewis
Anderson, ex-assistente de Altman, diz ter assistido toda noite a O TESOURO DE SIERRA MADRE enquanto filmava este imenso mural sobre a ambição. Foram mais de sessenta vezes que Bogart e Huston acompanharam as noites de Anderson. Deu certo? Sem dúvida é um filme invulgar. É ambicioso, cinema puro, sem popices, sem falsos toques de "genialidade". Ele é doloroso, é bonito, e tem um ator em atuação inspirada. Mas para cinéfilos ele trai várias influências e isso o esvazia um pouco. A gente percebe de onde foi tirada cada cena. Mas... e daí? pelo menos ele tem o gosto de pegar essas cenas de fontes puras e não de video-games ou da tv. Um comentário: o povo mais animadinho adora os filmes de Fincher, Gondry e Nolan. Assim como os metidos adoram Trier, Lynch e Kar Wai. Prestem atenção em Joe Wright, Alexander Payne, Todd Haynes, Irmãos Coen e James Mangold. Em 2030 é o que ficará. E Paul Thomas Anderson também. Nota 8.
PISTOLEIROS DO ENTARDECER de Sam Peckimpah com Randolph Scott e Joel McCrea
Já ví crítico dizer que é este o melhor filme de Peckimpah. Só para quem não gosta de Sam !!!! Neste que é seu segundo filme, vemos esse estupendo diretor ainda preso, ainda contido em suas doideiras. Mas já dá pra entrever seu humor tétrico, sua violência gráfica, e seu amor pelos velhos perdedores. O que há de melhor é a relação entre os dois velhos cowboys. O filme mostra o fim de sua época. Mas perde tempo demais com jovem casal ! Repare que os coadjuvantes já se parecem com aquele tipo de cowboy sujo e meio louco dos westerns da época hippie. Este filme foi feito cinco anos antes dessa época. A forma como os bandidos morrem já é de nosso tempo, eles caem para trás, o sangue escorre e vemos que a dor existe. O poeta da violência já lutava por nascer. Nota 6.
IMPACTO FULMINANTE de Clint Eastwood com ELE e Sondra Locke
Quarta aventura de Harry Callahan. É aqui que está a famosa frase : GO AHEAD, MAKE MY DAY ! Estranho, após o maravilhoso primeiro Dirty Harry, todos os outros parecem pastiches, falsos, quase gozações. E este, o único dirigido por Clint, tem a cena mais amadora que já vi : um carro estaciona num bosque, um cara desce, e vemos refletido no vidro do carro um rosto sorrindo e uma câmera ao lado!!!!!!!! Sim!!!! O câmera foi refletido pelo vidro e aparece nítido e sorrindo no filme...Como Clint não viu isso? O editor é Joel Cox, de todos os filmes de Clint, a Warner produziu, como passou uma coisa tão amadora???? É inexplicável..... Após essa cena, perdi todo o interesse pelo filme, passei a vê-lo como uma brincadeira, e fim. Clint Eastwood, ídolo meu, é um cara inescrutável. Nota 4.
SUBLIME OBSESSÃO de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman
Um mês atrás assisti a versão anos 30 desta história. O filme é uma babaquice melosa e insuportável. Escrevi que se Douglas Sirk tivesse conseguido salvar aquela história ridicula na sua refilmagem de 1954, eu o chamaria de gênio. Pois eis um gênio: Douglas Sirk. Este ídolo de Almodovar, Fassbinder e Todd Haynes, com ritmo, economia e objetividade, salva a história melosa, e nos dá um drama envolvente, vivo, exagerado e fascinante. O filme é tudo aquilo que toda novela de tv tenta ser, viciante. Os atores estão perfeitos e a trama, sobre playboy que se apaixona pela ex-esposa de médico por cuja morte ele foi acidentalmente responsável, acaba nos pegando, apesar de todo seu não realismo. É cinema de verdade, sem afetação, uma história sendo contada com ritmo musical, sem falhas, com tudo no lugar certo. Sirk sabe. Nota 9.