HAENDEL NÃO SOFREU
Como acontece com Da Vinci e Vivaldi, dentre vários outros, Haendel é mais um artista que não reforça a teoria boboca de que a arte só pode nascer onde existe dor. Lembro que em 1984 eu carrega em meu caderno uma frase dita por Bowie em Berlin: Só existe beleza onde existe dor. Hoje sei que não há frase mais adolescente que essa. O que prova que o romantismo é como ter 16 anos para sempre. Haendel foi um gênio, basta dizer que era o artista favorito de Beethoven. E mesmo sendo um gênio, será preciso voce fazer uma força imensa para achar algo parecido com drama em sua vida. --------------- Nasceu na Alemanha, em Halle. Família de classe média, o pai queria que ele fosse advogado. Estamos em 1700. Haendel quer ser músico e o pai acaba por ceder. Aos 20 anos de idade, Haendel recebe uma encomenda de Londres, gosta da cidade e passa o resto de seu 70 anos de vida por lá. Trabalha para os reis ingleses, fazendo para eles músicas para casamentos, festas, missas, coroações. Se torna rico e famoso e ao morrer é enterrado como um heroi. Adquire a cidadania inglesa e é até hoje, para os britânicos, seu maior compositor. Drama? Talvez alguma indigestão, nada mais que isso. George Frederick Haendel teve tanta sorte que em seu tempo a casa real inglesa se tornou Hannover. O rei inglês falava alemão. ------------- Quanto a música em si, nunca houve compositor mais aristocrático que Haendel. Apesar de contemporâneo a Bach, Haendel em nada se parece com Johann Sebastian Bach. Onde um etéreo e abstrato, é Haendel prático e brilhante. Sua obra nos acalenta, nos festeja e nos ergue. É luxuosa, vasta e sempre controlada. Filha de seu tempo e de todo tempo. Se Bach almejava o divino, Haendel tinha por meta a beleza perfeita. Conseguiram.