O EROS DA VIDA

   Vivemos então essa divisão. De um lado o selvagem, um homem que deseja e vai atrás daquilo que quer, e de outro aquele que para poder viver dentro da sociedade aprendeu a controlar seu impulso. Rousseau sabe e fala: Não temos como saber o que seria esse desejo primordial. O homem original está tão distante de nós que é impossível sequer imaginá-lo. O que podemos saber é que a religião, a politica e todo dogma é um modo de civilizar esse homem. Mas há um exagero nisso. Ao transformarmos religião em igreja matamos todo impulso puro e criativo do ser, ao transformarmos politica em fanatismo fazemos o mesmo e assim também acontece com todo dogma, seja científico, filosófico ou educacional.
   A criança é puro egoísmo. Ele quer e quer agora. Ela quer proteção e comida e provávelmente esses são nossos impulsos mais fortes. Corpo. Na puberdade irrompe o sexo e a cabeça passa a pensar TODO O TEMPO em sexo. É nesse momento que a educação se mostra mais desastrosa. No momento em que tudo no jovem se volta para os mistérios do amor e do sexo, tudo o que se lhe oferece é conhecimento frio e anti-sexual. ( Um adendo à Rousseau é dizer que no século XXI o que se oferece é pornografia, violência e educação sexual dada por frios mestres assexuados ). Voltando a Rousseau, toda educação nessa idade deveria vir acompanhada do conhecimento da sedução. Mestres DEVEM ser sedutores. Carismáticos, envolventes, o aluno precisa compreender o mecanismo do agrado, do prazer, do que seja conviver civilizadamente com o desejo. Isso é o erotismo.
   O erótico é o meio de se tentar harmonizar o homem primitivo ( um estuprador ) com o homem civilizado ( um pensador ). No ritual do deus Eros, em todo discurso erótico ( e não existe erotismo sem o dominio do discurso de Eros ), o que se vê é o prazer de um acordo, o acordo de paz entre o muito básico e o muito complexo, o simples e o confuso, aquilo que é pura carne e aquilo que é espírito. É na puberdade que o jovem tem a chance de criar seu espírito, voltar-se para as coisas da alma e SUBLIMAR seu desejo ( não no ralo sentido de Freud, mas no sentido do SUBLIME, ou seja, transformar o banal em algo individual ). Pois Eros cobra que cada um crie e dê vida a sua individualidade e nada é mais contrário a uniformização do tempo moderno.
   Pois o homem erótico não se conforma a ser soldado, a ser um membro da igreja, a ser um simples caso da ciência. Ele se cria, se faz e se dá ao amor. Do seu modo. Dentro do possível. A pobreza do discurso cria homens sem erotismo, presos dentro da banalidade do ordinário. 
   Allan Bloom usa 130 páginas para falar dessas teorias de Jean-Jacques Rousseau. E deixa claro que não concorda necessariamente com todas. Mas fica muito claro que Bloom concorda com aquilo que aqui transcrevo. O livro se chama AMOR E AMIZADE e precisa ser lido. Ainda não o terminei, leio-o com vagar numa relação erótica com o texto e o papel.
  Sublime, não?