ANDRÉ BARCINSKI

O blog do cara é nota dez. André é aquele tipo de cinéfilo Sam Peckinpah/ Robert Aldrich/ Lee Marvin e James Coburn, ou seja: show. Puro fun.
Mas não escrevo só pra ficar babando-ovo. É que ao escrever sobre seu crítico de rock favorito ( Nick Kent ), ele me recordou algo muito fundamental e muito esquecido. Coisa que as novas gerações do pop/rock nem imaginam: O fato de que até o meio da década de 80 não existia o saudosismo no rocknroll. Creia! É a pura verdade!
Quando eu lia a POP nos anos 70, tudo o que se falava era sobre aquele ano, e só sobre aquele ano. Em 1978, um disco de 1976 era muuuuuito velho. Estranho né? Ninguém falava de Syd Barret, Nick Drake ou Jim Morrison. Só Hendrix sobreviveu do mundo dos mortos. Um cara quando chegava aos 30 anos era considerado gagá !!!! ( Jagger aos 28 era ridicularizado, assim como Dylan aos 30 e Lennon aos 29 ). Para uma banda "antiga" ( Os Stones eram antigos com 8 anos de estrada, o Led Zeppelin em 1975, com sete anos (!!!!!!!) era chamado de dinossauro ) sobreviver, ela vivia se reciclando. E isso fazia com que Alice Cooper se tornasse baladeiro, ou que Rod Stewart se fizesse de Elton John. ( Aliás Elton virou titio aos 27 ). Quem sumisse das paradas era esquecido em dois anos.
Então falar de Beach Boys era considerado o máximo da caretice vovô, ouvir Beatles era para seus pais e Iggy Pop ou MC5 estavam completamente no ostracismo. Era um mundo cruel e árduo. Os caras tinham de lançar disco novo todo ano, mudar de visual sempre, excursionar sem parar, se tornar hard-rock, depois glitter, depois pop romântico, depois soul.... e afinal disco ou pseudo-punk. Pense, Elvis morreu em 1977 com quarenta anos. Para nós ele era velho como Bing Crosby ou Silvio Caldas. E isso não acontecia só comigo que tinha 14 anos, os críticos de 25, os roqueiros de 22 também eram assim. O T.Rex surgira em 1970, quando chegou 1974 eles já pareciam brontossauros.
As coisas mudaram por volta de 87/89. Foi quando o rap escancarou o plágio, a coleção de discos sempre viva, a referência assumida. James Brown reansceu. E junto com isso, bandas como REM, Smiths e U2 assumiram a dívida para seus ídolos: Byrds, Mott The Hoople, Them e Gram Parsons. Vieram os cds e o que era raro ou mal mixado se tornou "novo". Gente de 50 anos e gente de 20 começou a se misturar, bandas homenageavam os seus vovôs e fato impensável ocorreu: ser cool passou a ser quem ouvia coisas muuuuito antigas ( John Lee Hooker, Chet Baker ou Sam Cooke ).
Mas já em 1977, quando ninguém se lembrava de Brian Wilson ou de Arthur Lee, e em tempo em que Iggy era tratado como um imbecil demente, já lá estava Nick Kent, escrevendo sobre os esquecidos malditos, os irredutíveis, os que não mudavam, os veteranos cowboys. Nick não foi o único, Bangs também estava nessa, mas Nick era mais direto, mais escrachado, mais sujo. Ele não perdia tempo falando dos novos caras ( Queen, Aerosmith, Motorhead ), ele erguia tributos aos anciões de 28 anos.
Era assim.
PS: no cinema era igual. Em 1977 um ator de 35 era beeeeem velho. Quando John Travolta explodiu em 77, Robert Redford e Dustin Hoffman passaram para a muito velha guarda.