EDUCAÇÃO E INFÂNCIA

Um aluno foi retirado da sala de aula. Havia jogado uma bola de papel na cabeça da professora. Ao ser levado ele repetia a frase: "Quem ela pensa que é?" ---------------- Pessoas modernas gostam de dizer que uma coisa nova pode estar nascendo. Quando perguntamos o que seria essa novidade elas dizem ainda não saber, mas que ela virá. Observe como é fácil dizer isso: uma coisa está nascendo, mas não sei o que é. Mas pode crer em mim, está nascendo. ------------ Falo isso porque não há nada nascendo para substituir a educação. A escola. O que existe é uma falsa crença dos progressistas de que alguma coisa, um milagre?, irá cair dos céus e fazer existir algo que substitua a antiga escola. Como diria o velho e "fascista" Paulo Francis: Waaaaaalllll........ ---------- Desde que o mundo existe, seja no ocidente ou no oriente, seja na cultura grega ou africana, educação é baseada em autoridade. Essa autoridade pode ser exercida de modo rígido ou amigável, de igual para igual ou numa cátedra, de modo alegre ou grave, mas sempre tendo por base a autoridade de quem detém conhecimento. Esse conhecimento sendo adquirido por experência ou por educação. Sem que se aceite uma autoridade, sem que se reconheça que alguém sabe mais que voce, não há a menor chance de se manter uma escola real. O que se pode fazer é fingir que ela existe, exatamente o que acontece hoje. Inclusive na escola de 4 mil reais que voce paga para sua filha. --------------- O professor está falando de porcentagens. Ou de história medieval. E imediatamente voce dá um Google e vê aquilo que voce DESEJA saber. Ou então recorda o filme visto semana passada que falava do assunto e então voce pensa: Eu já sei! -------------- O professor perde sua função. Ele pensa ser o que? ------- O diagnóstico é esse e só esse. Não se aceita autoridade de quem não tem um mérito maior que o seu. Não se pode ter mérito em um mundo onde o conhecimento, aparentemente, está a um clic. O professor tenta conquistar o aluno via amizade, via bom humor, via cumplicidade, tenta criar uma relação de iguais. É isso o máximo que ele pode tentar conseguir. Mas sempre haverá o risco de ouvir: Quem voce pensa que é? ------------- A escola se tornou mais uma das muitas fantasias que aceitamos sem discutir. Assim como o jornal finge informar a verdade e políticos fingem legislar, a escola finge ainda ensinar. Trabalho dentro dela e sei o que acontece. A verdade não se encontra via intermediários, é preciso ir ao mundo sólido e real. Ela não existe mais. Jovens aprendem o que desejam saber por meios que não são os da escola e entram na faculdade aprendendo apenas o necessário para exercer uma profissão. Tudo isso à margem do ensino abrangente, fora da alçada do professor, fora daquilo que se conhecia como "sala de aula". -------------- Aliás, é preciso dizer que o professor é hoje nada mais que uma babá de adolescentes. ----------- Como falo no texto abaixo, esqueça o século XX. A escola não é mais aquela de 1970 ou mesmo de 1990. ---------------- Falar da infância é ainda mais simples. Crianças usam seus sentidos afiados, sua mente em construção, para captar impressões da vida ao redor. O primeiro cheiro de queimada. O primeiro trovão. A canção que hipnotiza. O cheiro da grama molhada. O azul mágico do céu de outono. Todos esses contatos, incluindo dores e risos, vão dando à criança seu passaporte para o mundo real, despertando seu cérebro, construindo sua identidade. Mais importante, são nos momento de vazio, as longas tardes sem nada para fazer, em que ela fica de ouvidos atentos captando o silêncio, vendo o suspense do que vai acontecer, esperando o tempo que chega e passa, são nesses momentos que ela se faz como SER INDIVIDUALIZADO. É ao pegar uma joaninha do chão, ao ver um rato correr na mata, ao abraçar o pai, que ela se afirma como ela-mesma. Age e sente como um ser único dentro de meio cheio de COISAS REAIS. ------------- Pois isso não é mais assim. Ela ainda vê o rato correr e ouve o trovão, mas essas experiências significativas são agora MACULADAS pela pressa dos horários marcados ( creche e cursos ), pela distração do smartphone, pela hiper excitação de jogos, telas e musiquinhas. Não há o solo fértil do silêncio e o adubo do espaço sem nada. A preguiça que constroi. São crianças que aos 10 anos de idade já sentem saudade de uma infância que nunca tiveram. ----------- Bem vindos ao séulo XXI.