SOBRE O INFINITO, O UNIVERSO E OS MUNDOS- GIORDANO BRUNO, A PAIXÃO PELO ILIMITADO

   Bruno foi queimado em Roma, 1600. Sem abrir mão de sua crença, Bruno olhou para os céus, tendo a plena certeza de que tudo é infinito. Porque o Papa tanto o detestava? O que havia de tão terrível em sua filosofia? Ele jamais deixa de crer em Deus, jamais abraça a fé protestante. Qual seu pecado?
   Ele foi monge e abandonou a igreja quando desenvolveu sua filosofia ( da qual já falo ). Sua vida passa a ser uma viagem constante: Suiça, Alemanha e Inglaterra. É na ilha que ele escreve sua maior obra, "Sobre o Infinito". Pensando que a Itália já fosse segura, ele vai à Veneza, dar aulas para um nobre. Traído, é entregue a Roma, condenado e queimado vivo.
   Giordano Bruno foi um homem típico da renascença. Ele unia ciência a arte, magia a religião, filosofia e poesia, bem-viver e bem-pensar. Em si havia a sede de saber e de fazer. O homem renascentista é sempre um homem de ação, um insatisfeito que faz coisas. Um pensador que mede a vida pelo tamanho do homem. E para Bruno, tudo era infinito. Espaço, criatividade, Deus, a memória, tudo infinitamente sem forma, sem tamanho e sem volume.
   Em seu livro, escrito em forma de diálogo, Aristóteles é atacado. E com ele, toda a filosofia da idade média cai por terra. Bruno afirma que se Deus é onipotente, então seu poder é ilimitado. Se seu poder não tem limites, então ele só deseja e só pode criar o que não tem limites. Não haveria sentido em que um Ser ilimitado criasse algo limitado. Portanto o universo é infinito. Mais que isso, existem infinitos sóis e infinitas Terras. Gente em outros mundos. O universo é infinito e dentro dele existem mundos finitos. Todo esse pensamento é radicalmente contrário ao que se difundia na era medieval. Bruno afirma ainda que nada termina, as coisas se transformam. O que é será sempre sob outra forma. Não existe alto e baixo, todo lado que se olhe é infinito. A Terra não é o centro privilegiado do universo, ela é apenas um dos mundos possíveis. Mundos vários, vida que muda, universo sem fim e sempre vivo.
   Mas Bruno não desvaloriza o homem. Para ele, a mente humana é tão infinita quanto a mente divina. Na imaginação, na sensibilidade, o homem atinge o infinito. Deus está em todas as coisas, inclusive na mente do homem, mente que é sem forma e sem fixidez como é o universo. O homem tem a obrigação moral de usar essa capacidade divina de sua mente. Em seu espírito vive o infinito e a infinita capacidade de criar e de entender.
   Vale dizer que o volume começa com uma carta que Bruno envia ao ilustríssimo senhor de Castelnau. Poucas vezes em minha vida li algo de tão belo, de tão nobre e de tão alto grau de sabedoria. E é isso que mais se sente ao ler Bruno: Quando Roma fez arder a carne daquele homem, se queimava um nobre, um justo, um ser privilegiado.
   " Daí sucede que não arredo pé do árduo caminho...."
    Giordano Bruno é infinito.