Fico sabendo só hoje que Seamus Heaney morreu no fim de agosto. Irlandês, o terrorismo irlandês dos anos 60/70 marcou toda sua obra. Li Heaney em 1998, e como ainda vou reler não falarei dele agora. Seria tolo. O que recordo é sua escrita surpreendente. Onde voce espera mistério surge o cotidiano, onde o dia-a-dia nasce o inefável. A Irlanda tem os nobéis de Shaw, Yeats, Beckett e Heaney. Não tem Joyce e muito menos Wilde.
Estou aqui com a lista de todos os ganhadores do Nobel. Se voce desconhece Heaney, saiba que há muita gente não só esquecida como não relevante. Seamus é relevante. Quem lembra de Sully Prudhomme, o primeiro vencedor? Em 1901 o autor mais famoso do mundo era Tolstoi. Ou talvez Mark Twain. Escolheram Sully. Os primeiros dez anos são assustadores. Apenas Selma Lagerlof permanece relevante. Não vou delirar e dizer que poderiam ter premiado Machado de Assis. Ninguém o conhecia fora do Brasil. Como seria um absurdo querer que Lorca ou Pessoa tivessem ganho. Só se tornaram conhecidos pós-morte. Mas em 1910 podiam ter premiado Thomas Hardy. Daria tempo em 1902 de premiar Tchekov. Preferiram escolher Heyse e Kipling.
Nos anos de 1910-1920 a coisa melhora um pouco. Temos Tagore e Maeterlinck, mas foi o tempo de Proust! Rilke! Kafka! Tudo bem, seria impossível ter conhecimento de Kafka então, mas Proust em lugar de Heidenstan e Rilke tomando o prêmio de Gjellup, que beleza!
Os anos 20 foram os melhores. Na lista dos vencedores temos Knut Hamsun, Anatole France, Yeats, Shaw, Henri Bergson, Thomas Mann e Sinclair Lewis. Lewis é o primeiro americano a vencer. Deveria ter sido Twain. Fitzgerald nunca venceu. Yeats foi o primeiro irlandês. E Bergson o primeiro e um dos poucos filósofos.
Nos anos 30 o nível cai de novo e sobe no pós-guerra. É quando premiam Gide, Hesse, Mann, Faulkner e Eliot. Raras vezes o nível do prêmio foi tão alto. Russel é o segundo filósofo a vencer, em 1950 e Heminguay vence após Faulkner, em 54, assim como Sartre vence depois de Camus, Camus ganha em 57 e Sartre em 64.
Nesse tempo a lista dos injustiçados cresce. Laxness em 55 no lugar de Borges. Ivo Andric em 61 e não Nabokov. John Steinbeck vence em 62, mas não Tennessee Willians. Patrick White e nada de Graham Greene. Harry Martinson e não Philip Roth ou John Updike. A lista é imensa! Premiam Jelinek e esquecem Iris Murdoch. Ignoram Wallace Stevens, Auden, Kaváfis...
Mas têm grandes acertos. Kawabatta em 68, Bellow em 76, I.B. Singer em 78. As vitórias de Paz, Szymborska, Naipaul...A tardia premiação de Pinter e de Golding.
Claro que há uma má vontade com os americanos. Basta dizer que nos últimos 40 anos apenas Saul Bellow e Toni Morrison venceram. Talvez possamos considerar Singer um americano, então são três. Justo? Penso que sim. Edward Albee ou Gore Vidal ficariam mal nessa lista? Odysseus Elytis venceu em 1979. Quem é Elytis? E Wole Soyinka? Mesmo Claude Simon, vencedor de 1985, quem o estuda hoje?
A lista completa voce acha em Nobel Prize. com.
Nela voce não encontrará Calvino, Lawrence, Waugh, Pound, Dylan Thomas, Vallejo...