NASHVILLE/ LASSE HALLSTROM/ ROBERT WISE/ HELEN MIRREN/ FRED ASTAIRE

   NASHVILLE de Robert Altman com Ronee Blakely, Keith Carradine, Scott Glenn, Jeff Goldblum, Barbara Harris, Lily Tomlin, Ned Beatty, Henry Gibson, Geraldine Chaplin, Karen Black, Elliot Gould, Christina Raines...
Quando lançado em 1976 muito crítico disse ser o maior filme americano desde Citizen Kane. No Oscar ele venceu apenas a melhor canção, a bonita I`m Easy, de Carradine. O grande campeão daquela noite foi Rocky e isso revelou o futuro do cinema. Stallone venceu Altman ( e Lumet, que perdeu com a obra-prima, Networks ). Com os anos 80 Altman afundou, Rocky durou e Nashville se tornou um cult. Visto hoje a primeira coisa que fica clara é a imensa dívida que Paul Thomas Anderson deve a Robert Altman. Nashville lembra muito o melhor de Anderson. É um vasto painel, crítico, muito crítico, sobre uma porção de pessoas, gente nada especial, ou, muito comum, gente que se revela muito original, como todos o são, pessoas que são captadas em seu mais ridiculo, mais patético, mais sofrido. Em Nashville, capital country, vai acontecer mais um festival de música caipira. Os personagens lá se encontram. O velho cantor famoso, com sua peruca e seu visual ridiculo, meio racista, vaidoso e medroso. Já aqui se revela e genialidade do filme: fosse outro o caso, este personagem seria uma caricatura. Aqui não é. Pode até ser cômico, mas é sempre real. O filme é tipico do realismo do cinema feito nos anos 70. Os lugares e as pessoas são como são, pobres, feias, tolas, vazias, e assustadas. Uma repórter da BBC tenta fazer uma matéria, uma dona de casa canta na igreja e tem dois filhos surdos. Uma cantora sem talento faz um strip. Um motoqueiro mudo anda a esmo pelas ruas. Uma hippie de LA devora homens. Um velho no hospital espera pela morte de sua esposa. Um soldado do Vietnã olha tudo aturdido. Um trio se separa e o cantor transa com toda mulher que encontra. Um RP procura apoio para seu candidato a presidente. Um carro de som anda pelas ruas espalhando slogans politicos. Uma cantora enlouquece no palco. E mais campus, igrejas, drogas, e muita, muita música caipira. Altman exibe a América que os americanos tentam ignorar, o centrão, a zona atrasada, fechada, piegas, chorosa, saudosa, religiosa, preconceituosa. A região que elege os presidentes e que os derruba ou assassina. A região onde nasceu o blues, o rock e o jazz. E onde nascem os mais loucos artistas, psicóticos, gênios. O filme é uma festa de vozes embaralhadas, músicas muito ruins e algumas muito boas, cenas sempre fortes, atores sublimes e sacadas espertas. Uma obra-prima. sim, e que não poderia ser mais diferente do cinema que se faz hoje. Nashville não faz uma só concessão. É adulto, dura 3 horas, mostra o que deve mostrar e nunca cansa. Obrigatório mesmo para os que odeiam country music. Nota DEZ!!!!!!
   A CEM PASSOS DE UM SONHO de Lasse Hallstrom com Helen Mirren e Om Puri.
Vamos ao extremo oposto de Nashville. Aqui tudo é bonito, limpo, elegante, colorido e infantil. Não deixa de ser um bom filme. É gostoso de se ver e muito melhor que 99% do que rola por aí. Começa na India ( sim, O Brasil não é o país pobre queridinho, a India tomou o posto que poderia ter sido nosso ). Uma familia de cozinheiros perde tudo e vai à Europa. Deixam a Inglaterra "" porque na Inglaterra toda comida é ruim"". Acabam na França. Abrem um restaurante no campo, de frente a um rival, et voilà..... Helen Mirren, minha atriz favorita, é a dona do restaurante rival. Uma megera. O filme tem cara de festa. É bobo, mas não ofende. E os atores são ótimos. Gostei. Hallstrom, sueco que se revelou com Minha Vida de Cachorro, sabe contar uma história. Nota 6.
  BRIGADOON ( A LENDA DOS BEIJOS PERDIDOS ) de Vincente Minelli com Gene Kelly, Cyd Charisse, Van Johnson
O tema é ótimo, o filme não. O motivo, dizem, foi a desconfiança da MGM. Deram pouca grana, e em vez de ir à Escócia filmaram tudo em estúdio. Mas não é só isso. A coreografia de Kelly é banal, dói dizer isso, e a direção de Minelli é desinteressada. Na Escócia, dois americanos se perdem. Encontram uma cidade que parou no tempo. Descobrem que ela é um feitiço. A cada cem anos ela surge para viver um dia e depois dormir. O filme, baseado em sucesso da Broadway, não fez dinheiro. É um musical chato. Nota 3.
  CATIVA E CATIVANTE de George Stevens com Fred Astaire, Joan Fontaine, George Burns e Gracie Allen.
Passado na Inglaterra ( que se parece demais com a Califórnia ), mostra Fred como um ator que se apaixona por nobre inglesa. Todos os filmes feitos por Fred na RKO merecem ser vistos. Três são obra-primas de humor e elegância, The Gay Divorcée, Top Hat e Swing Time. Os outros são ''apenas"" ótimos. Se voce quer saber o que é o hiper-profissional cinema dos anos 30, eis seu filme. Ele é leve, bobo, superficial e delicioso. Músicas de Gershwin e coreografia de Hermes Pan. Nota 8.
  TIM MAIA de Mauro Lima com Babu Santana, Cauã Reymond, Alinne Moraes e Robson Nunes
Metade bom, metade ruim. Todas as cenas com Tim jovem são ok. Quando entram as drogas o filme cai e fica óbvio. Pior, chato. Tim Maia, gênio, merecia filme melhor. Mas até que vale a pena. Tem as músicas, boas cenas de show, bela reconstituição de época. ( O que é aquele Roberto Carlos????? ). Nota 5.
  PUNHOS DE CAMPEÃO de Robert Wise com Robert Ryan
Uma obra-prima. Acompanhamos em tempo real a hora e meia da vida de um boxeur. Noite de luta, ele se despede da noiva e vai ao local da luta. Ela anda pela cidade, ele se prepara para a luta. O ambiente é sujo, pobre, realista. Vem a luta. Luta que foi arranjada. Mas ele não aceita e luta de verdade.... Robert Ryan tem uma grande atuação. Faz um lutador derrotado, velho, cansado, desiludido. Robert Wise ganhou dois Oscars. Um por West Side Story e outro por A Noviça Rebelde. Mereceu os dois. E poderia ter ganho outro aqui. Touro Indomável baseou suas cenas de luta neste filme. Dura apenas hora e meia. É um monumento. Wise foi um grande, muito grande mestre. Cada corte, cada rosto é um drama completo. Obrigatório. Nota DEZ!!!!!!!!