A TERRA DOS HOMENS OCOS
Começo a ler o vasto livro de Russell Kirk sobre Eliot e seu tempo, e como sempre acontece quando leio sobre um irmão espiritual, me sinto inspirado. Kirk foi um intelectual americano conservador. Como pessoa ele se definia um conservador boêmio, anti burguês. Modesto, ele recusou todo convite para entrar no sistema, seja cultural, seja político. --------------- Voce deve estar perguntando: Um conservador anti burguês? Boêmio? Como pode? ................ Ora, não seja ingênuo! A burguesia do século XX e mais ainda do XXI é aliada à esquerda em todo o mundo. É a burguesia mais poderosa, banqueiros, industriais, artistas bem sucedidos, que mantém a tara moderna por CONTROLE E DESTRUIÇÃO DO PASSADO. Como vemos no Brasil hoje, de uma forma tão despudorada que chega a ser pornográfica, a união do estado, da justiça e do dinheiro graúdo, faz de uma nação uma teia de opressão a qualquer um que ainda pense em DIGNIDADE, LIBERDADE E TRADIÇÃO. Ontem, dia 16 de julho, o congresso mais uma vez foi fechado, um juiz sozinho ( sozinho? Quem o financia? ), calou a boca de mais de 500 parlamentares eleitos pelo voto. Esse é o ato estatal-esquerdista feito pelo mais anti conservador dos sistemas, o brasileiro atual. E ato esse, aplaudido por aqueles que Eliot chamava de OS HOMENS OCOS. Mas quem são esses homens ocos? ------------------ O filósofo espanhol Ortega y Gasset dizia que EU SOU EU E SOU MINHAS CIRCUNSTANCIAS. O que isso quer dizer? Eu, Paulo, sou aquilo que sou: Homem, brasileiro, filho de portugueses, filho de minha família, heterossexual, conservador em política e em economia, amante das artes eternas, pensador, indagador, chato. Mas eu sou também a minha circunstância, ou seja, sou o lugar onde cresci, onde vivo, sou tudo que me cerca, sou o que ouço, o que vejo, o que me toca. Sou isto que escrevo, sou voce que me lê, sou quem me conhece, quem pensa em mim. Ora, o conservador se apega a todas essas circunstâncias. Ele luta pela preservação dos laços afetivos com aquilo que é seu passado, seu ambiente, seu meio, seja o prédio da esquina, o hábito religioso, a peça de arte inviolável. Ele sabe que ao se destruir qualquer objeto que é parte de sua circunstância, parte dele é destruído ao mesmo tempo. Daí nasce o HOMEM OCO. É aquele ser, geralmente da esquerda, mas é também o alegre propagador do " derrube e construa" do capitalismo, que destroi tudo o que seja "antigo e inútil". Fazendo isso ele mata, sem saber, a si mesmo e se torna um HOMEM OCO, sem vínculos sólidos com nada ao seu redor, tendo apenas dentro de si o vazio do desejo de destruir. Não há retrato mais perfeito da esquerda brasileira que essa sanha por acabar com tudo que remeta à tradição e costume. Família, hábito e história. -------------------- Eliot percebeu isso já após a segunda guerra, quando observou que o trauma da guerra levou os ingleses à ansia de mudar e negar. E Kirk sentiu isso nos EUA, quando a partir dos anos 50 tomou lugar o sentimento de que todos somos seres sem raiz. Logo cooptado pelo sistema, esse sentimento "rebelde", boêmio, de ser livre para se auto construir, se transformou em abjeto ato de negar a realidade do passado e assim perder contato com toda a realidade presente. A cultura do século XXI é uma cultura da doença, do homem sem interior, do ato sem história, do gratuito, do sem permanência. --------------- Ao mostrar de modo pornográfico que o congresso nada representa, que o voto é apenas uma brincadeira vazia de poder real, os juízes fazem com que o interior de todo cidadão se torne ainda mais oco, sem referência e sem significado. O simbólico- voto e representatividade- se torna futilidade. A alma morre. Assim, cada brasileiro se torna oco, apenas um corpo vazio em busca de comida, andando em meio ao caos bem organizado e a pobreza externa e interna. Eliot chamava isso de inferno. Voce sabe o que é.