NIGHTMARE ALLEY E AQUELES QUE NÃO SABEM NADA. ( música pop )
A Band TV disse que Charlie Watts é o primeiro stone a morrer. Waalll....exigir hoje que um jornalista saiba que Brian Jones existiu parece ser pedir demais, quanto mais querer que ele saiba que Ian Stewart também foi um stone. Recentemente numa transmissão de esporte, um jornalista passou minutos entoando homenagens a um esportista que havia falecido. Seria Okay se esse esportista não houvesse morrido nove anos antes. A coisa nas sessões de arte é ainda mais grotesca. Como dizia Roger Scruton, não se julga mais uma obra, simplesmente se segue o espirito do grupo ao qual se deseja fazer parte. Se o veículo for de viés X, o criticozinho irá dar óbvios e surrados elogios aos artistas permitidos pelo grupo X. Formar-se-a um círculo de pessoas contentinhas: voce divulga o produto X, eu consumo o produto X e o novo artista será X, que será elogiado pelo escriba X e consumido pelo povo X e por aí vai. Uma repetição sem fim e de caráter entediante. ------------------------- Veja o cinema por exemplo. Faz mais de vinte anos que o filme moderno é o mesmo tipo de filme moderno. E vinte anos em cinema é um século em pintura. Nem vou dizer que esse foi um tipo de modernismo que infantilizou de vez o público de cinema. Criou o eterno adolescente tristinho de 40 anos. Pior, deu ao público desses filmes, esnobes por natureza, e depois te explico o que é um esnobe, o estatuto de sábio sobre filmes. Gente que, vi isso recentemente, elege Pedro Almodovar o maior cineasta "clássico" da história do cinema. Clássico... ( Não suporto o chorão Almodovar, e de clássico ele não tem nada. Sua carreira teve um auge de quantos anos? Cinco? ). Esse povo, preconceituoso até a alma do umbigo, adora discorrer sobre a beleza do preto e branco ( e viram apenas alguns clips em pb e talvez uns trechos de Metropolis ), falam de Godard sem jamais o ter assistido ( sorte deles ) e citam sempre Kubrick e Hitchcock como bons diretores do passado ( viram Laranja Mecânica e o acharam "profundo" e encararam Psicose e Janela Indiscreta, só isso ). ----------------- Para esse povo, Hollywood era uma fazedora de filmes em série, comuns, caretas, todos iguais. Daí eu revejo ontem O BECO DAS ALMAS PERDIDAS, Nightmare Alley, filme de 1947, dirigido por Edmund Goulding ( quem ? ), escrito pelo grande Jules Furthman. Do que ele fala? Do mundo dos shows de feira, do que se chamava na época GEEK SHOW. ( Sim, geek era o mesmo que freak ). Bêbados que comem galinhas vivas no palco, cartomantes de araque, homens forte doentes.... Um cara, Tyrone Power, hiper ambicioso, mal caráter até a medula, é o heroi desse filme sem herois. Repulsivo. Ele cresce com um ato de adivinhação. Conhece uma psicóloga que grava suas sessões de psicanálise para chantagear gente poderosa, e unidos dão um golpe imenso. O filme, que voce assiste milagrosamente com prazer, é tudo aquilo que o esnobe acha que o cinema dos anos 40 não é: sem glamour, realista, sujo, sem gente legal, repulsivo. Sem moral alguma. ------------------ Eu estava ouvindo algumas bandas bem bobinhas dos anos 60. Coisas como The Associations. Beau Brummels. Lovin Spoonful. Esses caras nasceram todos entre 1940-1950. Foram crianças em 1954-1964, por aí. Lembrei então que no rádio, em sua infância, tocava muito jazz de big bands, cantores como Sinatra e toneladas de música clássica. Na TV havia os desenhos de Tom e Jerry, Pica Pau e Pernalonga, e suas trilhas sonoras, se ouvidas com olhos fechados, são pura música erudita modernista. ( Deus salve Carl Stalling ). No cinema havia os grandes musicais dos anos 50. E as trilhas grandiosas dos westerns de então. Percebo que é por isso que mesmo na música mais POP de 1966-1976, há sempre o desejo de fazer um arranjo mais elaborado, mais erudito em clave mínima. Os Beach Boys provam isso. ------------- Toquei nesse assunto para mostrar como pode ser nociva o tipo de cultura que se propaga hoje. É a cultura do esnobismo. Tipo: Eu sei o que é bom, eu sei como isso é ( sem o conhecer ), eu me basto a mim mesmo. Já disse em outros posts que aqui no Brasil, nos anos 70, rádios misturavam na plau list Benito di Paula com Bowie, para ouvir um voce tinha de ouvir o outro. Era fantástico. ------------------- Fico com pena dos garotos que escolhem no spotify passar a vida inteira ouvindo apenas aquilo que já conhecem, mas pior ainda são os "cultos" que passarão a vida ouvindo aquilo que seu círculo X permite. Não à toa eu sinto uma limitação de estilo brutal em cada nova banda que escuto. Eles ouviram 30000 coisas na vida, mas todas dentro de um mundo X. ----------------- Morou?