LIVROS SOBRE JUNG E FREUD QUE NÃO FAZEM JUSTIÇA A SUA OBRA
Leio um livro ridículo sobre Jung. Escrito em 2021, no Brasil, ele perde um tempo imenso falando "da volta do fascismo" e discutindo se Jung era nazi ou não. O autor é fã de Jung, mas o chama de Carl e não de Jung e dá umas espetadas no machismo do suiço. Não há o que comentar sobre obra tão imbecil. O mundo, em termos intelectuais, regride horrivelmente e não é o pseudo fascismo que faz isso, mas sim a uniformidade de opiniões, a preguiça em pensar, os slogans simplistas e a empáfia auto sufuciente daqueles que dominam TV, Jornais e modos tradicionais de divulgação de opinião. Weeeelllll...... O livro sobre Freud é bem melhor. Alain de Mijolla, um psicanalista francês, reuniu 600 frases ou aforismos ditos por Freud em cartas ou livros. Freud foi genial, nunca irei negar isso, e suas frases nunca são óbvias ou sensacionais. Elas revelam, sim, um homem pessimista, imerso na cultura judaica, preocupado com o futuro da cultura ocidental, corajoso e nunca choroso. Mas, apesar de revelar esse homem, o livro não se sustenta, isso porque as frases parecem aquilo que são, trechos incompletos. Freud não era autor de frases, era desenvolvedor de raciocínios. Cortar linhas de pensamento para extrair aforismos não funciona aqui. O mestre de Vienna fica parecendo barato. ----------------- Enquanto leio as frases, todas tem data e fonte, vejo que muitas são de 1926, e esse ano me diz algo...1926.... é o ano em que meu pai nasceu! 1926. Freud e Jung eram vivos quando meu pai veio à este mundo. Meu pai respirou o ar e andou no mesmo mundo dos dois. Mas também o de Joyce, Eliot, Yeats, Mann, Hesse, Huxley, Einstein, Bohr, Pauli, Stravinsky, Bartok, Picasso, Matisse, Chagall, Klee, Kandinski... Meu pai viveu no tempo dessa gente e eu não consigo imaginar o que ficará de 2025 para 2125. -------------- Ele era meu pai e portanto eu convivi com um homem desse tempo. Ele tinha o "espírito da época" de Heminguay e de Pound. Ele não entenderia nada da flacidez geral de hoje. ---------------- A vida é sábia. Ela nos prepara para nossa partida ao nos fazer sentir que o mundo onde estamos não é mais o nosso. Freud dizia que pessoas ligadas à vida falam da morte e as não ligadas evitam o assunto por pavor. Pois sinto e vejo que meu mundo, o que recebi em 1962, das mãos de meu pai, nascido em 1926, não existe mais. Pois se o planeta dele tinha Buster Keaton e Buñuel, o meu, em 62, tinha John Coltrane, Monk e Miles. Aliás, Miles nascido em 1926. No mundo em que nasci havia Warhol, Kerouac, Nabokov, Nureyev, Miró, Dali, Bergman, Fellini, Peckimpah e tanta coisa que voces ainda lembram, mas não viram.
Havia tempo porque a gente tinha de inventar o que fazer. Hoje voce faz o que está pronto para voce. Pensa nisso. ---------------- Em 1926 TUDO o que conhecemos e usamos estava por fazer. O cinema ainda teria som, cor, tela grande, nudez, violência, CGI. As casas ainda não tinham TV, geladeira, e mesmo rádio. Na literatura ainda iria nascer o existencialismo, o beat, o novo romance, a escrita automática. Em 26 o surrealismo estava por nascer. Na música o jazz começava, ninguém conhecia blues e tanta coisa estava pra ser inventada! Gershwin e Cole Porter criando em seu auge. ---------------- E hoje?