ROGER SCRUTON E A VERDADE DO QUE É BELO

   André Assi Barreto escreve na revista Filosofia sobre Roger Scruton. Eu nunca tinha ouvido falar de Scruton, pensador inglês nascido em 1944. E já aviso: sou partidário dele. Outra coisa, ele é considerado um "lutador por causa perdida". Ótimo. Eu também sou. Vamos ao que André fala sobre Roger.
   Marcel Duchamp colocou um mictório como obra de arte. E a partir de então, tudo pode ser arte. Em 1960 chegou-se ao ponto de lata cheia de bosta de um artista ser exposta como arte. Arte passou a se confundir com "chamar a atenção da midia", criar algo de sensacional, e convenhamos, é muito mais fácil criar sensação mostrando merda ou vísceras podres de um boi, que criando beleza original. Esse é o ponto central de Roger Scruton. O mundo só poderá ser salvo se o conceito de belo for salvo.
   Artistas modernos se defendem dizendo que o público que os renega não tem a linguagem e a sensibilidade para os entender. Desculpa tola. Picasso era moderno e belo, assim como Pollock e Kandinsky. Não se trata de negar toda a arte do século XX, mas sim separar os espertalhões dos artistas.
   Scruton foi tema de programa na BBC. Sua tese central é a de que a beleza é tão verdadeira e eterna no homem como é a bondade e a verdade. O homem aspira a beleza como aspira ao bem e a verdade. Em 15000 anos de cultura esse valor sempre esteve presente e não são meros cem anos que podem destruir esse fato. O homem tanto aspira ao belo que assim que pode,  procura praias, montanhas ou recantos "belos". Há em Londres um fenômeno interessante, lojas que estão instaladas em imóveis vitorianos são muito mais valorizadas que aquelas em locais modernos-feios.
   Mas desde ao menos 1910 se faz essa confusão entre o sensacional e a beleza. Artistas incapazes de produzir qualquer coisa verdadeiramente artística passaram a desvalorizar e a zombar do que fosse "apenas" bonito. O feio passou a significar coragem e verdade, a beleza seria mentirososa e passadista. Ora, por mais de dois mil anos a arte serviu como consolo, elevação espiritual, meio de refinar o gosto. Pois a arte hoje aumenta a dor, promove o rebaixamento e esteriliza a sensibilidade. É como se ela tivesse a função de nos acostumar ao pior, ao mínimo, a conformidade da vida das fábricas, da violência e da dor. Seria isso por acaso?
   Se antes a arte dava sentido a vida, hoje ela quer apenas causar impacto. Profanar o sacro, cultuar o feio, promovendo assim a confusão, o vale tudo, o tudo pode ser arte. Isso nos lembra algo? Não é essa exatamente a tese do mercado? Tudo pode ser um produto, desde que bem divulgado. Sendo agressiva, sensacional, contra alguma coisa, a arter se torna "útil". Como dizia Oscar Wilde, o primeiro mandamento do belo e da arte é ser "completamente inutil". O que há de útil em uma música bonita, uma pintura bela ou um filme lindo? Mas "os artistas" fazem músicas sujas, pinturas terríveis, filmes duros e violentos, seriam obras úteis, ou são assim vendidas. Teriam a função de abrir olhos. Olhos para ver o que? Mais coisas feias.
   Construir e vender um prédio feio como moderno e social é muito mais fácil que tentar construir um prédio belo e apenas isso, Belo. Não se esqueçam disso.
   Fruir o belo é uma atividade inutil. Desinteressada. Como o amor ou a amizade, não há um objetivo aqui. A utilidade prática fica em segundíssimo plano. Na arte clássica esse era o objetivo: a arte como bálsamo e elevação de consciência. A criação era valorizada. Belo era o criativo, o vitalista, o potente. Agora se valoriza o banal, a quebra de tabús, a exaltação de sentidos. Tudo isso parece útil e criativo, Scruton mostra que o banal é realmente banal e a quebra de tabús é apenas histeria impotente. Não se cria, se odeia aquilo que outro criou.
   Roger Scruton só poderia ter nascido na Inglaterra. Dou um exemplo do que isso significa. Tenho um professor que em aula de literatura exaltou Balzac e Stendhal ( que adoro ), às custas da Inglaterra. Para ele, a literatura inglesa do século XIX é um nada absoluto, enquanto a francesa é o máximo. Sua explicação é a de que "enquanto a França fala de temas modernos, a Inglaterra ficou presa ao passado e a livros infantis!". Pois eu disse, isso é um ponto de vista. Posso dizer que a literatura francesa se resume ao tédio de esposas traindo maridos e caipiras querendo viver em Paris. Enquanto que a Inglaterra se preocupava muito mais com a criatividade, com o absurdo, o excêntrico e o humor. A resposta de meu mestre? Conforme-se então com seu David Copperfield.........
   Falei isso para voltar a Roger Scruton e dizer que ele culpa Foucault, Deleuze e que tais pela filosofia que prega o "tudo é válido, nada tem hierarquia, cada voz deve ser ouvida". Scruton vai ao cerne: Se tudo é válido então ouvir um Nobel falar sobre a escrita tem o mesmo valor que um semi-analfabeto?
   Estamos proibidos de falar que uma cultura é superior a outra. Não podemos condenar a escravidão feminina em certas nações, "pois é a cultura deles". Tudo se tornou relativo, e nesse universo não se pode dizer que o belo é melhor que o feio. A resposta do fã de Foucault sempre será: "O que é o belo? .."..E após essa pergunta ( na verdade sem sentido ), o relativismo se impõe e o belo se perde. Todos sabem o que é belo como sabemos o que seja bom ou verdadeiro. Relativizar é fugir da verdade.
   Dizer, como dizem os franceses, que só existe Gosto e não o Bom Gosto é falso. É como falar que não existe o bom e o mal, o feliz e o triste, o certo e o errado.  Esse relativismo é um totalitarismo. Brutal.
   Com a palavra Scruton: " A beleza pode ser consoladora, perturbadora, sagrada, profana, hilariante, atraente, inspiradora. Afeta-nos em variadas maneiras. Mas nunca é vista com indiferença. Fala a nós como um amigo íntimo. Se existem pessoas indiferentes à ela, é porque perderam o poder de olhar."
   Roger Scruton é filósofo por Cambridge. Segue Platão e Kant. Acredita na aristocracia pré-Segunda guerra. Reacinonário assumido, rejeita toda militãncia politica. Como todo reacionário, Scruton é "santo padroeiro das causas perdidas". Tem livros sobre música, o pessimismo, e a supremacia da cultura Ocidental.  Altamente rejeitado pela inteligência acadêmica oficial, principalmente por suas críticas ferozes a Foucault, Derrida e o multi-culturalismo.
  Seu jogo já está perdido. Mas quem ganhou, ganhou o que???