A MORTE DO GOURMET - MURIEL BARBERY...UM LIVRO LINDO.

   O que nos agrada em um livro? Originalidade, arte em escrever bem, informações, verdades, fantasias, símbolos, impacto...Um livro pode ter tudo isso e ser chato. Ou muito ruim. Um livro pode não ser nada original, nada informativo, e mesmo assim ser brilhante.
  Gosto de dizer, para livros e para filmes, para música e para a arquitetura, que eles são bons por serem bonitos. Eis um comentário nada cool, bem fora de moda. Dizer que um filme é bonito é visto hoje como dizer que ele NÃO é relevante. A beleza pura se tornou algo como um espírito ou a honra: um valor arcaico.
  Mas, que coisa né, continuamos a nos guiar por ela. A força da beleza independe de moda ou de nossa opinião formal. No âmago das nossas opiniões é por ela que nos guiamos. Voce pode não ligar para a feiúra do Minhocão e falar que sua região é "vitalizadora" ou "instigante", mas no quarto voce prega um poster de Van Gogh e um pano da India. A beleza brota nas fendas de suas frases "ferinas".
  Este livro é lindo. E isso é tudo. Me deu o prazer que só a beleza dá. O prazer calmo e insaciável, um prazer de gozo que não se aquieta mas que ao mesmo tempo acalma. A beleza é o certo, o fim, não o meio. O alvo da arte não é a verdade. É o repouso. A conclusão. É o fim. E esse fim pode ser mais um começo.
  Um crítico de gastronomia morre. E no quarto, em sua agonia, ele tenta achar sentido em sua vida. Para isso, recorda seus grandes momentos diante de um prato ou de um copo. Ao mesmo tempo, o livro dá voz às pessoas que o conheceram. E cada uma o vê de um modo.
  Muriel escreve à francesa. Com requinte e amor à lingua. Sua prosa tem suco. Gosto de falar mal dos escritores franceses, mas a prosa da França é como seu cinema: quando acerta é divina. Pena que erre tanto. Erre tanto por vaidade. Por excesso de amor à sua habilidade.
  Amei este livro. Muriel é uma boa autora. Dá vontade de reler.