LEVE E SOLTO

   Leve e solto?
  Minha bagagem de vida diminuiu. Me livrei de vários livros e de toneladas de discos em vinil. Só não me livrei dos meus dvds porque ninguém os compra. Sim, não doei, eu vendi. Tenho provado o sabor da pobreza. Mas não é apenas isso.
  Deixei de escrever por meses aqui por estar completamente apaixonado. Não, não precisa parar aqui. Não falarei sobre paixão e muito menos ficarei a choramingar um amor impossível. Pois ele não é impossível e não é feliz. Muito menos triste. É paixão.
  Nossa mente ou nosso coração tem um limite. E a paixão ocupa tudo. Por isso ela tem um risco alto. Se a aposta não der certo voce perde tudo. E se sobreviver, terá de reconquistar os outros amores, seja livro, disco ou seus amigos.
  Eu ia escrever que a alma também tem um limite. Mas não consegui. Acho que a alma é ilimitada. Nem mesmo a paixão a esgota. Mas não sei. Bom tema para outro post.
  Diria que amor pode ser apenas alma. Mas a paixão é corpo. Há algo de profundamente corporal na paixão. Ela é nervos, sangue, vísceras, músculos. Por isso é mortal. Como tudo que é sólido, ela uma dia se desmancha.
  Mas a paixão pode ser ou se tornar alma, e então será amor. Corpo e alma. Ou somente alma. Então não se destrói, se modifica. Vira outra ou outras coisas, pois é etérea.
  Não estou nem leve e nem solto. Antes pesado. A bagagem foi aliviada de livros e discos, mas o peso da paixão cresce. Uma contradição: Eu sou apaixonado por ela e amo minha paixão.
  Uma das curas da depressão é não lutar contra a melancolia. Melancolia foi a tempos idos uma qualidade invejável. Dom dos mais nobres. Hoje é um mal. Isso faz com que todo melancólico não aceite aquilo que ele é. Ele se deprime por ser melancólico. Aceite sua melancolia e seja feliz.
 O que quero propor é: O mundo de hoje, que abomina a melancolia, por ser ela pouco ativa, aceita a paixão? Nosso século aceita somente o que é ativo, produtivo e afirmativo. Dei a resposta?
 Ame seu trabalho, ame seus filhos, ame seu hobby, mas por favor, não vá ser imbecil a ponto de se apaixonar.
  Ando lendo as histórias de Arthur e de Camelot. Não, não há paixão lá. Há compromisso. Lealdade. Código moral. Tudo aquilo que o apaixonado não segue. Não liga e não quer.
  Mas o que deseja o apaixonado? Permanecer apaixonado. Apenas isso.
  Como um drogado, ele quer a substância que o faz ficar exaltado. Corpo é química, respondido?
  Claro que não. Pois isso não responde o por que de minha paixão. Fosse apenas química eu trocaria ela por uma mais forte. Ou tomaria overdose de paixão. Mas não é assim.
  Conclusão possível: Falar da paixão a empalidece, mas não purga seu veneno. Leve e solto? Outros que voem por aí. Eu quero é mais.