O VICE REI DE UIDÁ- BRUCE CHATWIN

   Curto e objetivo. O estilo de Chatwin é assim, incisivo. Foi uma das maiores promessas dos anos 80, mas, que pena, morreu cedo. Ele corria mundo escrevendo. Seus livros são ambientados na Patagônia, no deserto da Austrália, na África...
   Ele veio ao Brasil para pesquisar a vida de um traficante de escravos de 1815. O livro começa por volta de 1940, enterro de um antepassado, povo africano que se acha brasileiro ( ser brasileiro é chic ). Se vêm como uma estirpe nobre, "quase branca". Herdeiros do grande vendedor de escravos.
   Então Chatwin narra a saga do tal "herói". Caboclo do sertão nordestino, duro, cruel, miserável, que acaba indo à "Ouida" ( Uidá ), na África, reino entre Nigéria e Costa do Marfim. Lá ele vende gente, mata, enriquece muito e morre de solidão. É acima de tudo um pária. Útil, mas sempre negado por portugueses, brasileiros e africanos.
   O livro revela em cenas cruas a crueldade mais abjeta. Todos são grandes tiranos, todos são assassinos sujos. O livro é feito de ironia, sangue e sexo. E morte, morte doentia.
   Lançado em 1980, abriu a melhor fase do jovem Bruce Chatwin. Sua obra-prima é no Rastro dos Cantos, mais ambicioso. Este chega perto em seu estilo rude e viril. Um belo livro.