A BELEZA SALVARÁ O MUNDO....CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS FILMES QUE TENTAM SER BELOS

Me admira o fato de como a esquerda vive em um mundo completamente diferente do meu. Então, se voce for de esquerda, provavelmente voce não sabe que uma das frases mais amadas pela direita, e que virou mania na rede, é aquela que diz : NADA É MAIS REVOLUCIONÁRIO NO MUNDO DE HOJE QUE A BELEZA. Claro que como esquerdista voce deverá perguntar: DEFINA BELEZA. Nossa resposta é simples: SUA PERGUNTA É FEIA. O fato de voce precisar que alguém te explique o que é belo prova que desse assunto voce nada sabe. Touché! --------------------------- A quantidade de gente hoje, no meio do cinema, que diz amar os filmes de Michael Powell serve apenas para o desvalorizar. É muito provável que o amem pelo motivo errado. Ou pior, digam que sentem amor quando na verdade querem apenas provar ter raízes cinematográficas. Scorsese o amou muito antes da moda. Nos anos 70 ninguém lembrava de Powell porque politicamente ele é direitista. Mas Martin já entendia que a beleza é o bem supremo. O americano nunca mais deixou de crer nisso. Powell felizmente morreu velho. Houve tempo de ganhar homenagens. E se casou com a montadora de Scorsese, a multi premiada Thelma Schoomaker. ( Se escrevi errado é porque voce sabe quem ela é ). ------------------- Rubens Ewald Filho odiava Powell. Ele dizia que o inglês era brega, datado e risível. Sempre gostei do anti intelectualismo de Rubens, ele gostava de filmes por serem bons e apenas por isso. Mas nessa ele nada entendeu. Powell é acima de tudo bonito e logo em seguida divertido. ------------------------ Ontem revi CONTOS DE HOFFMAN, pela quarta vez. Quando o asssiti pela primeira vez, uns dez anos atrás, dormi no meio da exibição. Na segunda tentativa gostei muito e na terceira me emocionei. Ontem pensei no ROXY MUSIC. ------------------------- Roxy Music é uma banda inglesa de rock progressivo e pop. Em seus melhores discos voce nunca sabe se eles estão falando a sério ou se estão brincando. O alvo deles é sempre a beleza, e, como todo homem que entende o que o belo seja, eles jogam ao lixo o pudor e o bom gosto. Bryan Ferry e seus asseclas não temem ser brega. Eles sabem que a beleza moldada em bom tom nunca é totalmente convincente. Se é para chorar, o Roxy derrama rios de dor, e se é pra ser chique, eles misturam tuxedos com purpurina. Os clips de Ferry nos anos 80 e 90 são incrivelmente lindos. E soberbamente bregas. Auto confiança. Ferry é formado em artes plásticas, ele conhece Klimt. --------------------- CONTOS DE HOFFMAN é o maior clip de Bryan Ferry já feito e é a mais bela capa do Roxy Music imaginada. Powell e seu camarada, Pressburger, sempre em dupla, Powell dirigia, Pressburger produzia, os dois escreviam, usam as duas formas de arte mais demodé do século XX: Opera e ballet clássico, e ousam fazer um filme que é um desfile gay de afetação e breguice explícita. É lindo, e por isso é profundamente revolucionário. ------------------------ Scorsese ousou dizer, mais de uma vez, que entre 1942-1952, Powell e Pressburger fizeram a sequência de filmes mais ousada de TODA A HISTÓRIA DO CINEMA. Nem Bergman em 1954-1968 ou Godard em 1959-1967 foram tão longe. Porque isso? ---------------------------- Nessa sequência de filmes não há duas obras que se pareçam. Eles vão de contos das mil e uma noites à romance espiritualista, filme sobre religião e fé e filme sobre o sentido da arte, filme sobre guerra e filme sobre viagem interior. Todos os gêneros, todos os estilos, mas sempre dentro do mundo criado pelos dois, Powell e Pressburger ( assinavam The Archers ): Beleza e fantasia, nobreza e sonho. ------------------------------- CONTOS DE HOFFMAN não hestia em usar pérolas penduradas em óculos cor de rosa, batom e lamê, sedas e veludos às toneladas, penteados esquisitos, vapores e cores berrantes, efeitos sonhadores. É uma busca de beleza epifânica sem trégua. A flecha viaja e o alvo a espera. ------------------- THomas Beecham, talvez o maior maestro da história inglesa rege Jacques Offenbach. Hoffman é uma opereta, e o fato de Powell não ter optado pelos mais "finos" Mozart ou Verdi diz muito sobre sua arte. Ele busca a imagem cinematográfica. Não importa onde. --------------------------- A música é bela, às vezes divina, mas jamais complexa. È o pop do seculo XIX. A fotografia, technicolor farto e generoso, é de Christopher Challis. Moira Shearer dança, Ashton faz a coreografia, Ludmila Tcherina tem uma beleza imorredoura. -------------------- Eu não gosto de ballet clássico e ainda não aceito a ópera, e mesmo assim amo este filme. Porque ele não faz sentido. Não é elegante. Não exibe filosofices. É apenas e tão somente bonito. E é dos poucos filmes que realmente atingem o mundo onírico. É um vasto sonho. E sonhos meu bebê, são bregas. --------------------------------- Depois, com insonia, assisti FANTASIA, o de 1940. Como já esperava, Paul Dukas, Mickey e o Aprendiz de Feiticeiro são a melhor coisa. Stravinsky quase chega lá. E Beethoven é assassinado. A Sexta Sinfonia com unicórnios coloridos, arco íris, crianças com bundinhas de fora, centauros atléticos e centaurinhas de 13 anos, a natureza escorrendo mel e a bondade fake mandando nesse mundo de algodão doce? Deus meu! Eis o mundo PC de 2021 em 1940 !!!!! Quase vomito vendo tamanha bobagem. Pobre Beethoven....