Belo, belo, belo, belo.
Alain-Fournier escreveu este livro, foi para a guerra, e morreu. Aos 26 anos. O livro se chama ' O BOSQUE DAS ILUSÕES PERDIDAS' em francês é chamado 'LE GRAND MEAULNES'. Meaulnes é o nome de um rapagão rebelde, que surge numa escola de vila. Lá, ele se torna ídolo do narrador. Mas um dia, Meaulnes se perde na floresta, vai à uma festa e encara a vida. Conhece a paixão, volta totalmente modificado, e então...
Jamais lí um livro tão mágico ! Uma mistura ( sem nada que cheire a plágio ) de Pinóquio, O Morro dos Ventos Uivantes, Peter Pan, O Apanhador no Campo de Centeio e tanta coisa mais.
Tudo nele se parece com sonho. Nada de fantástico acontece. Ninguém voa, ninguém é enfeitiçado... mas tudo nessa obra-prima parece irreal, inefável, encantado.
Os capítulos no bosque são de uma beleza tão intensa que chegam a alucinar e seu desfecho, hiper-romântico, trágico, rocambolesco, me fez chorar...
Fournier consegue contar toda a dor, todo o medo, todo o aturdimento da perda da infância e na sequencia, da perda da adolescência. É o melhor livro sobre a adolescência ! Pois ele consegue mostrar todo o romantico desespero dessa fase crucial. O texto verte saudade e melancolia, derrama o idealismo daqueles que já foram verdadeiramente jovens. Exibe, sem pudor, o exagero da paixão juvenil; e desenvolve um ambiente de sombras, sóis e chuvas; janelas, árvores e água.
O livro é feito para ser amado. Voce termina de ler e imediatamente tem uma vontade ( adolescente ) de ler outra vez, de conhecer Meaulnes, Yvonne, de penetrar na floresta, se perder, se afundar, cair...
Tivesse eu descoberto este livro aos 15 anos... teria ele me enlouquecido e se tornado o livro da minha vida ( este posto pertence a O MORRO DOS VENTOS UIVANTES... eu sou Heathcliff ). Hoje, ele me exibe aquilo que fui um dia, e que ainda tenho dentro de mim. È aquilo que temos de melhor, e o livro nos dá essa sensação : a de que todos os sonhos, todas as aventuras, todos os dramas que vivemos na adolescencia..... são os únicos que valem a pena, que contam, que nos definem.
O que posso dizer ? Que minha adolescencia começou a terminar com um ataque de pânico aos 22 anos ( minha floresta ) e que esse processo ainda insiste em não se encerrar.
Que num fim de tarde, aos 15 anos, no carro de meu pai, enquanto esperava meu irmão sair da escola, com muito frio e muita garoa na rua, eu ví..... uma menina loura sair dessa escola. Sózinha, os livros contra o peito, ela olhava para o chão enquanto andava. Os olhos tristes estavam mal maquiados e a blusa era feita de lã cor de rosa. Franja e um longo cabelo. Ela ergueu, então, os olhos do chão e olhou para a janela embaçada do carro de meu pai. Me viu. Eu fiquei vermelho e completamente apaixonado. Meu irmão entrou no carro e voltei para casa com os olhos úmidos.
Eu nunca mais esquecí dessa menina. Tenho procurado por ela em todas as meninas que conhecí.
Le Grand Meaulnes é sobre essa menina. Sobre amar essa menina e sobre tentar esquecer essa menina. É sobre o vidro do carro embaçado pelo frio e sobre tentar preservar esse momento para sempre. E a triste ironia é essa : Tentar esquecer a menina e tentar preservar a beleza desse momento... luta perdida em seu nascimento...
Leiam este livro. Amem o menino que voces foram. Preservem a neblina escura da maior das paixões. Sejam romanticos. Sejam exagerados. Sejam fiéis a seu amor. Meaulnes existe em cada um de nós. E ele se perde sempre...