SELTON MELLO/ HAWKS/ JODIE FOSTER/ MIZOGUCHI/ REDFORD

NÃO TE MOVAS de Sergio Castellito com Penelope Cruz
Picaretagem braba! Uma coleção de clichés significando tédio e chatice inglória. nota zero.
IBÉRIA de Carlos Saura
É uma coleção de cenas com música e dança espanhola. A maestria de Saura em mover a câmera é aqui muito bem-vinda. O filme é aula de gosto e de melodia. Para quem gosta de som e dança é obrigatório. Nota 6.
O BANDIDO DA LUZ VERMELHA de Rogerio Sganzerla
Um filme barato, pobre, mal feito, mas que talvez seja o melhor já produzido por estes lados do mundo. Rogerio erra todo o tempo mas jamais baixa a guarda: o filme é uma explosão de som e de imagens toscas. Paulo Villaça imita o Belmondo de Godard e Helena Ignez é fatal. Welles e nouvelle vague made na boca do lixo. Nota Dez.
A BEIRA DO ABISMO de Howard Hawks com Humphrey Bogart e Lauren Bacall
Uma ode ao bom-humor. Neste roteiro de Faulkner, baseado em Chandler, nada faz o menor sentido. Os assassinatos rolam sem razão, o detetive investiga por investigar e nós, pobres expectadores, nada entendemos. Mas neste clássico do noir, nada disso importa. O que interessa é assistir ao filme como coleção de sketches, cenas independentes maravilhosamente bem feitas. Dá pra notar a alegria de Bogart em contracenar com sua nova mulher, Bacall; e notamos que tudo ali parece brilhar. Lendo livros sobre o filme ficamos sabendo que na verdade Bogart sofria pelo fim de seu segundo casamento com a violenta Mayo, mas há paixão nos olhares e isso ficou na película para sempre. A irmã ninfomaníaca feita por Martha Vickers é excelente. Nota 8.
O CHEIRO DO RALO de Heitor Dhalia com Selton Mello e Paula Braun
É uma sátira ao capitalismo? Ou trata-se de uma homenagem ao Monty Python? Este filme tem um grave problema que atinge a maioria dos filmes "esquisitos": seria um excelente curta-metragem. Mas falta história para um longa e depois de seus trinta minutos iniciais, tudo se perde. O que era um bom filme de humor torna-se uma chatice pretensiosa. Selton dá um show de humorismo, seu tipo é antológico. Nota 4.
O HOMEM DO ANO de J H Fonseca com Murilo Benicio e Claudia Abreu
A fotografia é interessante, mas tudo o que acontece é muuuuuito previsível. Do porquinho até a pirralha que vira crente, tudo é chavão e banal. Filminho que parece TV. Nota 3.
SE EU FOSSE MINHA MÃE de Gary Nelson com Barbara Harris e Jodie Foster
Antes de ser atriz adulta, Jodie foi atriz infantil da Disney. Aqui, aos 14 anos, ela faz o papel da filha que troca de corpo com a mãe. Serve como nostalgia do visual 1976: carrões, skates fininhos, bocas de sino e mobília vermelha. Fora isso..... nota 4.
O PRÍNCIPE VALENTE de Henry Hathaway com Robert Wagner, James Mason e Janet Leigh
Aventura baseada nos HQ de Hal Foster. É sobre vikings e rei Arthur, sir Gawain e o amadurecimento de jovem herói. Robert Wagner, muito jovem, está perfeito no papel, e Mason sempre faz um bom vilão. A trilha sonora de Miklos Rosza é das melhores de todos os tempos. Um velho clássico da Sessão da Tarde do tempo em que se passavam clássicos à tarde. Bem legal. Tem torneios de heróis, fugas à cavalo, traições e muita briga. Nota 7.
UM HOMEM FORA DE SÉRIE de Barry Levinson com Robert Redford, Robert Duvall, Glenn Close, Kim Basinger
Baseado em livro de Bernard Malamud, o filme, que fala de promissor astro do beisebol que desaparece após crime e recomeça já maduro, é uma parábola sobre a saga de um herói. É incrível como o beisebol é algo mágico para os americanos. Eles sentem o esporte como raiz, como nascimento, a relação deles com o jogo é como a relação de um filho com sua mãe. Eles vêem naquele diamante relvado o berço, o paraíso, o Eden. Este filme é então, meloso, nostálgico, mas mantém seu interesse graças ao bom elenco e a trilha de Randy Newman. Nota 6.
MOONFLEET de Fritz Lang com Stewart Granger, Viveca Lindfors, Joan Greenwood
Outro clássico Sessão da Tarde. É sobre contrabandistas na Inglaterra de 1750. Um menino vai morar com nobre e descobre que ele é o tal contrabandista. Lang sabia tudo. Tem lindas cenas com caveiras e tempestades. Um filme delicioso! Nota 7.
A RUA DA VERGONHA de Kenji Mizoguchi
Mizoguchi nasceu em família arruinada e viu sua irmã ser vendida como gueixa. Toda sua carreira versa sobre a condição da mulher num Japão em transição. Este é seu último filme. E é fascinante. Mostra, na Tokyo pós-guerra, a vida num bordel ocidentalizado. Não existe mais a figura da gueixa, que devia saber caligrafia, ikebama e tocar okotô. Aqui elas são simples "putas", prostitutas que se afundam em dívidas e pensam em sair "da vida". Impressiona a forma como Mizoguchi sabe enquadrar. Cada tomada é um show de imagem. Ele toma o lado das meninas, mas jamais as exibe como vítimas, elas escolheram aquela vida e pagam por sua escolha. Um filme que tem trilha sonora estranhamente de terror e que hipnotiza em sua verdade simples. As atrizes estão perfeitas: há desde a imitadora de estrelas americanas até a mãe abandonada. Um final digno para um dos três gênios do cinema japonês. Nota 9
SONATA DE AMOR de Clarence Brown com Kate Hepburn, Paul Henreid e Robert Walker
Neste hiper-novelão que trata da vida conjugal de Clara e Robert Schumann nada é muito real e tudo é exagerado e doce. Há ainda a figura de Brahms, feito sem jeito por Walker e de Liszt, feito bem por Henry Daniels. Mas, como Brown sabia dirigir, cenas como a da galinha na cozinha e o final com o concerto de despedida de Clara, se sustentam muito bem. O filme consegue ser bem-humorado mesmo tratando de compositor que morreu louco e de amor travado. Kate está magnética como sempre e Henreid faz um Schumann interessante. Tipo de filme papai/mamãe que Hollywood fazia às dúzias. Nota 6.