O MUNDO DA AVENTURA
Quando eu tinha uns 9 anos de idade, era 1971, ir ao extremo oeste de São Paulo era uma aventura. O Mato Grosso tinha regiões sem registro em mapa e lugares como o centro da Asia e certos pontos da Africa eram ainda um mistério. Sem câmeras em satélites, a Amazonia era um mundo desconhecido. Isso fazia com que livros de aventura pudessem ser ainda escritos de um modo onde a aventura era razoavelmente próxima. Possível. Para uma criança, andar pelo Embu ou pelo Morumbi parecia um ato heroico e para um adulto, desde que corajoso, havia a chance de se embrenhar na Patagonia ou no Alasca. Sem GPS. Sem celular. O fim do "TERRITÓRIO INEXPLORADO" levou a aventura para o espaço sideral ou para outras dimensões. Mas há aí uma imensa diferença. Em 1920, tendo coragem e dinheiro, voce poderia ir de trem e depois a cavalo ao Mato Grosso. O centro da Africa, zona desconhecida em 1920, dependia de rifles e cavalos para ser invadida. Mas voce, nem eu, nem ninguém fora da Nasa ou do mundo de Elon Musk, irá sair em um foguete rumo à aventura. A aventura exploratória, desde Marco Polo, ou antes, desde Alexandre, a mais fascinante aventura, deixou de existir. Não há mais civilização nenhuma a ser encontrada e paisagem nenhuma que não tenha sido fotografada. Isso leva o escritor ou o produtor de cinema a imaginar aventuras em 2545 DC ou no planeta XZ234675. Creia, saber que havia uma região, entre Iguape e Registro, ainda com indios e onças, sem luz elétrica e sem estrada, era bem mais legal. -------------------- H. Rider Haggard escrevia em fins do século XIX sobre terras africanas e asiáticas. Estou lendo Ayesha e é bom, muito bom. Ele escreve como se tudo fosse perigoso, misterioso, secreto... e era. Ayesha fala sobre dois amigos que vão ao Tibet em busca de um sonho. E passam 20 anos nessa expedição. Era o tempo de Richard Burton e do Marechal Rondon aqui no Brasil. De exploradores ingleses se perdendo no interior do Pará e sendo comidos por tribos canibais. O planeta todo parecia um cenário a ser descoberto, uma aventura a cada 500 km. Ler boas aventuras de então nos recorda esse mundo maravilhoso.