ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD...QUENTIN TARANTINO

   1968 teve 2001 de Kubrick. Teorema de Pasolini. Planeta dos Macacos de Schaffner. E O Bebê de Rosemary de Polanski. O polonês era o diretor mais quente entre os bacanas. E sua esposa, Sharon Tate, era vista como sex symbol certo para os anos 70. Sharon havia feito apenas uns 4 filmes. Polanski e Hollywood eram totalmente apaixonados por ela. E então, grávida, ela é morta em casa, num ritual satânico feito por Charles Mason e sua família. ( A família era um bando de teens hippies ). O filme não é sobre isso.
  O filme é sobre o fim de uma era. Um tempo que nasceu mais ou menos em 1956 e durou até 1968. São os anos 60 inocentes. Batman na TV. Séries de faroeste ( chegou a ter 42 em produção ao mesmo tempo ). Tempo de Monkees. Beatles sem brigas. James Bond de Sean Connery. Tarantino ama esse tempo. Onde ainda se produziam os últimos filmes de Hawks. Onde havia dinheiro para aventuras de John Sturges, John Frankenheimer, ou policiais classudos com Steve McQueen.
  Em 1968 tudo mudou. Os hippies e as drogas em porções elefantinas vieram com tudo e a inocência se foi. As roupas também ficaram mais feias. As pessoas ficaram mais feias. Sharon Tate é a inocência que se vai. Trucidada com um filho que nunca vai nascer.
  Tem mais. Leo di Caprio é o ator feito no fim dos anos 50 e que em 68, provavelmente ainda na fase dos 35 anos, já é tratado como um vovô. Ele não entende os novos tempos, não quer entender e sabe que está acabado. Brad Pitt, magnífico, é o cara que anuncia os anos 70: ele se vira. Ele é violento. Ele é só ego. Brad sobreviverá como aquele que se move à margem de 68, fora do palco central. Nem decadente e longe de estar em casa. Ele é o cara de 1977 em 1968.
  Leo é a TV de 1966. Jamais dará o salto para 68. Uma legião de atores não deu. Bandas também.
  O filme não me agradou. Cheguei a sentir um profundo tédio. Adorei a gozação com Bruce Lee. Ele era daquele jeito mesmo, Hiper ego. Adorei a breve cena com Steve McQueen. O ator lembra ele e a fala é soberba. Steve era como o personagem de Brad Pitt, Estava lá em 68, famoso, o maior astro de então, mas ele nada tinha a ver com aquele mundo. Steve era também um cara de 1977.
  O que me entediou foram as longas cenas com filmes dentro de filmes. Não importa como é o western de Leo. Não importa. Queremos a vida deles no agora do filme. Em compensação, há uma cena magistral no reduto hippie da família Mason. Suspense de Hitchcock, Tarantino prova que poderia ir nessa toada em seu próximo filme. Suspense. Clima. Sem sangue. Nada gore.
  Hippies do mal. Tolos e ruins. Vemos seus descendentes pelas ruas até hoje. São aqueles adolescentes enfezados e sempre com ódio. Prontos para atear fogo em algum nazista ou porco. A cena á assustadora.
  Charles Mason tinha uma medíocre banda hippie. Foi recusado por Terry Melcher, produtor dos Byrds. Terry morava numa mansão em Hollywood. Terry alugou a casa para Polanski. A família de Mason trucidou todos na casa achando que eram Terry e seus amigos. Tarantino vai por outro caminho. Ele dá uma modificada. Mas o filme perturba em seu fim aberto...Leo vai para a casa e sabemos o que vai ocorrer lá....Leo vai morrer. Sharon vai morrer.
  Margot Robbie está maravilhosa quando vai ver seu filme no cinema. Sharon era aquilo: a garota pré hippie. A menina de 1966. Apenas alegria, cor e fé na vida.
  Disse que senti tédio. Mas essa é a magia do cinema. No dia seguinte lembro do filme como algo bom, forte, diferente.
  Há filmes que durante duas horas nos empolgam. E depois de poucas horas os esquecemos. E existem filmes que não nos empolgam. Até nos decepcionam. Mas que deixam alguma coisa dentro de nós que dura.
  Este é um desses.