HUNKY DORY - DAVID BOWIE. POR QUE ELE HOJE É CONSIDERADO SEU MELHOR DISCO?

Já aviso, Hunky Dory não é meu Bowie favorito. Prefiro muito mais Low, Diamond Dogs, Lodger, Young Americans e mesmo Station to Station me soa muito mais fascinante. -------------- Fazia, creia, uns 20 anos que eu não ouvia este disco. Então hoje o reouvi. Eu o escutava muito em 1989, 1990, época em que foram lançados seus discos em edição japonesa, depois parei. Ouvindo hoje algumas coisas me surpreendem: Primeiro: É basicamente um disco acústico. Segundo: a beleza do piano de Rick Wakeman ( pena não terem trabalhado juntos mais vezes ). A sequência das 6 primeira faixas é imbatível. Poucos, muito poucos discos, são tão superlativamente belos como aqui, nessas 6 faixas. Changes, Oh you pretty things, Eight line poem, Life on Mars, Kooks e Quicksand, minha favorita, são melancólicas, solitárias, belas, diáfanas. Bowie é um jovem inglês, em 1971, cantando em seu flat, violão, tentando se entender e entender o que o cerca. É um quase derrotado lançando sua última carta. Nunca mais ele cantou assim. E a preferência de 2023 por este disco reside nisso: nosso tempo se identifica com esse jovem isolado. O super artista ambicioso de Low nos incomoda. É um tipo anti 2023. Já o Bowie de Hunky Dory parece ser um cara de agora. Mas não é. Bowie é bem maior que qualquer artista POP que trabalha hoje por aqui. Ele é uma outra coisa. --------------------- O piano de Wakeman pontua todas essas músicas. Seu dedilhado delicado dá brilho e ângulos ousados às canções. É um acerto absoluto. O problema de Hunky Dory é que após o pico atingido em Quicksand ele cai demais. O cover de Newley, Fill your heart anuncia o que parece ser um outro disco. Um outro Bowie. Andy Warhol, uma homenagem em estilo Dylan, é apenas comum, Song for Bob Dylan é indigna do mestre ( e comete o erro de dizer que a voz de Dylan é sad and blue...ora David...ela é angry and hungry ). Bowie se torna aí um tipo de Ian Hunter, Mott The Hoople na veia. Depois vem a estupenda homenagem à Lou Reed, Queen Bitch, riff que cita Sweet Jane, a parceria Bowie Ronson dando as caras enfim. Bewlay Brothers é bem chatinha. -------------------- Quando ouvi este disco a primeira vez senti o mesmo que hoje: são dois discos enfiandos em um só. Durante seis faixas é David no quarto com o piano de Wakeman compondo milagres de beleza melancólica. Depois é Bowue homenageando seus ídolos em faixas não mais que médias ( fora Queen Bitch, que é brilhante ). Ziggy Stardust nasce nessa mescla. Ele seria a união dos dois lados, aquele de Quicksand e de Queen Bitch. ------------------- Belo tempo para se ter 15 anos em Londres. Após este disco, as lojas seriam invadidas por Lou Reed com Transformer, o primeiro do Roxy Music, T. Rex vendendo como Beatles e mais Gary Glitter, Mott The Hoople e Sweet. Uma festa. Nunca mais foi assim. Hunky Dory é um adeus dado no princípio. Triste como Bowie sabia ser.