WISE/BLOW-OUT/BOOM/DESPERAUX/WILL ROGERS

O CACHORRO de Carlos Sorin
É aquele estilo Vittorio de Sica. Mas sem a beleza e a poesia estranha do gênio italiano. O cachorro é muito bom, mas o filme é pouco mais que nada. nota 3.
QUANDO EXPLODEM AS PAIXÕES de John Sturges com Frank Sinatra, Gina Lollobrigida, Charles Bronson e Steve McQueen. Filme que tornou Steve estrela. E apenas sua presença, curta, dá vida à este bem intencionado porém enfadonho filme. nota 2.
DESAFIO DO ALÉM de Robert Wise com Julie Harris e Claire Bloom. Nunca sentí tanto medo vendo um filme. Algumas pessoas se hospedam numa casa para descobrir se lá existem fantasmas. O filme não tem sangue, violência nenhuma, visão de espíritos ou assassinatos. Mas afeta nossos nervos. Tem um ar de claustrofobia, de neurose, de loucura. O cenário é maravilhoso, a trilha sonora fantástica e a direção de Wise, soberba. Uma verdadeira obra-prima do medo, do horror, do incrível. nota Dez!
BLOW-OUT de Brian de Palma com John Travolta, Nancy Allen e John Lithgow. A primeira meia hora, homenagem à Blow-up de Antonioni é uma exuberante aula de técnica cinematográfica. Tudo é brilhante : os cortes exatos, o som perfeito, o clima de intriga, o rosto de Travolta. A cena na ponte, sons do vento, a coruja piando, é digna de gênio. Mantivesse esse clima por todo o filme, estaríamos diante da perfeição. Mas Brian, como sempre, se empolga com seu próprio talento e começa a exagerar. Uma trama policial óbvia de serial killer, destrói todo o encanto original de seu filme. Mesmo assim, trata-se de um hipnotizante thriller, uma obra de alguém que realmente ama o cinema e sabe tudo sobre sua arte. Nota 9.
BOOM de Joseph Losey com Elizabeth Taylor, Richard Burton e Noel Coward. Que filme é este ? Vamos por partes : Losey foi um diretor americano, perseguido pelo MacCarthismo, se refugiou na Inglaterra e se tornou um dos melhores e mais britânicos diretores. Este filme, que trata de uma milionária às portas da morte, foi escrito especialmente para o diretor por ninguém menos que Tennessee Willians. Mas os diálogos, que triste, são ruins. Pretensiosos, freudianos, snobs. A mansão da trama fica numa maravilhosa e isolada ilha do Mediterrâneo. Nunca tive o prazer de ver casa tão bela. Branca, cheia de sol, viva. John Barry fez a trilha sonora. Raras vezes ouví trilha tão instigante. Dá vontade de ouví-la sem ver o filme. Cheia de psicodelismo. Pois bem, a foto é de Douglas Slocombe : ou seja, perfeita. Com tudo isso junto, o filme não funciona. Noel Coward, gaysíssimo, é um amigo afetadérrimo. Burton, já em sua fase de alcoólatra radical, perambula pelo filme com cara de sono. Taylor tenta levar tudo a sério, mas está perdida neste carnaval-gay-pretensioso. É uma diversão de loucos dandys, uma brincadeira de intelectuais vazios. Bonito de olhar e escutar, totalmente sem sentido. Vale para se conhecer o grande Noel Coward, inglês que criou o conceito de star, de multi-midia, de dandy século XX. nota 5.
O RATINHO DESPERAUX. Porque os desenhos têm hoje roteiros melhores que os dos filmes ? Creio que é pelo fato de que os roteiros de desenhos são mais livres. Não precisam criar um papel para um astro. Não precisam evitar a pieguice. Podem ter uma moral e não parecer careta. Podem brincar com qualquer coisa. Não precisam parecer "adulto". São ingênuos, então, verdadeiros. Honestos. Este é encantador. Fala de perdão, de coragem e de nobreza. Não é pouca coisa. E fala com autoridade. Creio que as crianças não gostarão muito do ambiente dark do cenário. Mas é mais um excelente produto que assume o que é e o que quer. nota 7.
NAS ÁGUAS DO RIO de John Ford com Will Rogers. É muito difícil falar de Rogers. É um ator como nenhum outro. Atua como quem come uma maçã. Tranquilo, natural, simpático. Diferente porque ele é de outra era : começou a atuar em 1910 ! Se o estilo de atuação em 1910 era esse... caramba! Que época abençoada! Este filme se passa no Mississipi. È puro Mark Twain ( e acredito que alguns atores conheceram Twain ). Um tipo de filme alegre, camarada, muito bem-humorado, feliz. Tem uma corrida de barcos no final que é maravilhosa comédia, soberba ação e bela poesia. Todos os personagens ( e são muitos ) são bem delineados, bem interpretados, bem definidos. O filme é quase um cartoon, do tipo Pernalonga, do tipo Pica-Pau. Uma festa, dirigida com sua segurança costumeira, pelo pai do cinema : John Ford. Pena Will Rogers não ter vivido um pouco mais...Ford e ele fizeram 3 filmes juntos. Seriam muitos mais....nota 9.