ALTMAN/CORNEAU/JOHN WAYNE/ERA DO GELO

SIM SENHOR de Peyton Reed com Jim Carrey e Zooey Deschanel
Volto a falar deste filme para dizer algo assustador : o quanto um filme pode ser ruim. Um cara ( um Carrey apático em seu medíocre papel ), fala não para a vida. Após palestra ( dada por Terence Stamp ), começa a dizer sim a tudo. Fosse menos cretino, o filme o envolveria em confusões sexuais, confusões com patrões e com os amigos. Mas não. Para o roteirista, dizer sim é pagar bebidas aos amigos, pagar cursos e comprar coisas. Para se falar sim é preciso ter cartão de crédito dourado. Retrato de um tempo onde diversão é encher a cara e pagar algo de novo. O romance com a mocinha é inconvincente : ela canta em banda de rock tipo anos 80 mas é a imagem da caretice. E que amigos são esses ? Em todo o filme não dizem duas frases diferentes ! Um horror ! sem nota.
A ERA DO GELO 3 de Carlos Saldanha
Uma deliciosa comédia com personagens bem delineados, belo visual e que não tenta vender nada. É lógico que não procuramos arte aqui, mas ele faz algo que os filmes pop de hoje não sabem mais nos dar : uma alegre diversão que não nos agride, não nos chama de idiotas. nota 5.
MAC CABE & MRS. MILLER de Robert Altman com Warren Beatty e Julie Christie
O que primeiro salta aos olhos é a foto de Vilmos Zgismond. O filme é de uma plasticidade melancólica e gelada. Passa-se na fronteira EUA/ Canadá e estamos em 1890. Um cara otimista monta bordel em vila mineira. Ele tem bom coração e tudo que deseja é alguém que lhe dê afeto. Assistimos o que lhe acontece. O filme é difícil : lento. Talvez seja o mais triste filme americano já feito ( Pauline Kael o chama de " o mais triste e belo dos filmes " e Roger Ebbert de " um filme perfeito " ). Eu o assisti com dois sentimentos : quase irritado por sua lentidão, mas, ao final, apaixonado por sua magnífica beleza. O final, numa nevasca, é talvez o mais melancólico já visto. Tem uma beleza aterradora. Não tem trilha sonora : é pontuado por lindíssimas baladas desesperançadas de Leonard Cohen. É uma obra-prima da inocência poluída, da esperança destroçada, da solidão sem fim. Uma obra-prima de cinema ousado, sem nenhuma concessão, heróico. Nota DEZ.
IF... de Lindsay Anderson com Malcolm MacDowell
Um perfeito retrato da rebeldia e do desamparo adolescente. Eles tentam ser diferentes e não conseguem, tentam ser livres e não sabem o que é a liberdade. O que fazem então ? Destroem. Surrealista, cheio de significados e fácil de se assistir, é um filme manifesto, um poema à ira, um filme de ação. nota 9.
WEEK-END de Godard com Mireille Darc, Jean Yanne e Leaud
Não pode ser analisado a luz da razão. Ele vai contra tudo e todos. Do dinheiro ao sexo, de burgueses aos grupos extremistas, sobra pra todo mundo. Sem nota, pois um zero seria absurdo e um dez impossível.
NUNCA AOS DOMINGOS de Jules Dassin com Melina Mercouri
Um americano vai à Grécia atrás de respostas. Ele quer saber onde a Grécia errou. Lá, conhece uma prostituta que é a personificação da alegria grega. Mas ele tenta lhe dar cultura, filosofia, e a estraga. No fim, a alegria vence. Dassin foi um ótimo diretor. Na América fez alguns dos melhores policiais da história. Perseguido pelo MacCarthismo, teve na Europa uma segunda e excelente carreira. Aqui ele encontra a estrela grega Melina, com quem se casaria. Ela lutaria contra a ditadura grega e terminaria ministra da república livre de seu país. O filme, comédia bela e despretensiosa, encanta por sua alegria genuína e a bela paisagem grega. nota 7.
A TRÁGICA FARSA de Mark Robson com Humphrey Bogart e Rod Steiger
Último filme de Bogey. Fala do submundo do box. Um lutador tipo Maguila, inocente e manipulado, vence lutas arranjadas até um quase título. Bogey é o jornalista que manipula essa verdade falsa. Um derrotado. O filme é ok. nota 5.
MALPETIUS de Harry Kummel com Mathieu Carriere e Orson Welles.
Pretensioso e chato. Algo sobre deuses e mitos. Uma bomba! nota Zero!!!
TRUE GRIT de Henry Hathaway com John Wayne e Kim Darby
O filme que deu o oscar à Wayne ( vencendo maravilhosos Dustin Hoffman e Jon Voigt em Perdidos na Noite ). Ele está comovente como um justiceiro bêbado e amargo que ajuda mocinha a vingar a morte do pai. Belas paisagens, ação na medida exata, algum humor e o carisma do mito da aventura. Muito satisfatório. nota 7.
NO VELHO CHICAGO de Henry King com Tyrone Power, Don Ameche e Alice Faye
A primeira hora é um melô envelhecido sobre família irlandesa que enriquece na Chicago de 1870. Mas a meia hora final é um primor. Um incendio que devasta a cidade. Efeitos especiais que ainda impressionam e um senso de suspense e movimento soberbos. Os figurantes, centenas, estão maravilhosamente bem dirigidos e fotografados. Fogo, água e multidões se movendo sem cessar. Vale o filme. nota 6.
TODAS AS MANHÃS DO MUNDO de Alain Corneau com Jean-Pierre Marielle e Gerard Depardieu
A vida do músico Saint-Colombe ( que nunca ouví falar ) narrada por Marin Marais, seu aluno bem sucedido. O filme é tudo aquilo que Amadeus não pode ser : místico, reverente, artístico. Talvez por a arte de Mozart ser terrena, comunicativa e leve. O ambiente é o do Jansenismo do século xviii. O filme tem uma austeridade rígida, fria, severa. Marielle brilha. Vemos e sentimos sua dor. O filme quase faz um milagre : ele chega perto de nos comunicar o segredo da música. Há um diálogo final entre Marielle e Depardieu que é absoluto sublime. O aluno tenta obter o segredo do mestre. Nós o obtemos. O filme é também um manifesto de um mundo perdido : mundo em que se criava e se vivia para Deus, para a eternidade, para o atemporal. Corneau venceu 8 césares em 1991. Mereceu todos. Eis um corajoso e original ! nota 8.
COWBOY de Delmer Daves com Glenn Ford e Jack Lemmon
Nesta história de um atendente de hotel que quer ser cowboy temos tudo aquilo que pedimos : ação, emoção e boas atuações. Entramos na vida de bois, cavalos, índios, espaço aberto, poeira. A violência é constante e para sobreviver é preciso ser individualista e frio. Jack dá show, mas Ford, ator subestimado, impressiona mais. Seu cowboy é a imagem da vida na estrada. Belíssimo. Nota 8.