Uma entrega do Oscar com mais de dois filmes admiráveis. Desde o século passado isso não acontecia. Em 2015 temos 3 filmes que me deixariam feliz com sua vitória. E Boyhood é um deles. Contra o cinema empetecado e tolo de Nolan, Fincher e gang infindável, o cinema simples de Linklater. Boyhood é um filme que gosta de gente, e isso hoje é uma benção.
Acompanho o cinema de Richard Linklater desde 1995, DAZED AND CONFUSED é um filme que acompanha um bando de adolescentes em seu último dia de aula. Passado em 1976, o filme tem uma trilha sonora perfeita, melhor que a de Quase Famosos, e dentre seus atores inexperientes estão Mathew MacCornaghy, Ben Affleck e René Zellwegger. Adoro esse filme onde nada acontece. Ou melhor, onde nada de cinematográfico acontece. Mas onde a vida acontece. Boyhood é exatamente assim. Richard evita habilmente todas as cenas melodramáticas, tangencia o sensacional e nos entrega os momentos que fazem a vida, ou seja, uma coleção de ""quases"". Mostrar a mãe apanhando do marido seria fazer cinema sensacional, ou pior, seria dar valor a um momento isolado dentro de uma vida. Ao contrário do cinema de hoje, que procura sempre e de forma apelativa, a dor, o sangue, a doença, o extraordinário, Linklater procura o comum, o simples, o banal. E mostrando isso ele nos dá o presente inestimável de exibir diante de nós a nobreza da vida de qualquer um que ainda se veja como apenas mais um. Boyhood exala nobreza. Quantos filmes com essa marca voce tem visto?
O pai, o adorável Ethan Hawke, é apenas um mentiroso. Sonha em ser um rock star, mas não muito. E acaba sendo um bom pai. Dentro do possível. A mãe escolhe maridos errados. Mas consegue educar os dois filhos. Apesar de ser uma distraída. Eu gostaria que o filme se concentrasse na filha. Ela parece ser muito esperta. Mas o menino é cativante. Finalmente um filme consegue exibir um silencioso e delicado adolescente sem cair no chavão. A geração é aparentemente quieta e deprimida porque o mundo lhes parece absurdamente errado.
Mais que um problema, nossa tragédia atual é a completa incapacidade que minha geração demonstra com a paternidade. Não importa se a geração de meu pai era hipócrita ou repressora, havia um papel para eles e eles o seguiam. Pai era provedor. Pai era protetor. E pai era autoritário. Mães eram ditadoras, preocupadas, davam comida e roupas quentes e queriam em troca amor e respeito. Claro que esse não era um mundo ideal, mas era um mundo possível. Hoje o mundo parece impossível. Os pais de hoje não são ruins, eles são raros.
Patricia Arquette foi uma mulher hiper sexy. E que nunca teve medo de perder essa condição. Faz a mãe. Comovente. Ethan Hawke é o amigo mais velho que todo moleque gostaria de ter. É quase um tio. Pai não. As melhores cenas são com ele e o filho. O menino é brilhante. A gente gosta dele. É um filho que todos gostariam de ter. E percebemos que filhos continuam a existir. E pedem o que sempre pediram. Ajuda.
Uma vez li a lista dos diretores favoritos de Richard Linklater. Havia Bresson. O maior elogio que posso fazer a Boyhood é esse. Ele é digno de um filho de Bresson. O cinema nunca mostra a vida como ela realmente é. Mas ele pode, em raros momentos, mostrar como a sentimos e percebemos. Boyhood chega lá.
Acompanho o cinema de Richard Linklater desde 1995, DAZED AND CONFUSED é um filme que acompanha um bando de adolescentes em seu último dia de aula. Passado em 1976, o filme tem uma trilha sonora perfeita, melhor que a de Quase Famosos, e dentre seus atores inexperientes estão Mathew MacCornaghy, Ben Affleck e René Zellwegger. Adoro esse filme onde nada acontece. Ou melhor, onde nada de cinematográfico acontece. Mas onde a vida acontece. Boyhood é exatamente assim. Richard evita habilmente todas as cenas melodramáticas, tangencia o sensacional e nos entrega os momentos que fazem a vida, ou seja, uma coleção de ""quases"". Mostrar a mãe apanhando do marido seria fazer cinema sensacional, ou pior, seria dar valor a um momento isolado dentro de uma vida. Ao contrário do cinema de hoje, que procura sempre e de forma apelativa, a dor, o sangue, a doença, o extraordinário, Linklater procura o comum, o simples, o banal. E mostrando isso ele nos dá o presente inestimável de exibir diante de nós a nobreza da vida de qualquer um que ainda se veja como apenas mais um. Boyhood exala nobreza. Quantos filmes com essa marca voce tem visto?
O pai, o adorável Ethan Hawke, é apenas um mentiroso. Sonha em ser um rock star, mas não muito. E acaba sendo um bom pai. Dentro do possível. A mãe escolhe maridos errados. Mas consegue educar os dois filhos. Apesar de ser uma distraída. Eu gostaria que o filme se concentrasse na filha. Ela parece ser muito esperta. Mas o menino é cativante. Finalmente um filme consegue exibir um silencioso e delicado adolescente sem cair no chavão. A geração é aparentemente quieta e deprimida porque o mundo lhes parece absurdamente errado.
Mais que um problema, nossa tragédia atual é a completa incapacidade que minha geração demonstra com a paternidade. Não importa se a geração de meu pai era hipócrita ou repressora, havia um papel para eles e eles o seguiam. Pai era provedor. Pai era protetor. E pai era autoritário. Mães eram ditadoras, preocupadas, davam comida e roupas quentes e queriam em troca amor e respeito. Claro que esse não era um mundo ideal, mas era um mundo possível. Hoje o mundo parece impossível. Os pais de hoje não são ruins, eles são raros.
Patricia Arquette foi uma mulher hiper sexy. E que nunca teve medo de perder essa condição. Faz a mãe. Comovente. Ethan Hawke é o amigo mais velho que todo moleque gostaria de ter. É quase um tio. Pai não. As melhores cenas são com ele e o filho. O menino é brilhante. A gente gosta dele. É um filho que todos gostariam de ter. E percebemos que filhos continuam a existir. E pedem o que sempre pediram. Ajuda.
Uma vez li a lista dos diretores favoritos de Richard Linklater. Havia Bresson. O maior elogio que posso fazer a Boyhood é esse. Ele é digno de um filho de Bresson. O cinema nunca mostra a vida como ela realmente é. Mas ele pode, em raros momentos, mostrar como a sentimos e percebemos. Boyhood chega lá.