VIDA SEXO E MORTE

   Estou lendo um livro de Amos Oz, e nele um dos personagens diz que o contrário-complementar de vida não é morte, mas sim sexo. Isso porque o oposto de uma coisa é aquilo que existe com ela, uma não pode existir sem a outra. Não há luz sem antes haver escuridão e a luz destrói a escuridão ao mesmo tempo. Onde há luz a escuridão não há, mas onde há escuridão, a luz também não existe. Simples isso. Mas vamos à vida e morte.
  A vida quando nasce, eis o pensamento comum, traz em si a morte, seu oposto. Onde haveria vida não haveria morte. Ou se está vivo, ou se está morto. O personagem diz que não é assim. Como?
 Por bilhões de anos a vida existiu sem que a morte existisse. Os primeiros organismo vivos, os unicelulares, não morriam. Eles se dividiam em reprodução assexuada. Cada um se tornava vários e esses vários eram os mesmos que os uns. E mesmo esse um original, misturado a seus descendentes, não morria. Pode haver um vírus original que ainda vive por aí. Não há como saber, pois ele é igual a seus descendentes. Isso prova que a morte não surge no universo junto com a vida. Ao contrário da luz, que só pode existir em oposição ao escuro, ou da alegria, que só pode ser percebida em meio a tristeza; a morte passa a existir muito depois da criação da vida.
   A morte começa a existir apenas nos organismos sexuados, sejam vegetais ou animais. É com a reprodução sexual que nasce o envelhecimento dos organismos e a inevitável morte. Portanto o oposto à vida é sexo e não morte.
  Por intuição, todo poeta sabe disso. Que ao entrar na vida sexual começamos a morrer. Mas o mais impressionante é a intuição da Bíblia, onde a morte nasce com a expulsão do Paraíso, que é consequência da consciência da diferença entre os sexos. Adão perde a imortalidade ao conhecer, e o conhecimento traz o tempo que traz a morte.
  Eis um tema digno de uma vida.