Sly explode em 1968 tomando de assalto as paradas dos EUA com uma mistura de funk com soul e psicodelismo. Sua música, alegre e otimista, dançante e viajante, pregava um novo mundo, mundo onde brancos, negros, mulheres, chicanos e indios viveriam em completo estado de fun. Sua banda era um grupo que exemplificava essa afirmação. Negros e brancos tocando juntos, com um batera mexicano e duas mulheres, uma delas no trompete. Em 1969 eles estão no auge, roubam o show em Woodstock e lançam TRÊS !!!! albuns e conseguem TRÊS!!!! Primeiros lugares.
Mas vem 1970 e tudo muda. Sly se tranca em estúdio, gasta uma fortuna em mixagem, descobre os gigantescos e complicadíssimos sintetizadores da época, enche-se de cocaína e torna seu som uma coisa muito menos fun e tremendamente soturna. Lança no fim do ano THERE'S A RIOT e consegue mais um primeiro lugar. Mas é o começo do fim. Vamos ao som.
Primeira impressão. A mixagem é tão diferente, torta, quebrada, que voce vai achar que o disco tem algum defeito. Os instrumentos surgem e somem, o volume varia, os agudos crescem, a bateria quase desaparece, o baixo está alto demais. E o vocal não é vocal. É apenas grunhido e gemido. Bateria eletrônica e muito teclado. E o baixo de Larry Graham, aqui inventando o snap.
Ele é todo dançante e a segunda coisa muito estranha é que ele não tem época definida. Dizer que ele é do tempo de Let It Be ou Let It Bleed é muito estranho. Ele parece de outro tempo. Qual ?
Se EXILE ON MAIN STREET é o disco de rock que toda banda tem de um dia enfrentar, RIOT é o disco que todo artista negro traz como charada em sí. De James Brown a Prince, passando por grupos de rap e cantores de r/b, todos tentaram seu RIOT. É o rito de passagem , o ficar adulto, o se mostrar multi-facetado, e é, sempre, o começo do fim. Todos eles quando fizeram seu RIOT de certo modo, se esfacelaram a seguir. Quando não, terminaram ( Outkast é bom exemplo )
Luv'n haight abre o disco e nela voce já vê a quebradeira e o baixo mandando. Sly grita e geme e grunhe e berra. Nada no disco é canção. Pode-se dizer que é voodoo elétrico. Isso define o disco, ele é tão elétrico que dá choque.
just like a baby é puro sexo. Uma transa molhadaça em lençóis sujos. Sly mia aqui.
poet é das coisas mais lindas da história do gênio humano. O som divaga dentro de seu próprio som e atinge uma introspecção coltraneana. Ouvir isto é morrer um pouco.
family affair é momento de falsa alegria. O disco é de ironia.
asphalt jungle é o som dançante "do futuro". Quanta gente do rap já bebeu aqui ? Um auge de música negra ( mais um ) numa sequencia de faixas que é o auge dos auges.
brave and strong é uma afirmação. Seus ouvidos já se acostumaram com o som anguloso e quebrado. Agora, aqui, é tudo dança. A banda, a melhor das bandas de qualquer cor, está tão afiada que chega a aturdir.
smilin' é doce como veneno. Repare no baixo e tome consciencia : o disco quase não tem bateria!
time é pra se derreter. Hino das cenas dionisíacas de minha vida, abraço de paixão, é triste triste triste. Sly se lamenta, sai do tom, geme atravessado, nunca está cantando. Ele está em perigo sempre.
spaced cowboy é isso. Doidona. LSD hilário e gozação chapada. Dá pra ver que eles se divertiam, mas dá pra ter certeza : o fim está chegando.
runnin away é pausa que refresca.
thank you é o fim. Leio que é a descrição de uma morte a bala. É hipnose. É para nunca se esquecer. Uma longa dança de feitiço, uma orgia solitária, assassinato do Sly original, disparo de revólver. Uma comunhão de baixo e teclado com vozes alucinadas que levam seu cérebro e seus quadrís ao desencontro. Você DANÇA!
Este disco é Public Enemy, é acid music, é rap, é Red Hot Chili, é Massive Attack, Prince, Guru e Outkast. È um de meus top five e é prova de que dá pra ser genial e ainda assim nunca ser chato ou pedante.
Depois deste disco Sly continuou lançando discos. Mas, com o cérebro frito pelo pó, nada mais era sombra ao que ele fizera. Vai ter mais um come back dele neste verão europeu. Reverenciá-lo é obrigatório. O cara não tem rival.
Mas vem 1970 e tudo muda. Sly se tranca em estúdio, gasta uma fortuna em mixagem, descobre os gigantescos e complicadíssimos sintetizadores da época, enche-se de cocaína e torna seu som uma coisa muito menos fun e tremendamente soturna. Lança no fim do ano THERE'S A RIOT e consegue mais um primeiro lugar. Mas é o começo do fim. Vamos ao som.
Primeira impressão. A mixagem é tão diferente, torta, quebrada, que voce vai achar que o disco tem algum defeito. Os instrumentos surgem e somem, o volume varia, os agudos crescem, a bateria quase desaparece, o baixo está alto demais. E o vocal não é vocal. É apenas grunhido e gemido. Bateria eletrônica e muito teclado. E o baixo de Larry Graham, aqui inventando o snap.
Ele é todo dançante e a segunda coisa muito estranha é que ele não tem época definida. Dizer que ele é do tempo de Let It Be ou Let It Bleed é muito estranho. Ele parece de outro tempo. Qual ?
Se EXILE ON MAIN STREET é o disco de rock que toda banda tem de um dia enfrentar, RIOT é o disco que todo artista negro traz como charada em sí. De James Brown a Prince, passando por grupos de rap e cantores de r/b, todos tentaram seu RIOT. É o rito de passagem , o ficar adulto, o se mostrar multi-facetado, e é, sempre, o começo do fim. Todos eles quando fizeram seu RIOT de certo modo, se esfacelaram a seguir. Quando não, terminaram ( Outkast é bom exemplo )
Luv'n haight abre o disco e nela voce já vê a quebradeira e o baixo mandando. Sly grita e geme e grunhe e berra. Nada no disco é canção. Pode-se dizer que é voodoo elétrico. Isso define o disco, ele é tão elétrico que dá choque.
just like a baby é puro sexo. Uma transa molhadaça em lençóis sujos. Sly mia aqui.
poet é das coisas mais lindas da história do gênio humano. O som divaga dentro de seu próprio som e atinge uma introspecção coltraneana. Ouvir isto é morrer um pouco.
family affair é momento de falsa alegria. O disco é de ironia.
asphalt jungle é o som dançante "do futuro". Quanta gente do rap já bebeu aqui ? Um auge de música negra ( mais um ) numa sequencia de faixas que é o auge dos auges.
brave and strong é uma afirmação. Seus ouvidos já se acostumaram com o som anguloso e quebrado. Agora, aqui, é tudo dança. A banda, a melhor das bandas de qualquer cor, está tão afiada que chega a aturdir.
smilin' é doce como veneno. Repare no baixo e tome consciencia : o disco quase não tem bateria!
time é pra se derreter. Hino das cenas dionisíacas de minha vida, abraço de paixão, é triste triste triste. Sly se lamenta, sai do tom, geme atravessado, nunca está cantando. Ele está em perigo sempre.
spaced cowboy é isso. Doidona. LSD hilário e gozação chapada. Dá pra ver que eles se divertiam, mas dá pra ter certeza : o fim está chegando.
runnin away é pausa que refresca.
thank you é o fim. Leio que é a descrição de uma morte a bala. É hipnose. É para nunca se esquecer. Uma longa dança de feitiço, uma orgia solitária, assassinato do Sly original, disparo de revólver. Uma comunhão de baixo e teclado com vozes alucinadas que levam seu cérebro e seus quadrís ao desencontro. Você DANÇA!
Este disco é Public Enemy, é acid music, é rap, é Red Hot Chili, é Massive Attack, Prince, Guru e Outkast. È um de meus top five e é prova de que dá pra ser genial e ainda assim nunca ser chato ou pedante.
Depois deste disco Sly continuou lançando discos. Mas, com o cérebro frito pelo pó, nada mais era sombra ao que ele fizera. Vai ter mais um come back dele neste verão europeu. Reverenciá-lo é obrigatório. O cara não tem rival.