ROGER SCRUTTON E O VALOR DO METALLICA

   Roger Scrutton escreveu um texto exaltando o Metallica. Sim. Roger, que desprezava o rock, viu na banda uma qualidade sinfônica que o tocou. Metallica era Wagner com eletricidade.
  Tenho um amigo que toca em orquestra sinfônica. Ama Bach. Me contou que eles se apresentaram uma vez tocando uma faixa do album preto da banda. A faixa que postei logo abaixo. Disse ele que ficou fabuloso.
  Quem diria!
  Meu irmão me deixou de herança os 4 primeiros discos do Metallica. Demorei um ano e meio para os escutar. Então escuto. Mas começo por aquele que ele não me deixou de presente, começo pelo album preto, eu o comprei. Um choque! Trata-se, escutado em 2020, sem preconceito afinal, escutado por mim, que nunca o ouviu antes, trata-se como disse, de uma obra-prima. Sim. Uma obra-prima.
  Entendo Scrutton ( para quem pensar que estou sendo catequizado pelo filósofo, eu li o texto depois de me apaixonar pelo disco ). O LP é uma sinfonia riquíssima que atualiza aquilo que Richard Wagner fizera em 1850. Cada faixa é uma pequena sinfonia em si mesma, uma página de temas que se desenvolvem como um disparo de cavalos selvagens. O som é violento, mas é soberbamente pensado. Eles têm total domínio daquilo que fazem. E o que fazem é rock em sua forma mais elevada. Mistura de groove com melodia quebrada, peso em timbres metálicos.
  Após me encantar, procuro textos sobre o disco e é então que topo na net com o texto de Scrutton. Leio também outras fontes que dizem ser esse o disco de rock mais vendido desde 1991. Na verdade foi aquele o último período em que o rock vendia tanto quanto outros tipos de música. Época de Red Hot, U2, Pearl Jam e Nirvana vendendo muito. Logo viria o tempo de Jay Z, OutKast, Black Eyed Peas, Snoopy, e o rock ficaria beeeem fora dos top 10. ( Ocasionais Coldplay apenas confirmam a regra ).
  Descobrir uma banda na minha idade é um prazer maravilhoso. Ainda mais uma banda como o Metallica. Tenho a oportunidade de ouvir pela primeira vez TODA sua discografia. Às vezes penso como é triste não poder mais ouvir Roxy Music ou Low pela primeira vez. Mas eis que ainda há o que descobrir. E são discos fáceis de achar, o que é ainda mais legal.
  Em 1991 eu estava ouvindo Chris Isaak. Happy Mondays. Public Enemy. Não renego nada. Continuo amando todos eles. Quando na MTV entrava algo de mais heavy eu mudava de canal. Ainda cabeça feita, eu odiava aquilo que me ensinaram ser "musica de idiotas". Preconceito? Muito. Odiava sem ouvir. Era tabu para mim.
  Trinta anos depois eis que estou aqui, na meia idade, ouvindo a obra dos caras pela primeira vez. Para mim é novo. Virgem.
  Espero que voce, que em 1991 ouviu setecentas vezes o album preto, dê, em 2020, uma chance para o Public Enemy. Ou para os Charlatans, que ouvi muito naquele tempo também. Talvez para voce esses caras parecerão novos. Mesmo que voce conheça 911 is a Joke, o resto do album será inédito.
  Abro mais uma porta em minha cabeça musical. Entendi onde está a genialidade de James e de Kirk. Master of Puppets é tão bom quanto. Mas este disco preto....