Ayiné é o nome da editora. Mineira. Ela tem lançado pequenos livros, bem feitos e interessantes. Estilosos. Scruton tem sido publicado neste fim de mundo por 3 editoras diferentes. Bom sinal. Se voce nunca o leu, este livro é um bom começo. Ele traz textos publicados em revistas e jornais, e dois deles são inéditos. Felizmente o autor escreve muito. Ler seu pensamento é um prazer.
Descobri Scruton por acaso e a identificação foi imediata. Ele não só raciocina como eu gostaria de poder, como vê o mundo de um modo que é irmão ao meu. Aqui darei uma geral muito breve deste livro. Tudo escrito abaixo é de sua fonte. Meus adendos vêm entre parênteses.
O primeiro texto, Fingindo, toca num dos pontos que mais interessam aqueles que conhecem Scruton: a falsidade na arte. O modo como a arte moderna tem um caráter de embuste, onde críticos fingem ver complexidade onde só há vaidade. O artista finge se levar a sério, o crítico finge entender algo de imenso na obra e o público finge gostar. Todos ficam contentes e ninguém diz a verdade.
O segundo texto é o mais bonito do livro. Fala dos animais. A princípio, parece que ele vai atacar a mania de defender bichos. Mas não. Ele ataca apenas os gatos. ( Leia e entenda o por que ). Scruton defende os animais selvagens, e dá motivo racional, não sentimental, para isso. E faz um lindo retrato, real, do que é um cão. Ele pensa como eu. Um bicho está longe de ser um bebê ou um ser. Mas ele tem sentimentos, tem emoções e deve ser tratado com dignidade. Mesmo que sua vida seja apenas caçar e ser caçado.
Não falarei de todos os textos. Isto não é um resumo, é apenas um elogio. Mas tenho de citar o texto sobre a dança. Ele dá a melhor descrição sobre o que significa a música eletrônica e onde mora o valor da música POP. A dança, a dança a dois, em salão, grupal, com passos decorados, movimentos delicados, atenção ao parceiro, era uma linguagem que ensinava o jovem o jogo da cortesia, dos bons modos e da leveza no trato à vida. ( Lembro que mesmo meu pai, um anti social, sabia dançar valsa ). A música eletrônica nos faz dançar a sós, ou pior, em exibicionismo narcísico, onde o outro existe apenas para ser conquistado ou para ser nosso espelho. Não há ritual, regras, modos ou cuidado com o parceiro. Não há na verdade parceiro nenhum. Scruton, que sabe muito de música, fala sobre a harmonia, a melodia, a função educativa que elas possuem, e de como, mesmo na mais banal das melodias POP, elas ainda tentam sobreviver.
O mais profundo dos textos é aquele que fala da hora certa de morrer. Esse toca numa ferida. Haveria momento certo para se morrer? Vale a pena viver uma vida de doença? Não há como eu resenhar este texto. O desenvolvimento do pensamento de Scruton é astuto e poético. Precisa ser lido. O que digo é que ele fala que a vida é uma questão de profundidade e nunca de duração.
Há ainda textos sobre o luto, a tela e a internet ( o menos bom deles...ele não erra, mas é quase óbvio ), formas de governo, o que é o conservadorismo ( inexistente neste canto de mundo ), arquitetura, ícones visuais. É um banquete para o cérebro e um guia para o coração. Voce tem de ler este livro. Sua mente o merece.
Descobri Scruton por acaso e a identificação foi imediata. Ele não só raciocina como eu gostaria de poder, como vê o mundo de um modo que é irmão ao meu. Aqui darei uma geral muito breve deste livro. Tudo escrito abaixo é de sua fonte. Meus adendos vêm entre parênteses.
O primeiro texto, Fingindo, toca num dos pontos que mais interessam aqueles que conhecem Scruton: a falsidade na arte. O modo como a arte moderna tem um caráter de embuste, onde críticos fingem ver complexidade onde só há vaidade. O artista finge se levar a sério, o crítico finge entender algo de imenso na obra e o público finge gostar. Todos ficam contentes e ninguém diz a verdade.
O segundo texto é o mais bonito do livro. Fala dos animais. A princípio, parece que ele vai atacar a mania de defender bichos. Mas não. Ele ataca apenas os gatos. ( Leia e entenda o por que ). Scruton defende os animais selvagens, e dá motivo racional, não sentimental, para isso. E faz um lindo retrato, real, do que é um cão. Ele pensa como eu. Um bicho está longe de ser um bebê ou um ser. Mas ele tem sentimentos, tem emoções e deve ser tratado com dignidade. Mesmo que sua vida seja apenas caçar e ser caçado.
Não falarei de todos os textos. Isto não é um resumo, é apenas um elogio. Mas tenho de citar o texto sobre a dança. Ele dá a melhor descrição sobre o que significa a música eletrônica e onde mora o valor da música POP. A dança, a dança a dois, em salão, grupal, com passos decorados, movimentos delicados, atenção ao parceiro, era uma linguagem que ensinava o jovem o jogo da cortesia, dos bons modos e da leveza no trato à vida. ( Lembro que mesmo meu pai, um anti social, sabia dançar valsa ). A música eletrônica nos faz dançar a sós, ou pior, em exibicionismo narcísico, onde o outro existe apenas para ser conquistado ou para ser nosso espelho. Não há ritual, regras, modos ou cuidado com o parceiro. Não há na verdade parceiro nenhum. Scruton, que sabe muito de música, fala sobre a harmonia, a melodia, a função educativa que elas possuem, e de como, mesmo na mais banal das melodias POP, elas ainda tentam sobreviver.
O mais profundo dos textos é aquele que fala da hora certa de morrer. Esse toca numa ferida. Haveria momento certo para se morrer? Vale a pena viver uma vida de doença? Não há como eu resenhar este texto. O desenvolvimento do pensamento de Scruton é astuto e poético. Precisa ser lido. O que digo é que ele fala que a vida é uma questão de profundidade e nunca de duração.
Há ainda textos sobre o luto, a tela e a internet ( o menos bom deles...ele não erra, mas é quase óbvio ), formas de governo, o que é o conservadorismo ( inexistente neste canto de mundo ), arquitetura, ícones visuais. É um banquete para o cérebro e um guia para o coração. Voce tem de ler este livro. Sua mente o merece.