O MELHOR FUTEBOL DO MUNDO

   E descubro que ainda dói. Numa noite de sábado, em 2013, revejo, mais uma vez, o jogo da minha geração, Brasil 2X3 Itália, na ensolarada e muito alegre Espanha, julho de 1982.
   A ESPN tem reprisado jogos de Copa inteiros. Esses jogos fazem com que alguns mitos vão por terra. Por exemplo, Brasil e Holanda em 74 foi um dos piores jogos da história. Uma violência imensa e um jogo onde o que se viu foram discussões, provocações e entradas para matar. O pior jogo da Holanda de então. Outro mito? Este jogo, em 82.
   Dizem que o Brasil não sabia defender. O que vejo é o oposto. Todo o time defende. Os atacantes marcam, de verdade. E logo percebo que o time de 82 jogava o futebol mais moderno do mundo. Até hoje. Não a toa é modelo do Barcelona e agora do Bayern. O gênio Telê Santana fez a ponte do futebol da Holanda para o Brasil. Na concentração ele exibia lances de Cruyjff, atacar bem e defender bem. Foi o que o Brasil fez. Leandro entra pela esquerda, Cerezo de centro-avante, Sócrates de zagueiro, Oscar de meia, Junior na ponta direita, eles giram e giram e giram... Perdeu porque a Itália foi nossa Alemanha. Jogou muito bem, uniu vontade com habilidade e nunca errou. O Brasil errou duas vezes e nas duas os italianos estavam ligados. Aproveitaram.
   Antero Greco comenta o jogo e diz ao final que o jogo foi tão eletrizante que ele se pega ainda torcendo, achando que vai dar, que a bola vai entrar. Eu torci de novo, parece que o tempo ficou parado, vai dar, vai dar, tem de dar!
   Revendo o jogo percebo que aquele foi o melhor time do Brasil. Muito melhor que o sortudo time de 2002 e melhor que o aplicado time de 94. Tirando Pele, talvez melhor que o de 1970, sim senhor! Cerezo foi melhor que Clodoaldo, Falcao equivale a Rivellino. Gerson ganha de Socrates, Zico perde de Pele e Tostao foi muuuuuuuuuuuuuuito maior que Eder. Mas a defesa toda de 82 era bem melhor que a de 70. E Tele vence Zagalo...Basta olhar. A bola rolando redonda, mesmo em meio a um mar de marcadores. O futebol de Brasil e Italia se parece, muito, com o de hoje, muito mesmo, não é lento e sem defesa como se pensa, os dois jogam como o melhor futebol de hoje joga. Velocidade e movimentação, simplicidade. Com uma diferença em relação a 2013, a técnica brasileira ainda é refinadíssima, e a seleção italiana é a melhor de sua história. Perto desta a campeã de 2006 fica como um bando de pernas de pau. Ninguém dá chutão.
   Naquele dia, em 7 de julho, fazia muito calor em Barcelona e sol no inverno daqui. Todo mundo sabia que o Brasil ia ganhar, o que importava era saber de quanto. O campeonato era nosso. Certeza que nunca mais tive. Nem agora, em casa. Foi a mais bela copa, com jogos que nunca esqueci, com 4 times que tinham futebol digno de vencer. Afinal, foi uma copa que tinha Zico, Socrates, Falcao, Rossi, Cabrini, Zoff, Scirea, Platini, Giresse, Rummenigge, Breitner, Boniek, Milla, Maradona, Passarela, jogadores lembrados ainda agora.
   Perdeu.
   E a derrota mudou todo o nosso futebol. Ficamos cada vez mais italianos. E os europeus, encantados, eu fui pra lá em julho, dia 18, ouvi os comentários, se tornaram alunos aplicados de Falcão, Zico, Junior, Cerezo e Sócrates.